As cientistas são choronas? O Nobel Tim Hunt acha que sim
O bioquímico defendeu a ideia de laboratórios separados por género.
“Deixem-me que vos diga qual é o meu problema com as raparigas”, disse o bioquímico inglês num almoço organizado por cientistas sul-coreanas na Conferência Mundial de Jornalistas de Ciência, em Seul. “Há três coisas que acontecem quando elas estão no laboratório... Apaixonamo-nos por elas, elas apaixonam-se por nós e quando fazemos uma crítica, elas choram.”
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
“Deixem-me que vos diga qual é o meu problema com as raparigas”, disse o bioquímico inglês num almoço organizado por cientistas sul-coreanas na Conferência Mundial de Jornalistas de Ciência, em Seul. “Há três coisas que acontecem quando elas estão no laboratório... Apaixonamo-nos por elas, elas apaixonam-se por nós e quando fazemos uma crítica, elas choram.”
A citação foi divulgada no Twitter por Connie St Louis, directora do Mestrado em Jornalismo de Ciência da City University, em Londres. “A sério? Este prémio Nobel ainda acha que estamos no período Vitoriano?”, comentou a também jornalista.
Tim Hunt, que na sua intervenção assumiu ter reputação de “chauvinista”, afirmou ainda ser a favor da existência de laboratórios separados por género mas garantiu não querer “pôr-se no caminho das mulheres”.
“Sinto mesmo muito se ofendi alguém, isso é terrível. Não era esse o meu propósito. Na verdade, apenas quis ser honesto”, disse Hunt em declarações à BBC. “Já me apaixonei por pessoas no laboratório e algumas pessoas já se apaixonaram por mim e isso é bastante disruptivo para a Ciência porque é muito importante que num laboratório as pessoas estejam ao mesmo nível”, acrescentou.
Royal Society distancia-se das declarações
Apesar da garantia de Hunt de que os seus comentários foram proferidos como uma piada, vários elementos da comunidade científica mostraram-se indignados. David Colquhoun, professor de Farmacologia na University College London, referiu que os comentários do bioquímico são um “desastre para o avanço das mulheres”.
A jornalista Deborah Blum publicou no Twitter que confrontou Hunt após estas declarações e que o cientista confirmou a sua opinião. “Esperava que ele dissesse que tinha sido uma piada. Mas ele desenvolveu ainda mais”, escreveu Blum. Citada pelo The Daily Beast, a jornalista de ciência acrescentou: “Disse-me que pensava que eu era capaz de me aguentar bem porque não parecia ser do tipo de chorar.”
A Royal Society, da qual Tim Hunt é membro, também já reagiu, distanciando-se destas afirmações que “não reflectem” a opinião da instituição. A Royal Society afirmou-se empenhada em conseguir ter mais mulheres na Ciência. “Demasiadas pessoas talentosas não cumpriram o seu potencial científico devido a questões como a de género e estamos comprometidos em corrigir isto”, lê-se num comunicado oficial.
Igualdade de género na Ciência ainda não foi alcançada
Um estudo divulgado pelo programa da UNESCO “Mulheres na Ciência” revela que, embora a percentagem de mulheres a trabalhar em investigação e desenvolvimento (ID) tenha aumentado na última década, a paridade entre géneros continua por alcançar na área.
Apenas 30% dos investigadores são mulheres, de acordo com este estudo realizado em 2014 pelo The Boston Consulting Group, verificando-se, no entanto, um crescimento de 12% numa década quanto à presença feminina.
No estudo, que se debruçou sobre a realidade de sete países (Reino Unido, França, Estados Unidos, Espanha, Alemanha, Japão e China), os espanhóis e britânicos foram aqueles que conseguiram um melhor nível, com 38% de mulheres a trabalhar em investigação.
Por outro lado, o estudo também regista dados da presença feminina em cargos de liderança nas instituições científicas. A Espanha é o país com maior representatividade, com 34%, enquanto que no Japão apenas se verificam 6% de mulheres nos orgãos de decisão destas organizações.