O dilema de Erdogan face à “rebelião” turca
Entre um governo minoritário e convocar novas eleições, Erdogan lida com o peso da derrota.
Na Turquia, só Erdogan teimava em não ver o desgaste que agora lhe custou caro nas urnas. De primeiro-ministro a Presidente, fazendo cálculos de uma ambição cada vez mais desmedida, Recep Tayyip Erdogan deixou-se embriagar pelo ilusório aroma de uma vitória crescente, com a qual iria ampliando os seus poderes até transformar a Turquia num regime presidencial de poderes cada vez mais concentrados, no perigoso caminho de uma ditadura. Imaginou possível um país assim e não acreditou que tal “sonho” fosse reversível. Nas eleições de 2011, tinha atrás de si êxitos económicos (o PIB crescera 8,9 por cento em 2010, uma subida sem par na Europa) e uma estabilidade que lhe dava vantagem sobre toda a oposição. Nessa altura, o seu sonho já era eternizar-se chefe, um “herói popular” capaz de rivalizar, no imaginário colectivo, com o fundador histórico da República turca, Kemal Atatürk. Mas os anos seguintes desgastaram-no. Enquanto ele fazia todos os esforços para se mostrar, sobretudo perante os EUA e a Europa, como voz indispensável e líder regional de peso nos conflitos que abalavam o mundo árabe, atentados bombistas desafiavam o seu poder mesmo no coração de Ancara. Em 2013, o movimento de protesto que começou no Parque Gezi trouxe à rua 3,5 milhões de turcos que lhe chamaram “ditador”. A resposta foi uma só: repressão. E, em Maio de 2014, a forma como ele reagiu à tragédia na mina de Goma (onde morreram 245 operários na sequência de uma explosão) foi terrível, dizendo que desastres sempre houve. Tudo isto somado, o seu partido, o AKP, obteve agora 41% dos votos e ficou em minoria, com benefício para o HDP pró-curdo e aberto às mudanças sociais, com 13%. Sem alianças possíveis à vista, Erdogan enfrenta um dilema: dar posse a um governo minoritário, condenado ao fracasso, ou marcar novas eleições em 45 dias e tentar a sorte. Só que as urnas não são uma roleta e o jogo pode sair-lhe caro.
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Na Turquia, só Erdogan teimava em não ver o desgaste que agora lhe custou caro nas urnas. De primeiro-ministro a Presidente, fazendo cálculos de uma ambição cada vez mais desmedida, Recep Tayyip Erdogan deixou-se embriagar pelo ilusório aroma de uma vitória crescente, com a qual iria ampliando os seus poderes até transformar a Turquia num regime presidencial de poderes cada vez mais concentrados, no perigoso caminho de uma ditadura. Imaginou possível um país assim e não acreditou que tal “sonho” fosse reversível. Nas eleições de 2011, tinha atrás de si êxitos económicos (o PIB crescera 8,9 por cento em 2010, uma subida sem par na Europa) e uma estabilidade que lhe dava vantagem sobre toda a oposição. Nessa altura, o seu sonho já era eternizar-se chefe, um “herói popular” capaz de rivalizar, no imaginário colectivo, com o fundador histórico da República turca, Kemal Atatürk. Mas os anos seguintes desgastaram-no. Enquanto ele fazia todos os esforços para se mostrar, sobretudo perante os EUA e a Europa, como voz indispensável e líder regional de peso nos conflitos que abalavam o mundo árabe, atentados bombistas desafiavam o seu poder mesmo no coração de Ancara. Em 2013, o movimento de protesto que começou no Parque Gezi trouxe à rua 3,5 milhões de turcos que lhe chamaram “ditador”. A resposta foi uma só: repressão. E, em Maio de 2014, a forma como ele reagiu à tragédia na mina de Goma (onde morreram 245 operários na sequência de uma explosão) foi terrível, dizendo que desastres sempre houve. Tudo isto somado, o seu partido, o AKP, obteve agora 41% dos votos e ficou em minoria, com benefício para o HDP pró-curdo e aberto às mudanças sociais, com 13%. Sem alianças possíveis à vista, Erdogan enfrenta um dilema: dar posse a um governo minoritário, condenado ao fracasso, ou marcar novas eleições em 45 dias e tentar a sorte. Só que as urnas não são uma roleta e o jogo pode sair-lhe caro.