Na Barbado Gallery vê-se da Menina Afegã até aos cães de Martin Parr

É na nova galeria dedicada à fotografia que Parr terá a sua primeira exposição a solo em Portugal. Para já, ele, Steve McCurry, Nadav Kander ou Ren Hang em imagens únicas ou de séries limitadas.

Fotogaleria

Na Barbado Gallery, que foi inaugurada no final de Maio, os visitantes poder-se-ão fazer acompanhar pelos seus cães e ser recebidos pelo galerista e pelo seu cão Fox, que esporadicamente estará na galeria. Este é um novo espaço que nasceu para promover o coleccionismo de fotografia na rua Ferreira Borges, uma das mais movimentadas de Campo de Ourique. A carta de intenções com que se apresenta é tão ambiciosa quanto os nomes que representa, cujas fotografias podem ser vistas na exposição que marca a sua inauguração, intitulada Retrato do Mundo.

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Na Barbado Gallery, que foi inaugurada no final de Maio, os visitantes poder-se-ão fazer acompanhar pelos seus cães e ser recebidos pelo galerista e pelo seu cão Fox, que esporadicamente estará na galeria. Este é um novo espaço que nasceu para promover o coleccionismo de fotografia na rua Ferreira Borges, uma das mais movimentadas de Campo de Ourique. A carta de intenções com que se apresenta é tão ambiciosa quanto os nomes que representa, cujas fotografias podem ser vistas na exposição que marca a sua inauguração, intitulada Retrato do Mundo.

A primeira exposição reúne 35 imagens (uma em forma de escultura) de 12 artistas, nomes como Steve McCurry, Martin Parr, Nadav Kander, Ren Hang, Gaston Bertin, Alison Jackson ou Boris Eldagsen. Uma das estrelas da mostra é o retrato de Sharbart Gula, a famosa Menina Afegã de Steve McCurry.

“Não é uma simples galeria de fotografia. É uma galeria de fotografia que visa dar a conhecer e tornar acessível à cidade de Lisboa e ao país a obra dos grandes fotógrafos contemporâneos”, disse ao PÚBLICO João Barbado, dono da galeria, que considera não ter concorrentes directos. “A galeria tem um conceito muito distinto de tudo quanto existe em Lisboa.” Há mais galerias em Portugal que se dedicam à venda e promoção de fotografia, “mas estão essencialmente vocacionadas para a promoção de artistas portugueses emergentes”.

Galerista, marchand ou negociante de arte é como se intitula João Barbado, que é formado em Direito pela Universidade de Lisboa e exerceu advocacia durante 10 anos. Quase a chegar aos 35 anos, apercebendo-se que “não era feliz”, mergulhou “de cabeça” neste mundo: fez uma pós-graduação no Sotheby’s Institute of Art, em Londres, onde se especializou em Mercados de Arte, e resolveu abrir a sua própria galeria. “Não foi uma transição fácil, mas foi uma transição natural. Sempre frequentei galerias e museus e era uma coisa que me via a fazer.”

“Porquê fotografia? Porque gosto!”, responde João Barbado sobre a razão para abrir uma galeria só dedicada a esta área. “É um gosto já muito antigo e é um nicho a que as pessoas aderem. Já existem algumas galerias de arte contemporânea que apresentam outros meios – pintura, escultura – e eu não queria saturar mais esse mercado.”

Galerias direccionadas para a arte fotográfica já houve em Portugal, com algumas tentativas desde os anos 1980. Mais antiga a Ether - Vale Tudo Menos Tirar Olhos, mais recentemente a Pente 10 e a Dear Sir Gallery, que acabaram por fechar. A Barbado Gallery segue o caminho internacional, querendo trazer nomes importantes no mundo da fotografia. “O mercado português está muito retraído em todos os sectores mas justifica uma galeria de fotografia. O mercado internacional de arte, por outro lado, já recuperou completamente da crise de 2008. Acho que há compradores, porque há grandes colecções de fotografia no nosso país e esses grandes coleccionadores têm de se deslocar a outros pontos do globo para comprar. Agora também podem encontrar obras dessa dimensão aqui na minha galeria.”

