Feira do Livro de Lisboa vendeu mais do que em 2014
A generalidade das editoras está satisfeita com os resultados da Feira do Livro de Lisboa, que acabou este domingo. Se 2014 já tinha sido um ano de recuperação, há grupos editoriais, como a Presença, que viram as vendas subir uns inesperados 40%.
“A julgar pelo que os editores nos vão dizendo, quase todos venderam acima do ano passado, que já tinha corrido bem, ou no mínimo ficaram ao mesmo nível”, diz o secretário-geral da APEL, Bruno Pires Pacheco. “Uns aumentaram cinco por cento, outros dez, e a alguns correu ainda melhor”, acrescenta.
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“A julgar pelo que os editores nos vão dizendo, quase todos venderam acima do ano passado, que já tinha corrido bem, ou no mínimo ficaram ao mesmo nível”, diz o secretário-geral da APEL, Bruno Pires Pacheco. “Uns aumentaram cinco por cento, outros dez, e a alguns correu ainda melhor”, acrescenta.
Inês Mourão, do departamento de comunicação da Presença, confirma. Com 14 pavilhões, mais quatro do que no ano passado, as vendas do grupo, que detém chancelas como a Marcador, a Manuscrito ou a Jacarandá, aumentaram 40%, garante. Um resultado acima das melhores expectativas, para o qual contribuíram títulos como o mais recente best-seller de Ken Follett, Uma Fortuna Perigosa (Presença), Prometo Falhar (Marcador), de Pedro Chagas Freitas, D. Teresa (Manuscrito), a biografia romanceada da mãe de D. Afonso Henriques escrita por Isabel Stilwell, ou ainda O Reino Animal, de Millie Marotta, um caso de sucesso na nova moda de livros para colorir destinados a adultos.
Nenhuma das editoras ou grupos que o PÚBLICO ouviu quis avançar quanto facturou ao certo na feira, mas Bruno Pires Pacheco assegura que “cada pavilhão vende, em média, entre 12 e 15 mil euros”. Se a estimativa estiver correcta, e tendo em conta que, segundo este mesmo dirigente da APEL, participaram este ano 271 pavilhões, contabilizando apenas os que vendem livros, o intervalo andará entre 3,25 e um pouco mais de quatro milhões de euros.
Um resultado bastante interessante, se o compararmos, por exemplo, com uma feira do livro da dimensão da de Madrid, que este ano vendeu 7,9 milhões de euros, mais 6,1% do que em 2014.
Para lá das vendas, Bruno Pacheco salienta o aumento de pavilhões e de editoras e chancelas representadas (564 no total) e um programa cultural que, incluindo as sessões de autógrafos, apresentou 1610 actividades nos 18 dias de feira.
Também os grupos Porto Editora e Leya fazem um balanço bastante positivo da feira. As vendas da Leya ficaram “ligeiramente acima” das de 2014, diz o director de comunicação do grupo, José Menezes, que destaca entre os livros mais vendidos o último prémio Leya, o romance O Meu Irmão, de Afonso Reis Cabral, mas também Assim Nasceu Portugal, de Domingos Amaral, publicado com a chancela da Casa das Letras, ou os livros mais recentes de Alice Vieira e das autoras da colecção Uma Aventura, Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, todas elas editadas pela Caminho.
Outro sucesso de vendas foi a edição especial do Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, que a Dom Quixote publicou, ao “preço simbólico de 10 euros”, para comemorar o cinquentenário da chancela.
José Menezes acrescenta que a Leya levou à Feira do Livro de Lisboa seis mil títulos diferentes, dos quais 95% venderam pelo menos um exemplar. Um número que “diz muito da diversidade de géneros que as pessoas procuram na feira”, argumenta.
10 de Junho foi o dia mais forte
Também sem precisar números, a Porto Editora diz que “foi uma excelente Feira do Livro, na linha do que aconteceu no ano passado, quer ao nível de vendas quer no que concerne à participação dos leitores nas iniciativas” do grupo. O seu responsável de comunicação e imagem, Paulo Gonçalves, mostrou-se ainda satisfeito pelo modo como foi recebida pelos leitores a renascida Livros do Brasil, que a Porto Editora adquiriu recentemente.
