Fogo de bonecos: andam à roda, à roda e, no fim, rebenta-lhes a cabeça

Espectáculo dedicado ao público infanto-juvenil é ponto alto no dia do Senhor de Matosinhos, que se assinala esta terça feira.

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A pilha de papel de embrulho está logo ao lado, numa mesa de trabalho onde se desenha roupa, se for preciso. Não é difícil criar roupa de papel para estas personagens inventadas. Pelo menos para Sampaio Marques, que já quase o consegue fazer de olhos fechados. “Estou nesta empresa há 27 anos, e todos os anos me calha a mim. Primeiro fui aprendiz do senhor Macedo; agora sou eu que estou a ensinar um rapaz.  Mas continuo a fazer os bonecos. Todos os anos”, conta o fogueteiro, numa tarde de quinta-feira em que o calor era forte e os cuidados eram muitos: “Não entre dentro do paiol para tirar fotografias, tem de as tirar a partir da porta”, pede.

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A pilha de papel de embrulho está logo ao lado, numa mesa de trabalho onde se desenha roupa, se for preciso. Não é difícil criar roupa de papel para estas personagens inventadas. Pelo menos para Sampaio Marques, que já quase o consegue fazer de olhos fechados. “Estou nesta empresa há 27 anos, e todos os anos me calha a mim. Primeiro fui aprendiz do senhor Macedo; agora sou eu que estou a ensinar um rapaz.  Mas continuo a fazer os bonecos. Todos os anos”, conta o fogueteiro, numa tarde de quinta-feira em que o calor era forte e os cuidados eram muitos: “Não entre dentro do paiol para tirar fotografias, tem de as tirar a partir da porta”, pede.

O barqueiro, o policia e o ladrão, os fogueteiros - porque também os há no enredo do Fogo de Bonecos, o espectáculo de pirotecnia dedicado ao público infanto-juvenil que é ponto alto da Romaria do Senhor de Matosinhos - e todos os outros bonecos estão em fase final de produção nas instalações da Macedos Pirotecnia. Sampaio Marques ainda não sabe a escala de trabalho, pelo que não tem a certeza se será ele quem vai “chegar o fogo” ao fim da tarde de terça-feira no Jardim do Parque 25 de Abril.  “Já estive em vários sítios com estes bonecos. Em frente à câmara, ao lado da biblioteca, perto do porto de Leixões. Acho que o sítio onde estamos agora é o melhor de todos. Há muito espaço para as crianças apreciarem o fogo e, com os painéis de acrílico que lá são colocados agora, não há perigo nenhum para ninguém”, explica o fogueteiro.

Construídos como se de marionetas se tratassem, estes bonecos são movidos a propulsão pirotécnica: o rebentamento de um foguete dá-lhe a energia que necessita para dar movimento ao boneco e à roda que o suporta. Até que rebenta outro foguete e o movimento continua. “andam à roda, à roda, à roda, até que explode a cabeça, a roupa arde até que se apaga, e passamos para o boneco seguinte”, descreve Sampaio Marques, que diz que aprendeu tudo o que sabe com Fernando Macedo. 

Fernando Macedo não se lembra quando foi a primeira vez. O primeiro impulso para responder à pergunta desde quando é que a Macedos é responsável por produzir este Fogo de Bonecos é dizer “desde sempre, acho”. “Pelo menos, desde que o meu avô fundou a empresa, já lá vão 80 anos”, explica. Nas memórias de Fernando, um dos quatro irmãos que, hoje em dia, dão continuidade à empresa de fogos de artíficio, e que é uma habituée nas noitadas de fogo de Passagem de Ano na ilha da Madeira, ou do fogo de São João, no Porto, o Fogo de Bonecos “faz parte da mobília”. “E por nós é para continuar a fazer por muito mais tempo, apesar de o único cliente que mantém a encomenda ser a Câmara Municipal de Matosinhos”, afirma Fernando Macedo. 

Não é pela complexidade pirotécnica que este fogo lhes é especial. Para uma empresa como a deles, que inscreveu no Guiness a autoria do maior espectáculo do mundo pelo rebentamento de 66.326 foguetes na passagem de ano de 2005/2006 na Madeira (“o recorde já não é nosso; foi ultrapassado pelos árabes do Dubai”, explica), a emoção do Fogo dos Bonecos é outra. “É mesmo o carinho pela tradição. É saber que antigamente, nas freguesias do Norte, havia muitos Fogos de Bonecos e que agora só há um. É o último. Nós, pelo menos, não os vendemos para mais lado nenhum. Temos, por isso, de acarinhar este, antes que desapareça”.

A Macedos também foi a responsável pelo fogo de artificio que no passado sábado estourou nos céus junto à Doca de Leixões e que este ano foi ainda maior do que o que é costume. Foram 765 quilos de matéria explosiva dispersada nos céus à cadência de 466 disparos por minuto. De combustão bem mais lenta, o Fogo dos Bonecos está programado para as 19h no Largo do Parque 25 de Abril e tem duração estimada de cerca de 30 minutos, o tempo que demora a queimar todos os 18 bonecos ou grupo de bonecos que compõem o enredo. Como descreve Sampaio Marques, andam à roda, à roda, à roda, até que no fim lhes rebenta cabeça.