João Barbado gosta de pensar que os seus clientes não serão só portugueses. “Quero projectar-me. Estruturei a minha galeria não para ser uma galeria de arte portuguesa, mas para ser uma galeria de arte internacional sediada em Lisboa.” Algumas das obras expostas têm um número bastante limitado de cópias, segundo o galerista, o que poderá facilitar as vendas num mercado mais exigente: a de Parr, uma prova de artista e única no mercado, ou a de Nadav Kander, a última de uma série de três. Os preços das fotografias à venda na galeria variam entre os 3000 e os 40 mil euros.

Estreia de Parr a solo em Portugal

A galeria ocupa um espaço de 120 metros quadrados. Com paredes cinzentas escuras e chão flutuante de madeira, a iluminação na primeira sala é feita através da grande porta de vidro que dá para a rua. Na segunda sala, o ambiente torna-se mais íntimo, sendo a iluminação fornecida unicamente pelos focos de luz que incidem sobre as obras. “É uma exposição de showcase, que serve para mostrar ao público todos os artistas que a galeria representa. Obedece a uma tradição antiga das galerias de fotografia, que é a de criação de mostras periódicas com um tema ‘sombrinha’, genérico, abstracto e de pouca curadoria.”

Alguns nomes foram escolhidos para o visitante poder identificar de imediato certas obras expostas. “São obras icónicas” — diz-nos o galerista. À entrada da galeria estão em destaque as fotografias provocadoras da série Photography 2014 II, do jovem artista chinês Ren Hang. Uma das fotografias do artista apresenta o corpo nu de uma mulher chinesa a agarrar um cisne branco, cuja simbologia ocidental está associado à pureza e à luz. A fotografia com fundo branco coloca o corpo feminino em segundo plano, evidenciando o cisne. O olhar da mulher é tapado e substituído pelo olhar do animal, como se ambos os corpos se tornassem num só. Devido ao teor sexual dos seus projectos, o trabalho de Ren Hang tem sofrido alguma censura na China.

A Menina Afegã, de Steve McCurry, é a imagem mais facilmente reconhecível por um público mais amplo. Os olhos verdes expressivos juntam-se a um rosto fechado envolto num manto vermelho. Esse tem rasgões que deixam aparecer o verde das suas roupas por baixo e criam uma ligação com o fundo, também verde, desfocado. O retrato forte, datado de 1984, tornou-se conhecido por ter sido capa da revista National Geographic em Junho de 1985.

Portrait of My British Wife, do artista grego Panayiotis Lamprou, é a única obra que não está para venda. Trata-se de um retrato intimista da mulher do artista, que se encontra sentada à porta da casa de férias na Grécia. Ela olha directamente para a câmara, com uma certa tranquilidade, tendo vestida apenas uma camisola de alças, as pernas abertas e a vagina totalmente visível. A fotografia situa-se num terreno ambíguo entre a nudez artística e a pornografia. É bastante explícita ao mesmo tempo que é tímida e provocante.

João Barbado quer inaugurar exposições de dois em dois meses, e tem já quase um ano planeado, todas elas com artistas internacionais. Em Setembro chega então o britânico Martin Parr, que estará presente na inauguração. A sua primeira exposição a solo em Portugal já tem nome: A Place in the Sun – Martin Parr’s Beach Photos 1985-2015. Estarão expostas fotografias de praia que marcam mais de 30 anos da carreira do artista, tema que facilmente o identifica e que mais fotografou.

Já no dia 10 de Novembro, a galeria recebe o finlandês Arno Rafael Minkkinen.Conhecido pelas suas imagens a preto e branco que mesclam as formas de corpos nus com a natureza ou com espaços criados pelo homem, o seu trabalho cria dualidades no imaginário do espectador. Os seus projectos são fotografados com uma câmara analógica e o autor diz não usar quaisquer ferramentas de edição ou manipulação digital.

O espanhol Pagano (David Dosrius) vai mostrar um projecto de fotografia histórica no qual ainda se encontra a trabalhar, embora algumas imagens já possam ser vistas na galeria. O curador espanhol encontrou uma caixa na Feira da Ladra de Lisboa que continha fotografias de família, negativos, objectos pessoais, cartas de amor, livros e ainda filmes Super 8. Fizeram-no “apaixonar-se pela personagem”, descreve João Barbado, sobre a qual está a pesquisar no âmbito do projecto  cujo resultado final será apresentado em Lisboa em Janeiro de 2016.

Texto editado por Isabel Salema