Morreu Robert Chartoff, o produtor de Rocky que não gostava de boxe

Para além da saga protagonizada por Sylvester Stallone, foi também o produtor de O Touro Enraivecido, com Robert De Niro.

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Irwin Winkler, Sylvester Stallone e Robert Chartoff recebendo o Óscar para Rocky, em 1977 DR

Mas na estreia do novo filme, agendada para o dia 25 de Novembro, ao lado de Sylvester Stallone já não vai estar, desta vez, o produtor Robert Chartoff (1933-2015), que morreu na semana passada (10 de Junho) na sua casa de Santa Monica, na Califórnia. Tinha 81 anos e sucumbiu a um cancro no pâncreas, segundo a família. “Era um pai e uma pessoa maravilhosos. Não há palavras”, comentou a filha Julie.

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Mas na estreia do novo filme, agendada para o dia 25 de Novembro, ao lado de Sylvester Stallone já não vai estar, desta vez, o produtor Robert Chartoff (1933-2015), que morreu na semana passada (10 de Junho) na sua casa de Santa Monica, na Califórnia. Tinha 81 anos e sucumbiu a um cancro no pâncreas, segundo a família. “Era um pai e uma pessoa maravilhosos. Não há palavras”, comentou a filha Julie.

Sylvester Stallone lamentou também a morte do seu produtor, e comentou-a, em comunicado citado pelo The New York Times, desta forma lacónica mas significativa: “Ele mudou a minha vida para sempre”.

E é verdade. Stallone deve a Robert Chartoff (e ao coprodutor Irwin Winkler, que também se afirmaria depois como realizador de vários filmes, a partir de Na Lista Negra, 1991, com Robert De Niro) a carreira que lhe foi proporcionada pelo sucesso do primeiro Rocky, realizado em 1976 por John G. Avildsen.

A história é mais ou menos conhecida. Por essa altura, Stallone era um actor secundário de reputação duvidosa, sem carro e sem dinheiro sequer para alimentar o seu cão, mas que escrevera um argumento sobre a história de um aspirante a pugilista que vivia de pequenos biscates. Quis vender a história a Chartoff e Winkler, mas exigiu ser ele a interpretar a personagem de Rocky Balboa, reivindicação que os produtores aceitaram e sustentaram na negociação com a United Artists, mesmo se para isso tiveram de hipotecar as suas casas.

Recordando a aventura da produção de Rocky, Robert Chartoff disse, em 2004, numa entrevista para uma publicação sobre produtores de movie moguls, agora recordada pelo TNYT: “Tudo o que lhe posso dizer é que no último dia da rodagem comprei um caderno e uma caneta para o Sylvester. Dirigi-me a ele e disse-lhe: ‘Agora vai escrever a sequela’”.

E Stallone foi. Rocky, cuja produção tinha custado pouco mais de um milhão de dólares, confirmou-se como um grande sucesso: rendeu, só no mercado norte-americano, mais de 200 milhões, venceu três Óscares (melhor filme, realização e montagem), e a personagem ficou desde aí sempre colada à pele de Stallone – que agora volta a vesti-la, pela sétima vez, já como pugilista reformado a cuidar do treino de Adonis, o neto do seu primeiro adversário, Apollo Creed: é esta a história do novo filme, com realização de Ryan Coogler.

Mesmo que tenha confessado, uma vez, que não gostava de boxe, foi neste misto de desporto com showbusiness que Robert Chartoff teve os pontos mais altos da sua carreira. Além da saga Rocky, produziu também O Touro Enraivecido (1980), o filme realizado por Martin Scorsese e interpretado por Robert De Niro reconhecidamente visto como um ponto alto na carreira de ambos – valeu o Óscar ao actor, que teve de engordar 30 quilos durante a rodagem para interpretar diferentes momentos da vida e da carreira do pugilista meio-pesado Jake La Motta; mas Scorsese viu-se então ultrapassado na votação da Academia de Hollywood por Gente Vulgar, de Robert Redford –, e um momento maior na história do cinema americano.

Ao longo da sua carreira, Chartoff produziu quatro dezenas de filmes, grande parte deles em parceria com o seu amigo Irwin Winkler. Começou com À Queima-Roupa (1967), de John Boorman, um thriller com Lee Marvin e Angie Dickinson. Seguiram-se, depois, entre os mais notáveis, Os Cavalos Também Se Abatem (1969), de Sidney Pollack, com Jane Fonda, numa visita à América dos anos da Depressão através de uma desumana maratona de dança; New York, New York (1977), de novo com Scorsese e De Niro, este a contracenar aqui com Liza Minelli num musical sobre a atribulada relação de um casal de músicos na Big Apple; Os Eleitos (1983), de Philip Kaufman, com Sam Shepard e Ed Harris, sobre os pioneiros americanos da conquista do espaço; e, mais recentemente, o regresso às aventuras no espaço com Harrison Ford em O Jogo Final (2013), de Gavin Hood.

Nascido no Bronx, a 26 de Agosto de 1933, filho de um músico da Filarmonia de Nova Iorque, Robert Irwin Chartoff estudou no Union College e formou-se depois em Direito na Universidade de Columbia. Mas trocou as leis pelo showbizz, tendo entrado neste mundo, curiosamente, através dos clubes de boxe, quando, ainda estudante, nas férias de Verão ia trabalhar com um tio que era agente do sector. Saltou depois para a famosa agência do mundo do espectáculo William Morris. Foi então que conheceu e se tornou parceiro de negócios de Irwin Winkler, com quem formaria uma primeira parceria de produção, que viria marcar uma dada face do cinema americano até ao final dos anos 80.

Uma parceria que deixou também herdeiros, já que os filhos de ambos, William Chartoff e David Winkler, são co-produtores de Creed.