Morreu o repórter fotográfico David Clifford
Jornalista foi encontrado morto na manhã desta segunda-feira em casa. Funeral marcado para quarta-feira, às 11h, em Alcobaça.
David Clifford André Libório foi encontrado morto na sua casa em Lisboa, desconhecendo-se ainda as causas da morte. O funeral está marcado para quarta-feira, às 11h, na casa mortuária de Alcobaça, junto ao cemitério. Ao final da tarde desta terça-feira, o corpo estará em câmara ardente naquele espaço.
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David Clifford André Libório foi encontrado morto na sua casa em Lisboa, desconhecendo-se ainda as causas da morte. O funeral está marcado para quarta-feira, às 11h, na casa mortuária de Alcobaça, junto ao cemitério. Ao final da tarde desta terça-feira, o corpo estará em câmara ardente naquele espaço.
Adriano Miranda, fotógrafo do jornal e professor de Fotografia, teve Clifford, ou Dave, como era tratado por colegas e amigos, como aluno no Ar.co, escola de arte e comunicação visual. “Ficámos amigos. Ele tinha andado em Pintura e Escultura [na ESTGAD, nas Caldas da Rainha] mas a paixão dele era a fotografia. Apanhei-o logo no início, percebemos logo que tinha muito talento. Chegou e criou uma grande simpatia no grupo”, recorda.
Miranda já era fotojornalista do PÚBLICO e acabou por ser ele a abrir-lhe a porta do jornal. “Acompanhei sempre o percurso dele e quando o Luís Ramos, na altura editor de fotografia, precisou de um estagiário sugeri-lhe o Dave.”
Clifford ficou. “Era uma pessoa alegre, bem-disposta no trabalho. Nem sempre era fácil terminar uma conversa com ele... Era indisciplinado. Podia chegar alguém e ele levantar-se, ou começar a cantar. Para além de ser um excelente fotógrafo, com trabalhos de que todos nos lembramos, era um excelente amigo, um óptimo companheiro.”
Não há fotógrafo que escolha ficar sentado à secretária em vez de estar na rua, de máquina na mão, mas a certa altura Dave teve mesmo de o fazer. Ainda a viver em Alcobaça, com os pais, vinha todos os dias de carro para o jornal, então na Quinta do Lambert. “O Dave teve um acidente brutal e esteve imenso tempo de baixa. Voltou ao trabalho ainda de canadianas e perna engessada. Como fazíamos muito trabalho de estúdio, ocupava-se disso enquanto recuperava. E começou a ajudar na edição.”
Quando Luís Ramos saiu do PÚBLICO, Adriano Miranda substituiu-o como editor. “O trabalho era muito extenuante e eu propus que o Dave fosse subeditor. Dividíamos as tarefas a meias.” Quando o próprio Adriano Miranda deixou o cargo, foi Clifford que o substituiu.
Viajou muito e era por estrada que preferia fazê-lo. Numa 4L com um amigo, houve anos em que as férias o levaram à China, à Mauritânia ou a percorrer parte da Ásia Central. Dizia que nada ensinava tanto sobre um país ou zona do mundo do que atravessar uma fronteiras terrestre, “assistir em directo ao absurdo”. Com o PÚBLICO, esteve em Omã, Moçambique, Espanha, Taiwan ou Afeganistão, e palmilhou Lisboa e o país em campanhas eleitorais, reportagens de sociedade ou a fazer retratos para a secção de Cultura.
“Conversar com ele era uma maravilha. Aprendia-se sempre, sobre máquinas, equipamento… E contava imensas histórias. Foi uma pessoa que nos marcou a todos”, diz Adriano Miranda.
“Um dos mais importantes braços armados do fotojornalismo nacional. Fotógrafo delicioso, com uma fotografia clara e honesta, era uma das jóias da coroa dos fotógrafos da minha geração e acho que será para sempre”, escreve no Facebook o fotojornalista Tiago Miranda. “O David Clifford que eu conhecia era inconformado e crítico de um país desequilibrado, um país que nos rouba a todos um bocadinho, mais a uns que outros. O David que eu encontrava nos trabalhos, era o primeiro a defender o fotojornalismo, aquele com um F gigante, só lhe faltava dar cabeçadas e acho que só não as dava porque no fundo era um senhor.”
Uma história de que David e Adriano Miranda se riam muitas vezes tinha a ver com uma fotografia ainda dos tempos do Ar.co. “Ele fez uma fotografia de uma criança de costas a urinar, com a ajuda do pai. Estava um dia de sol e a ele fotografou a cena contra uma parede branca. Queria imprimi-la bem, apesar dos problemas técnicos, e andava sempre à volta daquela fotografia. Eu dizia ‘deixa estar, vai mas é fotografar outras coisas'. Mas ele não desistiu até conseguir uma boa impressão. Para mim, é uma fotografia emblemática. Porque o Dave era muito teimoso, sabia que ia conseguir e conseguiu.”
Desde que deixou o PÚBLICO, David Clifford colaborou com diários, como o i, ou semanários, como a Sábado. Actualmente, colaborava com diversas publicações e integrava a equipa de fotografia da revista Time Out.