Isto não é apenas um museu, é a História dos judeus no Porto

A Sinagoga Kadoorie Mekor Haim no Porto já tem em funcionamento um novo museu judaico.

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O museu que entrou recentemente em funcionamento é a prova de que a comunidade quer dar a conhecer a sua História. O pequeno núcleo museológico existente não estava devidamente organizado para um espaço que no ano passado recebeu cerca de 10 mil visitantes. “Sentimos a necessidade de falar um pouco da História da comunidade judaica no Porto, mais concretamente da época medieval até aos nossos dias”, explica Hugo Vaz, responsável pelo departamento de turismo da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim. O facto de não existir, no Porto, qualquer local onde fosse possível descobrir mais sobre a comunidade, com raízes de séculos na cidade, foi uma das razões para este empreendimento.

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O museu que entrou recentemente em funcionamento é a prova de que a comunidade quer dar a conhecer a sua História. O pequeno núcleo museológico existente não estava devidamente organizado para um espaço que no ano passado recebeu cerca de 10 mil visitantes. “Sentimos a necessidade de falar um pouco da História da comunidade judaica no Porto, mais concretamente da época medieval até aos nossos dias”, explica Hugo Vaz, responsável pelo departamento de turismo da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim. O facto de não existir, no Porto, qualquer local onde fosse possível descobrir mais sobre a comunidade, com raízes de séculos na cidade, foi uma das razões para este empreendimento.

As entidades governamentais não entraram no orçamento do museu, as famílias de beneméritos e a própria comunidade foram os únicos obreiros. A família Kadoorie, que dá nome à sinagoga e é tida como a referência entre os judeus no Porto, foi a que doou parte dos objectos. E que objectos são esses? Na ala central encontra-se uma placa onde estão registados quase 900 nomes de judeus vítimas da Inquisição no Porto. Esta listagem de homens e mulheres, com os seus primeiros nomes e  apelidos, acompanhados de algumas alcunhas, presta homenagem aos que padeceram em nome da religião, “numa época em que o judaísmo era absolutamente proibido em Portugal”, relembra Hugo Vaz.

De 1380 chega a réplica de uma epígrafe encontrada no século XIX sobre a inauguração de uma sinagoga medieval no Porto. Este é apenas um dos exemplos da documentação inédita agora disponibilizada.

O carácter didáctico é literalmente levado à letra com a representação de uma escola judaica (Yeshivah) numa sala. Um espaço que recupera a imagem de um espaço de aprendizagem que já existiu na sinagoga, durante cinco anos, mas que entretanto fechou por causa do ambiente menos favorável do Estado Novo ao judaísmo. A baixa afluência de alunos e a dimensão da comunidade não justificaram a sua reabertura nos dias de hoje.

A figura do capitão Barros Basto, o fundador da Comunidade Israelita do Porto, é a individualidade destacada no museu. Além de estarem expostos objectos relativos à sua vida militar, estão presentes documentos que demonstram um pouco do seu trabalho em prol da comunidade como, por exemplo, correspondência com a família Kadoorie acerca da sinagoga.

Os museus espalhados por todo o mundo dedicados à comunidade judaica foram um guia para este projecto. Aliás, a Sinagoga Kadoorie Mekor Haim tem desde há dois anos um protocolo com o Museu do Holocausto em Washington, ao qual se compromete a providenciar documentos relativos a refugiados judeus no Porto durante II Guerra Mundial.

O regresso do anti-semitismo à Europa, um facto temido depois de ataques como o que aconteceu no museu judaico de Bruxelas, a 24 de Maio de 2014, não é considerado um problema em Portugal. A comunidade sente-se segura e tem a certeza de que vive num país tolerante. “Nós temos segurança na sinagoga,  nunca sentimos nenhuma espécie de anti-semitismo no país. Nunca tivemos qualquer tipo de problema”, esclarece Hugo Vaz.

O museu ainda não está totalmente concluído, falta organizar a biblioteca e terminar pequenos trabalhos no acesso às salas de exposição. A inauguração é a 28 de Junho. A cerimónia vai contar com a presença do rabino da sinagoga Kadoorie Mekor Haim, Daniel Litvak e Dale Jeffries, presidente da Comunidade Israelita do Porto.

Na Rua de Guerra Junqueiro já são habituais os olhares curiosos para a sinagoga. É a maior da Península Ibérica e talvez isso justifique o flash contínuo das câmaras fotográficas e dos mais variados dispositivos móveis. Os “fotógrafos” são sobretudo turistas estrangeiros, que querem visitar o espaço.

A sinagoga mostra-se imponente numa rua em que as habitações unifamiliares dominam a paisagem. O portão de um vermelho desgastado e o muro em seu redor são suficientes para demonstrar que este é o local protegido de uma comunidade. Uma comunidade há muito presente no Porto, e que nunca causou estranheza à maioria dos portuenses, ainda que poucos se atrevam a entrar no edifício. Não por medo, mas sobretudo por desconhecimento. Entre comentários e palpites, reina o argumento de que “precisam de ser judeus para entrar”. Hugo Vaz vem desmentir isso.

Tanto a sinagoga como o novo museu estão abertos a todos. Longe vão os tempos em que, durante a II Guerra Mundial, foram plantadas árvores em frente da sinagoga para escondê-la devido à proximidade do Colégio Alemão. A notoriedade que tem a nível nacional e internacional tem chamado visitantes dos mais variados locais e são muitos os portugueses que ali chegam em busca de um maior conhecimento sobre a religião judaica.

O museu está aberto das 9h30 ao 12h30 e das 14h30 às 17h30, encerrando aos sábados, dia sagrado para a religião, e aos feriados judaicos.

Texto editado por Ana Fernandes