Bach, reinvenção

Um choque: o violino à italiana que vem lançar uma nova luz sobre estas obras.

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Giuliano Carmignola, o expoente da recente “escola italiana de violino”, é como sempre de um virtuosismo estonteante e desfaz quaisquer dúvidas sobre a legitimidade deste Bach alla italiana DR

Sucedeu-me um dia pedirem-me um trecho num programa de rádio, e esse foi o Erbarme dich da Paixão Segundo São Mateus de Bach, por René Jacobs, direcção de Gustav Leonhardt; o meu interlocutor exclamou “essa é então a gravação definitiva da São Mateus”, ao que eu tive de replicar que não, não existem “gravações definitivas” de obra nenhuma, a questão é sempre de interpretação, sendo que há interpretações que se destacam e por vezes algumas em tudo contrastantes podem colocar-nos perante diferentes entendimentos da obra — esse é um valor capital da noção de “interpretação”.

Vem isto a propósito do verdadeiro choque que é esta interpretação dos Concertos de Bach pelo expoente da recente “escola italiana de violino” Giuliano Carmignola. Nunca ouvimos nada assim, por excelentes que sejam outras interpretações!

Interpretar os concertos e outras obras de Bach alla italiana é perfeitamente legítimo: afinal não eram os italianos o modelo de Bach, não é inclusive o Concerto para Quatro Cravos BWV 1065 uma transcrição do Concerto para Quatro Violinos op. 3, nº10, RV 580 de Vivaldi?

Carmignola é, como sempre, de um virtuosismo estonteante, e o Presto espasmódico do Concerto BWV 1056R está mesmo nos limites da vertigem e da admissibilidade. Mas este violino não é apenas virtuosístico e o que ouvimos é um Bach luminoso e solar como vez alguma antes, o Adagio do BWV 1042 e o Largo, ma non tanto do Concerto para Dois Violinos, com Mayumi Hirasaki, sendo apolineamente sublimes.

E mais: Carmignola não interpreta apenas os usuais três concertos, incluindo o Duplo, mas mais dois outros, BWV 1056R e BWV 1052R, reconstruções a partir de concertos para cravo. 

Não, nunca ouvimos assim estas obras. É raro, mas eis uma daquelas interpretações que são uma autêntica reinvenção, que nos permitem redescobrir obras tantas e tantas vezes ouvidas, tão conhecidas. Prodigioso!

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Sucedeu-me um dia pedirem-me um trecho num programa de rádio, e esse foi o Erbarme dich da Paixão Segundo São Mateus de Bach, por René Jacobs, direcção de Gustav Leonhardt; o meu interlocutor exclamou “essa é então a gravação definitiva da São Mateus”, ao que eu tive de replicar que não, não existem “gravações definitivas” de obra nenhuma, a questão é sempre de interpretação, sendo que há interpretações que se destacam e por vezes algumas em tudo contrastantes podem colocar-nos perante diferentes entendimentos da obra — esse é um valor capital da noção de “interpretação”.

Vem isto a propósito do verdadeiro choque que é esta interpretação dos Concertos de Bach pelo expoente da recente “escola italiana de violino” Giuliano Carmignola. Nunca ouvimos nada assim, por excelentes que sejam outras interpretações!

Interpretar os concertos e outras obras de Bach alla italiana é perfeitamente legítimo: afinal não eram os italianos o modelo de Bach, não é inclusive o Concerto para Quatro Cravos BWV 1065 uma transcrição do Concerto para Quatro Violinos op. 3, nº10, RV 580 de Vivaldi?

Carmignola é, como sempre, de um virtuosismo estonteante, e o Presto espasmódico do Concerto BWV 1056R está mesmo nos limites da vertigem e da admissibilidade. Mas este violino não é apenas virtuosístico e o que ouvimos é um Bach luminoso e solar como vez alguma antes, o Adagio do BWV 1042 e o Largo, ma non tanto do Concerto para Dois Violinos, com Mayumi Hirasaki, sendo apolineamente sublimes.

E mais: Carmignola não interpreta apenas os usuais três concertos, incluindo o Duplo, mas mais dois outros, BWV 1056R e BWV 1052R, reconstruções a partir de concertos para cravo. 

Não, nunca ouvimos assim estas obras. É raro, mas eis uma daquelas interpretações que são uma autêntica reinvenção, que nos permitem redescobrir obras tantas e tantas vezes ouvidas, tão conhecidas. Prodigioso!

Concerto para dois Violinos, Cordas e Baixo Contínuo em D Minor, BWV 1043. Largo, ma non tanto Giuliano Carmignola