Heroína em queda, mas a gerar preocupação em Portugal

VIH intravenoso e peso das benzodiazepinas nas mortes por overdose sobressaem no relatório do Observatório das Drogas e da Toxicodependência.

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Enric Vives-Rubio/ Arquivo

Nenhuma droga suscita mais preocupação do que a heroína, embora atraia cada vez menos gente. Os problemas associados ao seu consumo representam uma grande fatia dos custos sociais e de saúde relacionados com o uso de estupefacientes na Europa. A média de idades das pessoas que iniciam tratamento aumentou cinco anos entre 2006 e 2013. Muitos têm agora 40 a 50 anos.

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Nenhuma droga suscita mais preocupação do que a heroína, embora atraia cada vez menos gente. Os problemas associados ao seu consumo representam uma grande fatia dos custos sociais e de saúde relacionados com o uso de estupefacientes na Europa. A média de idades das pessoas que iniciam tratamento aumentou cinco anos entre 2006 e 2013. Muitos têm agora 40 a 50 anos.

A grande parte é prescrito o uso de benzodiazepinas para tratar desordens psiquiátricas, como ansiedade ou a insónia. Os consumidores de alto risco, porém, recorrem a este fármaco para prolongar a duração e a intensidade do efeito dos opiáceos ou os seus substitutos, explicou ao PÚBLICO Klaudia Palczak, perita do OEDT.

O uso prolongado ou não prescrito de benzodiazepinas (e de outros depressores do sistema nervoso central, como o álcool) aumenta a hipótese de overdose entre utilizadores de heroína e metadona. Isso nota-se nos exames post-mortem feitos em diversos países, incluindo Portugal. Estima-se que as benzodiazepinas estejam implicadas, isto é, desempenharam um papel importante, em 30 a 32% das mortes por overdose registadas em Portugal — 28% na Escócia, 35% na Irlanda, 48% na França.

O país já não sobressai, como noutros tempos, em matéria de mortes por droga. Portugal contabilizou 21 casos, o que dá três mortos por milhão de habitantes, quando a média na UE é de 17,3 por milhão. A Estónia destaca-se com 126,8 mortos por milhão de habitantes.

Em Portugal continua a destacar-se o número de diagnósticos de VIH atribuídos ao consumo de droga injectada: 7,4 casos por milhão de habitantes, quando a média europeia está em 2,9. Apenas cinco países têm pior diagnóstico. Um diagnóstico que vem do país pré-2001, ano em que se despenalizou o consumo e se começou a apostar no tratamento e na redução de danos.

A tendência é de quebra, não só em Portugal, mas em toda a União Europeia. De acordo com o relatório, “o número de novos casos de VIH, que tinha aumentado devido aos surtos ocorridos na Grécia e na Roménia em 2011/2012, estabilizou”. O total de casos da UE diminuiu para os níveis anteriores.

No resto dos documentos divulgados esta quinta-feira, mal se dá por Portugal. Os portugueses consomem, em média, menos drogas do que os outros europeus. O índice de consumo de cocaína, por exemplo, é de 1,2%, quando a média da UE é de 4,6%. O de anfetaminas é de 0,5% para uma média de 3,5%. No que ao ecstasy diz respeito, 1,3% contra 3,6%. Por fim, a cannabis, 9,4% para 23,3%.

Falando especificamente de Portugal, o director científico, Paul Griffiths, diz que o país tem de se manter atento para perceber efeitos dos cortes efectuados nos serviços de tratamento, a reboque da crise financeira, económica e social (com consequências na degradação da saúde dos consumidores).