Tsipras chama criminoso ao FMI, oposição pede-lhe que evite a ruptura
Chefe do Governo deu sinais de abertura mas logo a seguir foi contundente nas críticas aos credores. Juncker disse que não quer saber do Governo grego.
Foi Stavros Theodorakis, líder do partido de centro-esquerda To Potami, que disse, numa afirmação não desmentida, que o chefe do Governo lhe confidenciou que ainda tem cartas para jogar. “Disse-me que há dois ou três gestos que pode fazer”, afirmou.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Foi Stavros Theodorakis, líder do partido de centro-esquerda To Potami, que disse, numa afirmação não desmentida, que o chefe do Governo lhe confidenciou que ainda tem cartas para jogar. “Disse-me que há dois ou três gestos que pode fazer”, afirmou.
Theodorakis, o primeiro de três dirigentes da oposição com quem Tsipras se reuniu, declarou que o primeiro-ministro aguarda “gestos equivalentes” por parte dos “amigos europeus”. “Ele espera que os europeus e os nossos parceiros em geral, das três partes [União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional], possam dar alguns passos para trás”, disse, segundo a AFP.
Tal como o To Potami, também os outros dois partidos ouvidos por Tsipras, a Nova Democracia, do ex-primeiro-ministro conservador Antonis Samaras, representada pela número dois, Dora Bakoyannis, e os socialistas do Pasok apelaram ao chefe do Governo para que evite a ruptura.
A nova presidente do Pasok, Fofi Gennimta, propôs mesmo, segundo o diário Kathimerini, a formação de uma equipa pluripartidária de negociadores para mostrar aos credores o compromisso da Grécia com reformas de longo prazo.
No início do encontro com Theodorakis, que as televisões puderam registar, Tsipras disse: “A questão-chave é obter um acordo viável. Não é uma questão-chave para o Governo, é uma questão-chave para o país. É essencial para acabar com este ciclo vicioso não ser forçado a concluir um acordo para acabar na mesma situação seis meses depois”.
Tsipras afirmou também que há divergências entre os credores na abordagem à situação da Grécia. “O FMI pede medidas difíceis e uma reestruturação da dívida, os outros [parte europeia] pedem medidas difíceis sem restruturação”, segundo a transcrição das suas palavras feita pela AFP. Já numa citação que lhe foi atribuída pelo Kathimerini, o chefe do Governo falou da dificuldade que é ter “muitos interlocutores” e disse: “O FMI tomou abertamente uma posição de apoio à reestruturação [da dívida], enquanto os outros insistem em medidas duras e deixaram de lado a questão da reestruturação”.
Mas tarde, ao falar aos deputados e ministros do Syriza, Tsipras adoptou um tom bem mais contundente para com os credores, aos quais atribuiu a intenção de “humilhar” os gregos. Segundo a agência Bloomberg, acusou o FMI de responsabilidade “criminal” e o BCE de ter uma actuação que conduz à “asfixia financeira”.
“Chegou o momento de as propostas do FMI serem julgadas não apenas por nós mas por toda a Europa […] Porque a Europa deve discutir não apenas a Grécia mas também o futuro da zona euro”, disse também, de acordo com a AFP.
“A insistência das instituições em prosseguir um programa que claramente falhou não pode resultar de erro ou zelo excessivo, o mais provável é que esteja ao serviço de uma motivação política”, afirmou ainda, acusando os credores de querem “fazer uma demonstração de força destinada a matar qualquer tentativa de pôr fim à austeridade”.
Em Bruxelas, um irritado presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, acusou entretanto o Governo de Atenas de deturpar as propostas da Comissão Europeia para resolver o problema da dívida grega. “Eu não quero saber do Governo grego. Preocupo-me, isso sim, com o povo grego, e em particular com a parte mais pobre da população grega, que está a sofrer mais do que outros na UE, devido ao ajustamento que teve que ser posto em prática", afirmou.
“O debate na Grécia e fora da Grécia seria mais fácil se o Governo grego dissesse exactamente o que a Comissão propõe”, disse também Juncker. Como exemplos de posições que “não são consistentes” com o que diz ter, ele próprio, afirmado a Tsipras, o presidente da Comissão garantiu, segundo a Lusa, que não defende um aumento do IVA nos medicamentos e na electricidade e que sugeriu “um corte modesto no orçamento da Defesa”.
A dificuldade de entendimento levou o primeiro-ministro finlandês, Juha Sipila, a colocar esta terça-feira a possibilidade de um acordo no curto prazo quase ao nível do sobrenatural. “A situação é difícil e o calendário apertado. Pode-se dizer que é preciso um milagre para ter o assunto resolvido na próxima semana… Mas é esse o objectivo de toda a gente”, disse, citado pela Reuters.