Depois da derrota do Estado Islâmico, centenas de sírios regressam a Tal Abyad

Milhares de refugiados fugiram para a Turquia quando os combates se agravaram. Sem Tal Abyad, jihadistas perdem a sua maior linha de contacto com o exterior.

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Só durante a manhã, mais de 200 refugiados sírios regressaram a Tal Abyad vindos da Turquia Umit Bektas/Reuters

Ao cabo das últimas semanas, milhares de sírios fugiram de Tal Abyad para Akçakale, a menos de um quilómetro de distância mas já na Turquia, na tentativa de escaparem aos bombardeamentos aéreos e aos combates entre jihadistas e milícias curdas. A Turquia diz que só desde o início de Junho entraram 23 mil refugiados no país vindos de Tal Abyad. Agora, regista-se a situação contrária. 

“Volto para casa, deixei lá o meu marido”, disse Fahriye à AFP uma das refugiadas sírias que partiu nesta quarta-feira de Akçakale. Mas Fahriye, tal como outros refugiados, está ainda receosa. “Tenho ainda muito medo das bombas. Quem é que não teria? Também tenho medo do regresso do Estado Islâmico e vou decidir agora com a minha família se podemos ficar [em Tal Abyad].”

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Ao cabo das últimas semanas, milhares de sírios fugiram de Tal Abyad para Akçakale, a menos de um quilómetro de distância mas já na Turquia, na tentativa de escaparem aos bombardeamentos aéreos e aos combates entre jihadistas e milícias curdas. A Turquia diz que só desde o início de Junho entraram 23 mil refugiados no país vindos de Tal Abyad. Agora, regista-se a situação contrária. 

“Volto para casa, deixei lá o meu marido”, disse Fahriye à AFP uma das refugiadas sírias que partiu nesta quarta-feira de Akçakale. Mas Fahriye, tal como outros refugiados, está ainda receosa. “Tenho ainda muito medo das bombas. Quem é que não teria? Também tenho medo do regresso do Estado Islâmico e vou decidir agora com a minha família se podemos ficar [em Tal Abyad].”

As duas cidades fronteiriças estão de tal maneira próximas que de Akçakale se vê a bandeira amarela que as vitoriosas Unidades de Protecção Popular curdas (YPG) ergueram a meia-haste em Tal Abyad, na terça-feira, no lugar onde antes estava plantada a bandeira negra do autodesignado califado. As milícias curdas e rebeldes aliados procuram ainda minas e armadilhas explosivas que os jihadistas possam ter deixado para trás. Mas, segundo disse um porta-voz de uma das milícias das YPG à AFP, "as operações militares terminaram e a cidade está segura".

A campanha vitoriosa contra os jihadistas em Tal Abyad começou silenciosamente, de acordo com as declarações de um responsável da administração norte-americana ao diário The Wall Street Journal. Ao longo dos últimos dois meses, a coligação aérea intensificou os ataques sobre posições do Estado Islâmico na cidade à medida que, no terreno, as milícias curdas e aliados progrediam lentamente contra os extremistas. O autoproclamado Estado Islâmico, ocupado em defender as suas conquistas no Iraque, sobretudo em Ramadi e em Beiji, não se apercebeu que estaria prestes a perder o controlo de Tal Abyad, que até agora era considerada a mais importante linha de contacto e abastecimento do grupo extremista com o exterior.

A grande ofensiva contra os combatentes do califado aconteceu nas duas últimas semanas, o que despertou a maior onda de fugitivos para a Turquia. A coligação aérea atacou 23 vezes a cidade, mais do que o dobro de todos os bombardeamentos em Maio. Enfraquecidos, os extremistas perderam o controlo da cidade para as milícias curdas na terça-feira, ao fim de três dias de combates. “O Estado Islâmico estava tão concentrado em Ramadi e em Beiji que perdeu a noção da porta das traseiras”, afirmou um responsável norte-americano ao Wall Street Journal. “É uma vitória bastante significativa”.

Em termos estratégicos, a reconquista de Tal Abyad é ainda mais significativa do que a tomada de Kobani, outra cidade síria na fronteira com a Turquia que foi reconquistada aos islamistas através de uma operação conjunta entre os Estados Unidos, que comandam os bombardeamentos aéreos, e as milícias curdas no terreno. Tal Abyad era o principal ponto de passagem para combatentes estrangeiros que se queriam juntar ao grupo jihadistas e a maior linha de sustento para Raqqa, o grande bastião do grupo e a autodesignada capital do califado.