Coimbra renova contrato com coordenador do projecto Convento de S. Francisco
Quantia envolvida aumenta 30 mil euros. Sobre a estratégia para o espaço, agentes culturais dividem-se entre o cepticismo e a expectativa.
A contratação, por ajuste directo, de João Aidos para coordenar o projecto do Centro de Convenções e Espaço Cultural do Convento de S. Francisco, em Coimbra, regressou, na segunda-feira, à reunião do executivo camarário. O processo foi mais uma vez contestado pelo vereador eleito pelo movimento cívico Cidadãos por Coimbra (CpC), José Ferreira da Silva. O prolongamento do vínculo da empresa de Aidos com a autarquia, por um valor 30 mil euros superior ao anteriormente contratado, foi aprovado na reunião do executivo com o voto de qualidade do presidente socialista, Manuel Machado, os votos contra de PSD e CpC e abstenção da CDU.
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A contratação, por ajuste directo, de João Aidos para coordenar o projecto do Centro de Convenções e Espaço Cultural do Convento de S. Francisco, em Coimbra, regressou, na segunda-feira, à reunião do executivo camarário. O processo foi mais uma vez contestado pelo vereador eleito pelo movimento cívico Cidadãos por Coimbra (CpC), José Ferreira da Silva. O prolongamento do vínculo da empresa de Aidos com a autarquia, por um valor 30 mil euros superior ao anteriormente contratado, foi aprovado na reunião do executivo com o voto de qualidade do presidente socialista, Manuel Machado, os votos contra de PSD e CpC e abstenção da CDU.
O anterior vínculo envolvia uma quantia na ordem dos 45 mil euros, sendo que esse valor sobe agora para perto de 75 mil. Em declarações prestadas ao PÚBLICO na semana passada, Machado realçou que Aidos “é um dos profissionais que há em Portugal mais bem qualificados para empreender este desafio comigo” e que “foi contratado em cumprimento do código de contratos públicos”.
Depois de, na conferência da passada sexta-feira, ter sido apresentado o plano estratégico para o Centro de Convenções e Espaço Cultural (CCEC) do Convento de S. Francisco, os agentes culturais da cidade com quem o PÚBLICO conversou previamente, não mudaram de opinião.
Face ao desconhecimento das linhas orientadoras, as posições situavam-se entre o cepticismo e a expectativa. O director da Capital Nacional da Cultura, acolhida em 2003 por Coimbra, Abílio Hernandez, admite estar pouco entusiasmado com o que foi tornado público. “A apresentação da estratégia foi muito fraquinha, decepcionante e muito superficial”, lamentou o também director fundador do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Abílio Hernandez diz que “falta uma ideia de cultura e de cidade e tudo isso está completamente excluído”.
Augusto Barros, director da companhia de teatro A Escola da Noite, que gere o Teatro da Cerca de São Bernardo, propriedade municipal, encontra pontos de contacto com a opinião de Abílio Hernandez. “Aquilo a que é chamado 'estratégia' parece-me três ou quatro postulados genéricos que se fariam relativamente a qualquer instituição deste género”, entende. “Diz-se que não se quer programar aquele espaço como uma coisa isolada e que é necessário falar com os parceiros, mas a primeira coisa que se pode detectar é que falta falar com os parceiros. Isto não é um pormenor”, avalia. No entanto, como considera que o processo não é transparente, “todas as dúvidas são possíveis”. Augusto Barros também acusa o município de opacidade na questão da gestão do projecto. “O que nós vemos é a entrega da gestão da obra e da estratégia a um boy, através de uma série de ajustes directos”, acusa, indicando para a necessidade de um concurso público.
Já o director do Teatro Académico Gil Vicente (TAGV) considera que a conferência constituiu “um espaço preliminar de apresentação de linhas de programação” e encontra “linhas de programação que têm racionalidade”. “Esta complementaridade entre centro cultural, eventos e congressos e welcome center, no seu todo, faz uma estrutura de programa”, avalia Fernando Matos de Oliveira, ressalvando no entanto que “este foi o primeiro encontro do projecto com a cidade” e que o diálogo com esta “arquitectura de acção” precisa de ser levada a projectos concretos. O director do TAGV vê com bons olhos a “disponibilidade manifestada para colaborações, para co-produções, para co-criações e para residências artísticas” naquele equipamento.
Apesar de ambos programarem estruturas culturais do município, Augusto Barros e Cláudia Pato estão em dissonância. Relativamente ao documento apresentado, Cláudia Pato, da direcção d’O Teatrão, identifica “conceitos base que estão associados à programação” e entende que “são ideias bastantes generalistas, passiveis de ser concretizadas”. No entanto a responsável lamenta que, durante a conferência que teve lugar no Convento de S. Francisco, não tenha havido espaço para que a “proposta pudesse ser discutida e pudesse ter uma participação ampla da cidade e da região”.