Ali Smith vence prémio Baileys e é comparada a Virginia Woolf
How to Be Both, da escritora escocesa Ali Smith, um romance que cruza a história de uma adolescente inglesa dos nossos dias com a de um pintor italiano do século XV, ganhou o prémio Bailey para mulheres ficcionistas.
É natural que o júri de um prémio literário elogie a obra que escolheu, mas Chakrabarti foi um pouco mais veemente do que é habitual: “Não me sentia assim a ler um livro desde os meus 17 anos, quando estudava literatura inglesa e li Virginia Woolf, James Joyce e os outros grandes”. E concluiu: “Este não é um bom livro, é um grande livro, que continuará a ser lido muito depois da minha morte”.
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É natural que o júri de um prémio literário elogie a obra que escolheu, mas Chakrabarti foi um pouco mais veemente do que é habitual: “Não me sentia assim a ler um livro desde os meus 17 anos, quando estudava literatura inglesa e li Virginia Woolf, James Joyce e os outros grandes”. E concluiu: “Este não é um bom livro, é um grande livro, que continuará a ser lido muito depois da minha morte”.
Sucessor do prémio Orange, atribuído pela primeira vez em 1996, o Baileys destina-se a romances de autoras de qualquer nacionalidade escritos em inglês e publicados no Reino Unido. Lionel Shriver, Zadie Smith ou a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie são algumas das escritoras já galardoadas.
How to Be Both [traduzível por Como Ser Ambos] até nem era o favorito das casas de apostas, que achavam mais provável que a escolha do júri recaísse este ano em The Paying Guests, de Sarah Waters. E Chakrabarti, directora da Liberty, uma associação de advogados em prol dos direitos civis, reconhece que a decisão “não foi fácil”, mas também garante que, “no final, How to Be Both foi uma escolha muito consensual”.
Além do livro de Sarah Waters, Ali Smith teve se bater na final com Outline, de Rachel Cusk, A Spool of Blue Thread, de Anne Tyler, A God in Every Stone, de Kamila Shamsie, e The Bees, o romance de estreia de Laline Paull.
How to Be Both já tinha ganho o prémio Goldsmith e o prémio Costa na categoria de romance, perdendo o prémio principal (livro do ano) para o volume autobiográfico de Helen McDonald, H Is for Hawk. Foi também finalista do prestigiado prémio Man Booker, que acabaria por ser atribuído a The Narrow Road to the Deep North, de Richard Flanagan. Um percurso honroso, mas que sabia a pouco para os que acham, como Chakrabarti, que este é um livro à altura de uma Virginia Woolf ou de um James Joyce.
Gaby Wood, do jornal inglês The Telegraph, não tem dúvidas de que How to Be Both é “um romance excepcional” e de “um virtuosismo” evidente, e acha que se não ganhou os prémios literários mais importantes, como o Man Booker ou o Folio (perdeu na final para Family Life, de Akhil Sharma), é porque “é um romance tão fora do comum que deve ter dividido os júris”.
Um livro que são dois
O próprio livro divide-se em duas partes que o leitor pode ler pela ordem que preferir: uma parte assume a perspectiva de George, uma adolescente de 16 anos, de luto pela mãe, e que se identifica com estrelas dos anos sessenta, como a actriz Monica Vitti ou a cantora Sylvie Vartan, e a outra é narrada por um pintor italiano do século XV que efectivamente existiu, Francesco del Cossa (c. 1430-c. 1477), cujo espírito atravessa os tempos para velar por uma rapariga inglesa.
Ali Smith imagina del Cossa como uma mulher vestida de homem e rebaptizada com um nome masculino, e que por sua vez toma George (cujo nome favorece a ambiguidade) por um rapaz. How to Be Both, diz Gaby Wood, é “descaradamente um romance de ideias”, que “sugere que nunca existimos num só tempo nem temos uma identidade fixa”.
A editora de Ali Smith, Hamish Hamilton, entrou no jogo que o romance propõe e decidiu publicar metade da tiragem com a parte contemporânea em primeiro lugar e a outra metade a abrir com o relato quatrocentista. Chakrabarti diz que leu as duas versões e, consciente de que o seu juízo pode ser “profundamente controverso” e que “provavelmente irritará os editores”, não receou aconselhar os futuros leitores do romance a começar pela narração contemporânea. “Acho que é a melhor maneira de ler o livro, mas outros discordarão”, afirmou Chakrabarti. Gaby Wood vai mais longe e diz mesmo que o romance “só funciona” quando se lê primeiro a parte de George.
O júri presidido por Chakrabarti incluía ainda Grace Dent, colunista do jornal The Independent, a apresentadora televisiva Cathy Newman, Laura Bates, fundadora do projecto Everyday Sexism, e a escritora Helen Dunmore, cujo romance A Spell of Winter venceu, em 1996, a primeira edição do então prémio Orange.
Nascida em 1962 em Inverness, na Escócia, Ali Smith é autora de seis romances e vários livros de contos, quase todos já publicados em tradução portuguesa.
Alguns dos seus romances saíram na Bico de Pena, que publicou Hotel do Mundo (Hotel World, 2001) e A Acidental (The Accidental, 2005), e na Teorema, que editou A Metamorfose do Amor (Girl Meets Boy, 2007). Mas a autora pertence hoje ao catálogo da Quetzal, que tem já prevista a publicação de How to Be Both, disse ao PÚBLICO o editor da chancela, Franscico José Viegas,
A Quetzal já tinha recuperado o romance de estreia de Ali Smith, Qualquer Coisa Como (Like, 1997), e publicou O Passado É Um País Estrangeiro (There But For The, 2011) e alguns dos livros de contos da autora, como Amor Livre e Outras Histórias (Free Love and Other Stories, 1995) ou A Primeira Pessoa e Outras Histórias (The First Person and Other Stories, 2008).
Notícia actualizada às 17h32