A música para respirar de Jamie xx
O primeiro álbum em nome próprio de Jamie Smith, dos xx. Magnífico
O álbum de estreia dos ingleses The xx, editado em 2009, marcou os últimos anos da cultura popular de forma categórica. É difícil imaginar outro disco que tenha gerado um culto tão oportuno, com pop minimalista, espaçosa e opaca.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O álbum de estreia dos ingleses The xx, editado em 2009, marcou os últimos anos da cultura popular de forma categórica. É difícil imaginar outro disco que tenha gerado um culto tão oportuno, com pop minimalista, espaçosa e opaca.
No centro da operação The xx, ao lado de Oliver Simm e Romy Madley-Croft, esteve desde o início Jamie Smith, ou seja Jamie xx, contribuindo para a feitura de canções contemplativas e espaçosas. Em 2011 Jamie xx afirmar-se-ia com o admirável álbum We’re New Here, recriação de I’m New Here, derradeira obra do falecido Gil Scott-Heron.
E agora, depois de mais alguns singles e remisturas, ei-lo com o primeiro álbum em nome próprio. Os dois parceiros nos The xx participam vocalmente em três canções, mas não existe contaminação. Existem, como é evidente, pontos de contacto, mas In Colour é mais diverso do que os álbuns dos The xx.
Há uns anos, em conversa com ele, dizia-nos que não tinha uma visão funcional da música electrónica que criava. Ou seja, raramente pensava em termos de pista de dança. Não é o único da sua geração a operar dessa forma. De James Blake a Nicolas Jaar os exemplos são inúmeros. Em In Colours existe dinamismo rítmico electrónico, mas são os ambientes e a atitude geral vulnerável que acabam por atribuir unidade a canções pacientemente urdidas e reveladoras de contenção.
Há elementos triturados, até ao seu não-reconhecimento, de um sem número de tipologias (house, tecno, dub, dubstep, jazz, soul, ambientalismo) mas no final o que fica é um sopro distante de uma música de dança atmosférica de sons transparentes (The rest is noise, Sleep sound), povoada por vozes (Loud places, Season, Stranger in reason), elementos das subculturas londrinas (Hold tight, Gosh) ou ocasionais elementos tropicalistas – I know there’s gonna be (good times) – que instituem um ambiente mais prazenteiro.
Dir-se-ia música para respirar, feita com elegância, através de filigranas climáticas, cadências rítmicas e vozes suavizadas. Magnífico.