Governo recua e "para já" não privatiza a Carristur
Plano é "potenciar" o valor da empresa de transporte turístico para, eventualmente, a vender daqui por alguns anos.
“A Carristur estava até ao início desta semana para ser privatizada, mas foi decidido não se efectuar para já a privatização”, afirmou o presidente do conselho de administração da empresa que junta a Carris, o Metropolitano de Lisboa, a Soflusa e a Transtejo. “Considerou-se que nesta fase podemos potenciar mais a Carristur, fazê-la crescer, para eventualmente o Estado daqui por cinco ou seis anos a vender”, explicou, questionado pelos jornalistas sobre os motivos desta mudança de planos.
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“A Carristur estava até ao início desta semana para ser privatizada, mas foi decidido não se efectuar para já a privatização”, afirmou o presidente do conselho de administração da empresa que junta a Carris, o Metropolitano de Lisboa, a Soflusa e a Transtejo. “Considerou-se que nesta fase podemos potenciar mais a Carristur, fazê-la crescer, para eventualmente o Estado daqui por cinco ou seis anos a vender”, explicou, questionado pelos jornalistas sobre os motivos desta mudança de planos.
A privatização da empresa criada em 1998 e dedicada exclusivamente ao transporte turístico – não só em Lisboa mas também no Porto, Funchal, Braga, Coimbra e Guimarães – estava prevista no programa assinado com a troika, tal como as subconcessões da Carris e do Metro de Lisboa, para as quais estão ainda a decorrer os concursos internacionais. Em Outubro do ano passado, o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, prometeu avançar "a breve trecho" com o processo da Carristur.
Em 2013, a Carristur obteve lucros de cerca de meio milhão de euros, com o aumento das vendas face a 2012, atingindo 12,4 milhões de euros. A recente transferência da operação de cruzeiros fluviais da Transtejo, no rio Tejo, para a esfera da Carristur, bem como o reforço de circuitos turísticos de eléctrico pela cidade de Lisboa, deverá contribuir para a valorização da empresa.
Ressuscitar o 24, só para turistas
Nesta quinta-feira, os carris centenários onde antes circulava o eléctrico 24 voltaram a funcionar, depois de 20 anos desactivados. Foi inaugurado o circuito Chiado Tram Tour, o segundo da linha Tram Tour, que utiliza eléctricos históricos revestidos a cortiça no exterior e no interior – desde os bancos ao tecto, passando pelas cortinas das janelas. A viagem, com duração de 20 minutos, faz-se entre o Largo de Camões e o Príncipe Real, todos os dias entre as 11h e as 16h, num sistema hop-on hop-off, que permite sair e voltar a entrar em qualquer paragem. O bilhete custa seis euros para adultos e três euros para crianças dos quatro aos dez anos.
Pelo caminho, os passageiros vão ouvindo a história dos lugares por onde passam, à mistura com o fado que toca no rádio a bordo. Uma voz feminina conta, em breves passagens, a história do Bairro Alto dos jornais que deram nome a algumas ruas, fala dos pregões dos vendedores da lotaria, lembra o Chiado como centro do romantismo português, promove o ascensor da Glória (o "amarelinho" repleto de tags e graffiti).
A viagem inaugural não escapou a percalços: um camião parado a meio da Rua da Misericórdia, junto a um prédio em obras, obrigou o eléctrico a parar durante alguns minutos, formando uma longa fila de trânsito. Isto mesmo apesar de a Câmara de Lisboa ter marcado o alcatrão com tinta branca e instalado pilaretes de plástico amarelo junto aos passeios, para impedir o estacionamento e facilitar a passagem dos eléctricos.
Ainda curto (cerca de um quilómetro entre os dois pontos), o percurso poderá esticar nos próximos tempos. "Os próximos passos são a ligação ao Largo do Carmo [aproveitando os carris ainda no terreno] e eventualmente a ligação ao circuito do Castelo e a outros que se possam seguir", afirmou António Proença, director-geral da Carristur. "Gostaríamos muito de o levar [o eléctrico] ao Largo do Rato, às Amoreiras e a Campo de Ourique", admitiu, sem adiantar mais pormenores.
A reactivação dos carris para a sua utilização parcial, com fins unicamente turísticos, motivou protestos por parte da Junta de Freguesia da Misericórdia e também da Plataforma Eléctrico 24. Ambos defendem a reactivação da antiga carreira, que ligava o Cais do Sodré a Campolide, como serviço de transporte público e destinado a toda a população. No entanto, essa hipótese não parece estar em cima da mesa.
"Não sabemos se o 24 vai voltar ou não", disse Rui Loureiro, acrescentando que a reactivação dependerá da procura registada no percurso Chiado Tram Tour. Porém, mesmo que o 24 seja "ressuscitado", será igualmente para os turistas. "Há uma intencionalidade de tentar que os eléctricos passem todos para o turismo", afirmou o presidente da Transportes de Lisboa, sublinhando que "o turismo baseado em eléctricos é algo que veio para ficar". O responsável admitiu, porém, a possibilidade de criar passes especiais para que os lisboetas possam também disfrutar do serviço, por preços mais baixos.
Questionado sobre se não seria rentável reforçar a oferta de carreiras naquela zona, servida unicamente pelo autocarro 758, normalmente utilizado por uma população idosa e com problemas de mobilidade, Rui Loureiro respondeu que "a Carris poderá repensar a oferta" caso se justifique. "A ocupação média dos autocarros da Carris é de 28% e qualquer reorganização tem de ser bem pensada", acrescentou.
A par do novo circuito, a Carristur também alargou a linha Castle Tram Tour, acrescentando duas paragens (Martim Moniz e Largo da Graça) ao percurso que passa em locais emblemáticos de Alfama como a Sé, o Castelo de S. Jorge e o Mosteiro de São Vicente de Fora. O bilhete para este circuito custa dez euros para adultos e cinco para crianças.