Prémio de Literatura Princesa das Astúrias para o cubano Leonardo Padura
Quase todos os livros de Padura estão traduzidos em Portugal, incluindo o último Hereges.
Padura, 59 anos, é conhecido sobretudo por uma série de romances policiais protagonizados por um detective chamado Mario Conde, um beberrão melancólico, fã de Hemingway, que gostaria de ter sido escritor.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Padura, 59 anos, é conhecido sobretudo por uma série de romances policiais protagonizados por um detective chamado Mario Conde, um beberrão melancólico, fã de Hemingway, que gostaria de ter sido escritor.
“Num momento como este, perante um prémio destes, Mario Conde diria: ‘Vamos celebrar, meu irmão, porque sofremos bastante e merecemos isto” , comentou Padura ao El País esta quarta-feira. Contactado por telefone pelo diário espanhol, o escritor referiu que, “se tivesse o fígado” de Conde, já teria tragado “a primeira garrafa de rum”. Eram sete da manhã em Havana.
Padura é visto como um dos poucos cronistas da realidade cubana, embora a sua ficção contenha uma crítica mais subtil do que explícita. O género policial, afirmou à revista The New Yorker em Outubro de 2013, permite-lhe abordar “os maiores problemas da sociedade: corrupção, repressão, hipocrisia, erosão ideológica, oportunismo, pobreza”. Não é um dissidente, e o facto de ser um escritor tolerado e até distinguido pelo regime castrista (recebeu o Prémio da Crítica do Instituto Cubano do Livro em 2011 e o Prémio Nacional de Literatura em 2012) é visto por alguns como uma prova de que pactua com o dito regime. “Não tenho qualquer militância, nem com o Partido, nem com a dissidência”, explicou à New Yorker. “Nunca deixei Cuba porque sou um escritor cubano e não posso ser outra coisa.” Quase todos os livros de Padura estão traduzidos em Portugal, incluindo o último Hereges, lançado este ano pela Porto Editora, durante o Festival Correntes d’Escrita na Póvoa de Varzim, onde o escritor esteve presente.
O Prémio de Literatura Princesa das Astúrias é atribuído a Padura seis meses depois do anúncio do degelo nas relações entre Cuba e os Estados Unidos, que está a transformar rapidamente a ilha. Mas, na sua acta, o júri do prémio não fez referência a questões políticas. Padura é “um intelectual independente, com um firme temperamento ético”, cuja obra “é uma magnífica aventura de diálogo e liberdade”, escreveu o júri. A sua ficção “revela os desafios e os limites que existem na busca pela verdade”.
Em 2011 o cubano Padura recebeu a nacionalidade espanhola, que lhe foi atribuída pelo Governo por mérito literário. O Prémio Princesa das Astúrias será entregue em Outubro, numa cerimónia solene presidida pelos reis de Espanha.
Este galardão é atribuído anualmente em oito categorias (literatura, artes, investigação científica e técnica, comunicação e humanidades, ciências sociais, desporto, cooperação internacional e concórdia), cada uma com o valor de 50 mil euros. Até 2014 era designado como Prémio Príncipe das Astúrias, atribuído pela fundação com o mesmo nome. Mas com a proclamação de Dom Felipe VI como rei de Espanha, em Junho do ano passado, o prémio foi rebaptizado com o título da sua filha primogénita, Dona Leonor de Borbón, de nove anos.
Os últimos laureados na categoria de literatura tinham sido o irlandês John Banville (2014), o espanhol Antonio Muñoz Molina (2013) e o norte-americano Philip Roth (2012). Esta edição contou com 27 candidaturas de 18 nacionalidades, incluindo Portugal.
Notícia corrigida às 18h05: alteração da idade de Leonor de Borbón