Sobre o fim das reformas
Um antigo ministro da Economia dos tempos do guterrismo veio para os media com a seguinte sugestão: e que tal o pagamento de parte das reformas em serviços ao invés de dinheiro?
É triste quando, para ter tema de opinião num espaço público, basta estar atento a tudo quanto vem das hostes socialistas, mais as futuras medidas através das quais este partido se propõe governar Portugal nos quatro anos que estão para vir. Desta feita, foi a vez de um antigo ministro da Economia dos tempos do guterrismo ter vindo para os media com a seguinte sugestão: e que tal o pagamento de parte das reformas em serviços ao invés de dinheiro?
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É triste quando, para ter tema de opinião num espaço público, basta estar atento a tudo quanto vem das hostes socialistas, mais as futuras medidas através das quais este partido se propõe governar Portugal nos quatro anos que estão para vir. Desta feita, foi a vez de um antigo ministro da Economia dos tempos do guterrismo ter vindo para os media com a seguinte sugestão: e que tal o pagamento de parte das reformas em serviços ao invés de dinheiro?
Assim, e por exemplo, uma pessoa com mais de sessenta e cinco anos e com “alguns problemas de mobilidade“ dará mais valor a alguém que a visite e fale com ela de vez em quando e que a “ajude com algumas coisas“ nas vezes do dito dinheiro ao fim do mês, dinheiro o qual, por acaso, até foi descontado pela dita pessoa ao longo de toda uma vida de trabalho. Só por acaso. Acrescenta o senhor antigo ministro que Portugal precisa de apostar na “inovação social“, à semelhança do que acontece noutros países (???).
Bem, senhor antigo ministro, noutros países estamos nós, e por cá ainda ninguém se lembrou de tão excelsa ideia. E, senhor antigo ministro, ainda bem que não sou mal-educado, porque se o fosse prontamente diria como cá fora e por muito menos já se pendurou um ror de gente pelos... mas como não sou mal-educado, não digo. Aliás, preocupa-me esta vontade própria de ser mal-educado quando ainda faltam tantos meses para as próximas eleições e o seu governo ainda nem sequer tomou funções (e, a tomá-las, não será por certo pelo meu voto, o qual nunca o teve e, pelo andar das coisas, nunca terá).
Mas continuemos. De acordo com o senhor antigo ministro, por que carga d'água temos nós de dar dinheiro a quem tem mais de sessenta e cinco anos e “alguns problemas de mobilidade“? Alguns problemas de mobilidade... pode alguém de entre a assistência, por favor, esclarecer o significado destes “alguns problemas de mobilidade“ do ponto de vista de um economista? Temo saber a resposta, a qual, obviamente, descambará numa generalização plena, cujo objectivo outro não é para além de um assalto a nível nacional às bolsas de todos quantos trabalham e descontam para a reforma que é a sua por direito. Mais, porque não dá sua excelência o exemplo e oferece a própria reforma ao Estado a troco dos tais serviços? E se, por acaso, tiver o senhor antigo ministro problemas de mobilidade antes dos sessenta e cinco anos? Porventura, terá cortes no ordenado?
E a que outras áreas pretendem o senhor e os seus estender tão magnânima medida? Mais, porque sua excelência sublinha a importância de ter alguém que fale connosco quando chegamos à tal idade, alguém esse que, caritativamente nos vem visitar para ajudar “com algumas coisas“. Algumas coisas? Que coisas? E que tal se nos perguntassem se por acaso precisamos de ajuda antes de almejarem roubar-nos? Porquê esse paternalismo altivo? Porquê essa necessidade de oferecer uma caridade comezinha?
Sentir-se-á o senhor antigo ministro em dívida para com a sociedade? Pesar-lhe-á, porventura, a consciência? Por favor, dessa caridade não precisamos nós, guarde-a para si e meta-a na gaveta de onde a mesma veio, que é para não ser mal-educado (outra vez). E, senhor antigo ministro, se a isto tudo juntarmos o facto de um dos quatro canais generalistas ter acabado de anunciar o facto de sua excelência o senhor doutor Durão Barroso se preparar para usufruir de uma reforma de cento e trinta e quatro mil euros por ano, então não podemos deixar de nos perguntar se vai o senhor Barroso também vai prescindir da sua reforma a troco de um pouco de companhia e de alguém que o ajude com “algumas coisas“?
Neste capítulo, coíbo-me de usar o sarcasmo, porque a resposta é um redondo NÃO. E por aqui termino, senhor antigo ministro, mais ou menos por onde comecei, com o meu profundo desapontamento com todas as propostas de um partido que almeja ser governo, mais uma vez, e outra vez, contra os interesses de quem é suposto votar em si e nos seus, há quarenta anos a roubar Portugal. Por isso (e por outras), lá estarei, senhor ministro, no dia das eleições, a votar para que você lá não esteja.