Porque respira ainda Sócrates
Com o aproximar das eleições, o preso 44 é ainda mais incómodo.
Está ainda longe o final do prazo para terminar o inquérito, que pode prolongar-se por mais ano e meio, mas isso não significa que o ex-primeiro-ministro tenha de passar todo esse tempo no Estabelecimento Prisional de Évora. O desfecho continuará a depender da avaliação que for sendo feita por quem de direito ao longo do decurso do processo. Portanto, está tudo em aberto, incluindo a hipótese de Sócrates ser libertado na próxima fase de ponderação sobre o inquérito, ou seja, daqui a três meses, pouco antes do início de um longo período de turbulência política, se pensarmos em duas campanhas eleitorais – legislativas e presidenciais – e nas negociações, que se adivinham longas e complexas, para a formação do próximo Governo.
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Está ainda longe o final do prazo para terminar o inquérito, que pode prolongar-se por mais ano e meio, mas isso não significa que o ex-primeiro-ministro tenha de passar todo esse tempo no Estabelecimento Prisional de Évora. O desfecho continuará a depender da avaliação que for sendo feita por quem de direito ao longo do decurso do processo. Portanto, está tudo em aberto, incluindo a hipótese de Sócrates ser libertado na próxima fase de ponderação sobre o inquérito, ou seja, daqui a três meses, pouco antes do início de um longo período de turbulência política, se pensarmos em duas campanhas eleitorais – legislativas e presidenciais – e nas negociações, que se adivinham longas e complexas, para a formação do próximo Governo.
É impossível prever que tipo de consequências teria a libertação do ex-governante nessa campanha, designadamente quem poderia beneficiar ou ser prejudicado por esse acontecimento. A imprevisibilidade do próprio Sócrates faz com que seja muito difícil avaliar se cederia ou não à tentação de intervir, ainda que indirectamente, no terreno eleitoral. Mas, tivesse ou não vontade de agir, o ex-líder do PS transformar-se-ia num pólo de atracção do espaço mediático, roubando palco e protagonismo a dirigentes políticos de todos os quadrantes. Ele seria, também, o ponto de partida de muitos dos temas em debate e a referência, para o bem e para o mal, de críticos e apoiantes. António Costa teria muita dificuldade em manter a fleuma e o distanciamento, tal como fez no início desta prisão incómoda, ao escudar-se no pequeno, mas sintomático, comentário: “Este é o tempo da Justiça.”
Quanto a Pedro Passos Coelho, que ainda recentemente “aconselhou” o seu partido a não usar a prisão de Sócrates como mote de campanha, o mais certo seria esquecer-se desse momento zen. A verdade é que, por agora, todos preferem ignorar que o preso 44 do estabelecimento de Évora ainda respira.