Alunos não conheciam o poema de Sophia que saiu no exame do 12.º ano
Comissário do Plano Nacional de Leitura defende que os critérios de classificação da prova "devem ser muito amplos".
Chama-se Bach Segóvia Guitarra e foi publicado pela primeira vez em 1967. Sophia de Mello Breyner está incluída “numa lista enorme de poetas do século XX que figura no programa para o 10.º ano". "Muitos poemas destes autores vêm em todos os manuais, mas o que saiu no exame não”, indicou a presidente da Associação de Professores de Português (APP), Edviges Ferreira.
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Chama-se Bach Segóvia Guitarra e foi publicado pela primeira vez em 1967. Sophia de Mello Breyner está incluída “numa lista enorme de poetas do século XX que figura no programa para o 10.º ano". "Muitos poemas destes autores vêm em todos os manuais, mas o que saiu no exame não”, indicou a presidente da Associação de Professores de Português (APP), Edviges Ferreira.
É o que se passa, por exemplo, com os manuais editados pela Porto Editora, o principal grupo editorial na área da educação, segundo confirmou ao PÚBLICO o responsável pelo gabinete de comunicação da empresa. Sophia de Mello Breyner faz parte dos autores que podem ser estudados no 10.º ano, mas não integra o lote dos que são de leitura obrigatória ou seja, a abordagem da sua obra fica ao critério de cada professor.
No antigo programa, que esteve em vigor até ao ano passado, figurava numa lista de 15 poetas contemporâneos dos quais os professores teriam de escolher quatro ou cinco. No novo programa, que entrará em vigor no próximo ano lectivo, a sua obra também é proposta no 10.º ano, embora continue sem ser de leitura obrigatória. Neste novo documento, ao contrário do que sucedia anteriormente, explicita-se a obra que deve ser abordada, caso os professores optem por escolher Sophia de Mello Breyner Andresen. Trata-se de Navegações, publicada em 1983, da qual não faz parte o poema que saiu no exame de quarta-feira.
Para o coordenador do Plano Nacional de Leitura, Fernando Pinto do Amaral, o facto de um texto literário não ser do conhecimento dos alunos não deve impedir a sua escolha para figurar numa prova de exame: “Não me choca nada. É suposto que os alunos estejam preparados para lerem e interpretarem um texto, mesmo que não o conheçam previamente”. Alerta, contudo, que se deve ser “muito prudente” com os critérios de classificação dos exames de áreas como a literatura. “Têm de ser sempre muito amplos para permitir várias interpretações desde que o aluno as escreva bem e tenha boa capacidade de argumentação, mesmo que apontem para caminhos que não estão previstos nos parâmetros de correcção”, defende, lembrando a propósito que um poema, como este de Sophia, é sempre subjectivo (ver a propósito dos critérios de classificação o texto do crítico literário António Guerreiro).
Foi a primeira vez que num exame do 12.º ano foram avaliados os conteúdos dos dois anos anteriores. No dia da prova, a presidente da APP alertou que as duas perguntas de interpretação sobre o poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, que valem 40 pontos no total de 200, “ exigiam uma grande concentração da parte dos alunos e se isso não aconteceu podem não ter conseguido responder ao que era pedido”. “Espero enganar-me, mas penso que, por comparação a 2014, a média do exame de Português vai voltar a descer”, alertou.
No ano passado a média foi de 10,7 contra 8,9 em 2013, altura em que a prova coincidiu com uma greve geral de professores.
Matemática do 9.º para esta sexta-feira
Nesta quinta-feira, foi a vez do exame de Física e Química A. Estavam inscritos 51.129 alunos, mas 3519 faltaram a uma das provas que mais preocupam os estudantes, que em 2013 tiveram a classificação média de 7,8 e no ano passado 8,8. Nesta quinta-feira, a Sociedade Portuguesa de Química considerou a componente de química da prova “bem elaborada, coerente com o programa curricular e equilibrada na abordagem aos principais temas de aprendizagem”. Em relação ao grau dificuldade disse que foi “adequado”, mas também que neste aspecto não diferiu "de modo significativo dos exames dos anos anteriores".
A Sociedade Portuguesa de Física, também contactada pelo PÚBLICO, remeteu para esta sexta-feira a publicação, na respectiva página na Internet, de um parecer sobre o exame.
Nesta sexta-feira, mais de 90 mil estudantes do 9.º ano que já prestaram provas a Português fazem o exame nacional de Matemática. Em 2014 a classificação média a esta disciplina dos alunos internos subiu de 44% para 53% em relação ao ano anterior.
Normalmente o exame conta 30% para a classificação final, mas este ano, pela primeira vez, poderão repetir os exames numa segunda fase, caso chumbem na primeira, que termina esta sexta-feira. Nesse caso, já só serão tidas em conta as notas obtidas no exame, ou seja, quem tiver positiva fica aprovado. Esta segunda oportunidade foi estreada no 4.º ano em 2013 e alargada ao 6.º ano no ano passado.