Algas da maior colecção do mundo podem chegar à saúde e alimentação
Algoteca da Universidade de Coimbra quer pôr 4000 estirpes ao serviço da alimentação, energia e saúde.
A Algoteca, com mais de 30 anos, é uma colecção onde perfilam cerca de seis mil tubos que guardam mais de 4000 estirpes e 1200 espécies diferentes de algas. A coordenadora, Lília Santos, diz que é um "Jardim Botânico dentro de tubos de ensaio", sublinhando a diversidade que se encontra na pequena sala climatizada da colecção.
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A Algoteca, com mais de 30 anos, é uma colecção onde perfilam cerca de seis mil tubos que guardam mais de 4000 estirpes e 1200 espécies diferentes de algas. A coordenadora, Lília Santos, diz que é um "Jardim Botânico dentro de tubos de ensaio", sublinhando a diversidade que se encontra na pequena sala climatizada da colecção.
Depois da recolha ao longo de mais de 30 anos, a equipa à frente da Algoteca quer utilizar o conhecimento acumulado e perceber o potencial valor económico e comercial que as algas podem ter, diz Lília Santos, sublinhando que as microalgas poderão ter aplicações na área da energia, alimentação e saúde.
O foco será na vertente alimentar, em que as microalgas apresentam "várias potencialidades", sublinhando que há "de certeza vitaminas, valor antioxidante, pigmentos muito interessantes, para além de óleos essenciais, fibras e açúcares".
Para breve, estará um doutoramento em torno das Eustigmatophyseae, microalgas com "um valor antioxidante próximo da framboesa", refere, acrescentando que a Algoteca está de momento a participar num projecto europeu que procura "investigar o potencial de cerca de mil destas culturas para efeitos de possível aplicação médica", utilizando moléculas ou compostos com actividade antimicrobiana presentes em microalgas.
Esta viragem para a biotecnologia e aplicação da colecção centra-se na preocupação de que o espólio existente "não seja um espólio fixo. Que possa ter uma dinâmica e um retorno do investimento feito", frisou.
Há até a ideia de criar uma start-up, vontade que surgiu "há três ou quatro anos", e que ainda poderá ser realizada, avançou Lília Santos.
A colecção é "quase 100%" de algas recolhidas em Portugal, sendo que o seu ponto de recolha pode ser algo inusitado. Para além de rios e lagos, há tubos que contêm microalgas recolhidas em espaços como os vitrais do Mosteiro da Batalha, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, a Porta Férrea da Universidade de Coimbra ou a estátua de Avelar Brotero, no Jardim Botânico. "Há espaços incríveis onde se podem recolher" algas, realçou, contando que todo o processo é "demorado e complicado".
Num "pedacinho de amostra de água de um rio ou lago" podem surgir 100 ou 200 microalgas diferentes, tendo-se depois de se isolar ao microscópio aquelas que interessam. "É um processo que pode levar meses", sendo depois também necessária uma manutenção regular: de três em três meses todos os seis mil tubos têm de ser mudados.
Na Algoteca, nota-se vontade e entusiasmo de continuar a trabalhar, apesar dos cortes na ciência que também aqui são sentidos.
O entusiasmo está espelhado no discurso de Lília Santos em torno das microalgas, mostrando imagens das mais bonitas, como a "alga sol" ou a Micrasterias, que parece dar um beijo no seu processo de multiplicação.
Há também espaço para falar de uma muito especial, a Desmodesmus Santos, uma alga com o apelido de Lília e da investigadora responsável pelo desenvolvimento da colecção nos anos 1970, Fátima Santos, dado por um cientista alemão, em homenagem às duas investigadoras portuguesas. "Podia estar o dia todo a falar de algas", conta Lília Santos, sublinhando que a grande missão agora é transferir todo o conhecimento acumulado sobre as microalgas da colecção para a sociedade.