Os gestos e os trejeitos de Carlos Costa
O mandato do governador do Banco de Portugal termina em Junho. Fará sentido manter Costa?
“Carlos Costa ao afirmar ‘com toda a clareza’ expressa uma linguagem corporal completamente em desacordo com ‘clareza’, exibindo assim uma forte incongruência, sendo uma excelente revelação de que não existe clareza nenhuma na afirmação que proferiu”. A frase é de Rui Mergulhão Mendes, especialista em linguagem corporal, a quem a Revista 2 pediu que observasse e interpretasse os depoimentos dos protagonistas que passaram pela comissão de inquérito ao caso BES. No caso de Carlos Costa, independentemente dos trejeitos e das caretas, ficou claro para quem ouviu (e não precisava sequer de ver) que o governador falhou em quatro pontos: demorou muito tempo a afastar Ricardo Salgado, criou expectativas falsas aos subscritores do papel comercial e aos pequenos accionistas, garantiu que o BES estava sólido numa altura em que já não estava, e a sua relação (ou falta dela) com a CMVM foi confrangedora.
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“Carlos Costa ao afirmar ‘com toda a clareza’ expressa uma linguagem corporal completamente em desacordo com ‘clareza’, exibindo assim uma forte incongruência, sendo uma excelente revelação de que não existe clareza nenhuma na afirmação que proferiu”. A frase é de Rui Mergulhão Mendes, especialista em linguagem corporal, a quem a Revista 2 pediu que observasse e interpretasse os depoimentos dos protagonistas que passaram pela comissão de inquérito ao caso BES. No caso de Carlos Costa, independentemente dos trejeitos e das caretas, ficou claro para quem ouviu (e não precisava sequer de ver) que o governador falhou em quatro pontos: demorou muito tempo a afastar Ricardo Salgado, criou expectativas falsas aos subscritores do papel comercial e aos pequenos accionistas, garantiu que o BES estava sólido numa altura em que já não estava, e a sua relação (ou falta dela) com a CMVM foi confrangedora.
É com estas falhas no currículo que Carlos Costa se apresenta como potencial candidato a suceder a Carlos Costa no cargo de governador, estando já a provocar brechas no Governo e uma grande fractura com os partidos da oposição. Passos Coelho já lhe fez rasgados elogios. Percebe-se que para o primeiro-ministro seria incómodo mudar de governador numa altura em que a campanha eleitoral estará ao rubro. Qualquer deslize na venda do Novo Banco, ou nas reestruturações do Banif e do Montepio poderia ser fatal para a maioria. O actual governador tem pelo menos a vantagem de já conhecer os dossiers. E Passos tem uma espécie de dívida moral para com Carlos Costa; mesmo nos momentos mais difíceis do caso BES, o governador tomou sozinho as dores do processo e permitiu que o Governo passasse relativamente incólume num caso em que também foi protagonista.
Mas do ponto de vista da coerência manter o governador é no mínimo questionável. A própria ministra das Finanças, que dentro do Governo é quem mais lida com o Banco de Portugal, foi ao Parlamento dizer que “a supervisão se calhar também devia ter visto mais cedo” o que aconteceu no BES. Mas quem manda é o primeiro-ministro.
Esta nomeação para a continuidade de Costa poderá, no entanto, ganhar contornos caricatos. É que segundo a nova lei, que já foi aprovada por iniciativa do Partido Socialista, o candidato ao cargo de chefia do banco central terá de ser ouvido previamente no Parlamento e alvo de um relatório de apreciação por parte dos deputados. O que nos leva a questionar: o Parlamento não acabou de fazer uma relatório, e de o aprovar por uma larga maioria, onde avalia o trabalho de Carlos Costa? E nesse relatório não são feitas várias críticas ao governador, nomeadamente a de ter “actuado tardiamente” no caso BES? Dizem os especialistas em linguagem corporal que 93% do que comunicamos não é por palavras, mas por gestos e pequenas expressões do rosto. E na nomeação de Calos Costa é difícil evitar um torcer de nariz.