Primeiro-ministro da Moldávia demite-se por suspeita de falsificação de diploma
Nos bastidores deste escândalo está a luta pelo poder entre a facção pró-Europa e a facção pró-Rússia deste país situado entre a Roménia e a Ucrânia.
"Afasto-me porque não quero participar nestes jogos políticos... sou um gestor, não um político e pensei muito na minha decisão", disse Chiril Gaburici.
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"Afasto-me porque não quero participar nestes jogos políticos... sou um gestor, não um político e pensei muito na minha decisão", disse Chiril Gaburici.
A demissão do primeiro-ministro pró-Europa ao fim de apenas cem dias no cargo acontece num momento em que se trocam acusações sobre o desaparecimento do dinheiro, equivalente a um oitavo do PIB anual.
Desde 2009 que este pequeno país de 3,5 milhões de habitantes situado entre a Ucrânia e a Roménia é governado por partidos pró-Ocidente que tentam negociar um acordo de comércio livre com a União Europeia. Porém, a Moldávia é um dos mais pobres países da Europa, devido sobretudo a erros de gestão, à pressão da Rússia e à corrupção.
A demissão de Gaburici ocorre num momento delicado, comentou a porta-voz da Comissão Europeia, Maja Kocijancic, dizendo que se esperava a aplicação de reformas destinadas a "redireccionar a economia do país".
"É crucial que seja formado um Governo estável e que este tome medidas corajosas... os fundos que desapareceram devem ser encontrados e os responsáveis devem ser punidos", disse a porta-voz.
Neste cenário, das eleições locais que se realizam este fim-de-semana poderão sair vitoriosos os partidos pró-Rússia e os analistas dizem que a nostalgia pelos tempos mais abastados da época soviética está a aumentar.
Gaburici liderava um governo minoritário apoiado por outros partidos pró-Europa. O Presidente Nicolae Timofti já começou a ouvir os líderes dos partidos para que seja formado um novo executivo.
O ex-primeiro-ministro foi confrontado em Abril com as notícias de que mentira sobre as suas habilitações académicas e falsificara o diploma de licenciatura. Um grupo de deputados da oposição pediu ao Ministério Público para investigar o caso e o processo avançou depois de Gaburici ter acusado uma série de altos funcionários (do Ministério Público, do Banco da Moldávia e do Mercado de Valores) de corrupção e de nada fazerem para encontrar o dinheiro desaparecido dos cofres do Estado. Exigiu a demissão do presidente do banco central.
Também negou ter falsificado o seu diploma e disse que vai colaborar na investigação ao seu percurso académico que foi posto em causa por um dos seus ministros, Oleg Balan, responsável pela pasta do Interior, que disse aos jornalistas que havia dúvidas sobre a assinatura que consta no diploma de Gaburici e sobre o selo do documento.
Antes de ser primeiro-ministro, Gaburici dirigia a empresa de telemóveis Moldcell. Desde que chegou ao governo que a economia da Moldávia entrou em perda de 2% - de um crescimento de 4,6% em 2014; a moeda local, o leu, perdeu 35% do seu valor contra o dólar.
Os analistas dizem que esta contracção da economia se deve sobretudo às decisões do Governo de Moscovo que baniu a importação de vinho, carne e vegetais moldavos em retaliação pela posição pró-ocidental do Governo em relação ao conflito na Ucrânia.