Entre os livros que venderam melhor na feira contam-se os do autor de sagas juvenis Robert Muchamore (Porto Editora), mas também os mais recentes títulos de José Luís Peixoto, Galveias (Quetzal), José Eduardo Agualusa, O Livro dos Camaleões (Quetzal), ou Richard Zimler, A Sentinela (Porto Editora). Aos quais se soma um título que escapa ao predomínio da ficção, Para Onde Vai Portugal? (Bertrand), da historiadora Raquel Varela.
Francisco Vale, editor da Relógio D’Água, para quem a feira também “correu ligeiramente melhor” do que no ano passado, enumera entre os seus livros mais vendidos Um Homem Apaixonado, segundo volume do romance autobiográfico A Minha Luta, do norueguês Karl Ove Knausgard, A Amiga Genial, de Elena Ferrante, e as novas edições dos romances de José Cardoso Pires, prefaciadas por autores como António Lobo Antunes, Mário de Carvalho ou Gonçalo M. Tavares.
Tal como outros editores, Francisco Vale observa que o dia mais forte da feira foi desta vez o feriado de 10 de Junho, que terá mesmo corrido melhor do que qualquer um dos dias de fim-de-semana. O que sugere que esta Feira do Livro de 2015 poderia eventualmente ter tido ainda mais visitantes se o feriado municipal de Santo António, no dia 13, não tivesse calhado num sábado. Segundo Bruno Pacheco, as 25 a 35 mil pessoas que costumam passar pela feira num dia de semana saltam para 75 a 90 mil visitantes diários nos feriados e fins-de-semana.
Na Tinta da China, que facturou mais 10% do que na feira de 2014, o recordista de vendas foi uma revista: o número 5 da Granta portuguesa, dirigida por Carlos Vaz Marques. O pódio completa-se, segundo , diz Bárbara Bulhosa, com Esquerda e Direita: Guia Histórico Para o Século XXI, de Rui Tavares, e A Década dos Psicopatas, recolha de crónicas de Daniel Oliveira.
Também a editora Clube do Autor tem razões para estar satisfeita: as vendas aumentaram 20%, segundo a coordenadora de marketing Berta Lopes, impulsionadas pelo Atlas Histórico da Segunda Guerra Mundial, de Martin Gilbert, e outros livros da colecção de História, e pelos mais conhecidos autores portugueses da chancela, como Miguel Sousa Tavares, com Não se Encontra o que se Procura, ou Mário Zambujal, com Serpentina.
Para a Gradiva, a feira “correu surpreendentemente melhor do que em 2014”, compondo um ano que “estava a ser fraco”. O que não surpreende o editor Guilherme Valente é que o campeão de vendas seja este ano Número Zero, o novo romance de Umberto Eco. “É um livro mais acessível, menos erudito do que é habitual no autor, e trata da comunicação e do jornalismo, um tema oportuníssimo”. Mas o editor da Gradiva também sente “uma grande alegria” por verificar que “a colecção de ciência está outra vez a vender”.
A reedição de Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, e O Caso Snowden: Como os EUA Espiam o Mundo, de Antoine Lefébure, são dois dos livros que venderam mais no pavilhão da Antígona, que este ano, diz o editor Luís Oliveira, facturou mais 15% do que na última feira.
A Antígona e a Relógio D’Água são algumas das muitas editoras que não dispõem de livrarias próprias, o que torna as feiras do livro oportunidades muito relevantes para mostrar livros nem sempre fáceis de distribuir. “É muito raro ver-se o catálogo completo da Antígona numa livraria”, nota Luís Oliveira, que na feira ouve muita gente a comentar que “nunca tinha visto este livro” ou que “não sabia que isto tinha saído”.
E para se avaliar a importância da feira para a Relógio D’Água basta dizer que, segundo Francisco Vale, representa 10% de toda a facturação anual da editora.