Sem outras alternativas, Obama insiste em sanções contra a Rússia
Na reunião do G7, o Presidente americano quer mostrar uma frente unida contra Moscovo pela sua acção na Ucrânia. Desta vez com uma dificuldade acrescida - para além das sanções vai ter que explicar qual é o plano para travar Putin.
Ao chegar à cimeira, Obama declarou que os líderes vão discutir como se “confrontar a agressão russa”. Mas, nota o New York Times, o Presidente norte-americano terá, desta vez, uma dificuldade acrescida: nada mostra que o plano actual de sanções e isolamento diplomático esteja a resultar. Apesar de se poder argumentar que as sanções em vigor possam ter levado a Rússia a não agir mais (os ocidentais acusam Moscovo de intervir na Ucrânia, enviando combatentes, Moscovo nega), não se pode dizer que os russos tenham realmente recuado. Um aumento recente da violência sublinhou isto mesmo. Ainda no domingo, um navio patrulha ucraniano com sete tripulantes afundou-se ao largo de Mariupol, uma cidade que tem estado ameaçada há meses pelos rebeldes pró-russos. Não era clara a causa da explosão.
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Ao chegar à cimeira, Obama declarou que os líderes vão discutir como se “confrontar a agressão russa”. Mas, nota o New York Times, o Presidente norte-americano terá, desta vez, uma dificuldade acrescida: nada mostra que o plano actual de sanções e isolamento diplomático esteja a resultar. Apesar de se poder argumentar que as sanções em vigor possam ter levado a Rússia a não agir mais (os ocidentais acusam Moscovo de intervir na Ucrânia, enviando combatentes, Moscovo nega), não se pode dizer que os russos tenham realmente recuado. Um aumento recente da violência sublinhou isto mesmo. Ainda no domingo, um navio patrulha ucraniano com sete tripulantes afundou-se ao largo de Mariupol, uma cidade que tem estado ameaçada há meses pelos rebeldes pró-russos. Não era clara a causa da explosão.
Este é o segundo ano em que os líderes dos EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Japão se encontram sem um líder russo, uma medida penalizadora da invasão russa da Crimeia. Analistas dizem que Putin está disposto a fazer um jogo de espera – apostando que a frente unida se desmoronará antes de ser forçado a recuar. As sanções estão a resultar na medida em que as consequências estão a fazer-se sentir. Mas politicamente, os russos são mais rápidos a culpar o Ocidente do que o seu próprio Governo pela subida dos preços.
Mas recuar nas sanções seria visto como um falhanço, e para as manter Obama contará com o apoio da chanceler alemã, Angela Merkel, e do primeiro-ministro britânico, David Cameron. Os líderes querem mantê-las até que seja cumprido um acordo de paz.
Qual é o plano?
À chegada à estância de Krün, na Baviera, Cameron também martelou na necessidade de “assegurar que a Europa se mantém unida”, e lembrou que o Reino Unido “não deixou que o seu lugar cimeiro nos serviços financeiros impedisse uma resposta forte” e que os outros países também deviam apoiar as sanções mesmo com custos para as suas economias. O mais resistente no G7 será o chefe do Governo italiano, Matteo Renzi, e há vozes a levantar-se de países do Leste cuja agricultura está a ser bastante penalizada pela proibição de exportações para a Rússia, diz a agência Reuters.
“Se alguém quiser começar uma discussão sobre as sanções, só poderá ser no sentido de as fortalecer”, declarou pelo seu lado o presidente do Conselho Europeu, o polaco Donald Tusk, em conferência de imprensa.
Obama quer também discutir não só a manutenção das sanções, mas maneiras de as fortalecer caso haja mais acções desestabilizadoras da Rússia. Mas não é claro o que poderá ser feito. “Os líderes do G7 vão ter muitas perguntas para o Presidente Obama em relação ao que se segue, qual é o plano”, comentou ao New York Times Heather Conley, do programa para a Europa do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
Em especial, vai ter de explicar uma visita à Rússia do secretário de Estado John Kerry que deixou muitas reservas (até dentro da Casa Branca) e garantir que não houve qualquer negociação escondida da Europa. “A política [americana em relação à Rússia] foi bastante robusta e rigorosa nos primeiros meses depois de anexação da Crimeia, mas parece estar agora um pouco à deriva”, disse ainda Heather Conley.
Amizade e pretzel
O dia de domingo começou com uma manifestação da amizade entre os EUA e a Alemanha – Obama e Merkel tomaram um pequeno-almoço tipicamente bávaro, ou seja salsichas brancas, preztel e cerveja, entre pessoas vestidas com os trajes tradicionais, calções de couro (lederhosen) e os vestidos dirndl.
A oportunidade é importante para os dois. O público alemão não esquece o escândalo de espionagem da NSA e este continua a levar a uma desconfiança em relação aos americanos – e a prejudicar politicamente Angela Merkel.
Os dois mostraram-se juntos e declararam a importância da sua aliança. “A minha mensagem para os alemães é simples: estamos gratos pela vossa amizade, pela vossa liderança, e estamos juntos como aliados inseparáveis na Europa e no mundo”, disse Obama. “Ainda que seja verdade que às vezes temos diferenças de opinião, a América é nosso amiga e um parceira essencial com quem cooperamos de perto”, disse Merkel.
Cimeira positiva
Enquanto manifestantes cortaram uma estrada nas imediações do G7, líderes e jornalistas iam sendo levados de helicóptero para o castelo Elmau, no cimo de uma montanha. Os protestos foram relativamente pequenos comparados com os de outras cimeiras, e 50 manifestantes foram autorizados a protestar dentro do perímetro de segurança, onde os líderes os poderiam ouvir, diz a emissora britânica BBC. Muitos opositores questionavam a dimensão e os custos da cimeira - 200 milhões de euros, com 17 mil polícias encarregados da segurança do local.
Nem a anfitriã, Angela Merkel, nem o Presidente norte-americano, Barack Obama, queriam ver esta cimeira dominada pela Ucrânia (e pela Grécia). Merkel fez um esforço para discutir questões como o clima e a saúde global, tendo ouvido pessoalmente uma série de peritos na preparação da reunião, e destacando estas questões em entrevistas anteriores à reunião. Obama, no sétimo ano da sua presidência, preferia também dedicar-se a questões-chave para o seu legado, como a luta contra as alterações climáticas, diz o New York Times.
Ainda assim, a cimeira será positiva para todos, comenta Julianne Smith, antiga responsável da Casa Branca agora no Center for New American Security, ao diário britânico The Guardian. “Todos precisam desta cimeira. Precisam das fotografias, de mostrar unidade. Para o seu público, e também para Putin.”