FMI endurece discurso sobre a Grécia dizendo que saída do euro é possível
Reunião do G7 dominada pela questão grega, quando há nova data crucial na próxima semana. Responsáveis envolvidos nas negociações dizem que acordo ainda não está perto de ser concluído.
Enquanto isso, os mercados reagem a declarações ou atmosferas mais ou menos positivas. Parece haver um guião: fontes manifestam-se optimistas em relação a acordos, bolsas reagem, para pouco depois as esperanças virem a desmoronar-se, e os progressos se manterem insondáveis.
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Enquanto isso, os mercados reagem a declarações ou atmosferas mais ou menos positivas. Parece haver um guião: fontes manifestam-se optimistas em relação a acordos, bolsas reagem, para pouco depois as esperanças virem a desmoronar-se, e os progressos se manterem insondáveis.
Nesta quinta-feira, a Grécia foi o centro da reunião do G7, o grupo de sete países mais industralizados do mundo, que se juntou na cidade alemã de Dresden. Nas declarações laterais, a directora-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde, foi particularmente dura. A saída da Grécia do euro é uma possibilidade, declarou ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine. Mais, uma saída da Grécia do euro não seria fácil, mas “provavelmente não seria o fim do euro”.
O secretário do Tesouro dos EUA, Jack Lew, tinha mostrado antes uma posição bastante diferente. Lew avisou que iria usar a reunião do G7 para pressionar a Grécia e os credores europeus para cederem e acertarem um acordo antes que seja tarde demais. “Ninguém deve ter uma falsa sensação de confiança de que sabe qual seria o resultado de uma crise na Grécia”, alertou.
Já o comissário europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros Pierre Moscovici repetiu que há ainda muito a fazer, mas tentou dar uma dimensão do que já foi conseguido: “três quartos” de um acordo.
Do lado grego, o responsável pelas negociações, Euclid Tsakalotos, diz que está mais perto um acordo com os credores mas será preciso tomar decisões políticas. Os técnicos terminarão as negociações mas a dada altura será preciso uma decisão dos líderes, defendeu Tsakalotos.
A data em que o Estado grego deixará de ter dinheiro para pagar os seus compromissos, entrando em incumprimento, é vista quase consensualmente como sendo 5 de Junho, data de um pagamento de 300 milhões devido ao FMI. Embora haja quem preveja alguma margem, essa tolerância não deverá ir além do final desse mês. Ontem antecipava-se que as prestações que a Grécia deve ao FMI poderiam ser juntas (em Junho vencem prazos de quatro prestações) e a liquidação adiada até ao final do mês. Em Junho termina ainda o prazo do acordo de empréstimo e, sem um acordo ou uma extensão, a última tranche de 7 mil milhões poderia ficar por entregar.
Em causa parecem estar três exigências: um imposto único para todos os bens de 18%, um corte nas pensões (seria o quinto em cinco anos) ou o fim das reformas antecipadas, e mudanças na legislação de trabalho que facilitariam o despedimento nas empresas privadas. O jornalista Nick Malkoutzis sublinha que estas são medidas que o Governo anterior não quis, ou não conseguiu, levar ao Parlamento e que foi por isso que precipitou as eleições antecipadas de Janeiro, que o Syriza venceu.
Viragem na opinião pública
O actual primeiro-ministro teria o mesmo problema, antecipa o jornalista. Malkoutzis não exclui que o executivo aceite ceder nas suas linhas vermelhas, mas as consequências são imprevisíveis – o Governo pode conseguir dos credores concessões suficientes para argumentar que há espaço para a recuperação económica, e sobreviver com a deserção de apenas alguns deputados da ala mais radical do Syriza.
Caso não consiga este espaço, o Governo pode cair e é pouco provável que consiga sobreviver mesmo com apoios de partidos como o To Potami ou o Pasok (socialista). Há ainda a hipótese de referendo a um acordo, não muito apetecida, porque, apesar de a maioria dos gregos dizer que se quer manter no euro mesmo com um novo memorando, essa percentagem vem a diminuir – está numa maioria de 55%, mas os analistas alertam: não é uma maioria estável.
Enquanto isso, pela primeira vez desde que o Syriza chegou ao Governo, uma sondagem revela que é maior o número de gregos que dizem achar errada a estratégia negocial do Governo – 41% contra 35% que a acham certa. No entanto, na popularidade dos partidos, a oposição não ganha com isso: o partido de Tsipras mantém-se o mais popular com 48,5%; segue-se o seu rival conservador Nova Democracia nuns distantes 21%; comunistas e extrema-direita com 6% cada; Potami com 5,5%; socialistas com 4%; Gregos Independentes (conservadores populistas, parceiros minoritários no executivo), com 3,5%.
A alta taxa de aprovação do Syriza e de Tsipras leva o analista Gabriel Sterne, da empresa de consultoria Oxford Economics, a argumentar no Financial Times que é mais provável que o primeiro-ministro grego insista nas suas “linhas vermelhas” e não ceda mesmo, arriscando o incumprimento e a saída do euro.
UE e FMI em desacordo
Do outro lado, não existe especulação sobre de que exigências poderão desistir os credores, embora haja rumores de dissonância entre o FMI e a União Europeia, cada um com prioridades diferentes. Também haverá posições divergentes até dentro do Governo da principal potência europeia, a Alemanha (o jornal Die Welt diz que a chanceler e o seu ministro das Finanças estão em desacordo sobre o grau de aceitação da possibilidade de uma saída da Grécia do euro – Angela Merkel não a quer contemplar, Wolfgang Schäuble diz que é preciso ter a hipótese em cima da mesa para pressionar a Grécia).
Nesta quinta-feira, mais um rumor, ou mais uma dissonância – fontes do FMI dizem que pode ser necessária uma redução da dívida grega, algo que os europeus têm recusado. Depois da sua declaração sobre a possível saída do euro da Grécia, Lagarde acrescentou que a permanência da Grécia no euro não é responsabilidade do FMI. Mais, se os europeus querem evitar este cenário, devem encontrar modos de o fazerem eles próprios, declarou.