Irlandeses aprovam o casamento entre pessoas do mesmo sexo
O ministro da Saúde chamou-lhe um dia “histórico” em que os eleitores fizeram uma “revolução social”. “Parece que toda a gente optou pelo ‘sim’. É decepcionante”, disse um representante do “não”.
“Penso que está ganho. Em várias zonas que não são liberais o resultado inclinava-se claramente para o sim”, disse O’Riordain, que foi o primeiro a comentar o resultado. Ao fim do dia, quando estavam contados 40 dos 43 distritos eleitorais, o "sim" conseguira 62,3% dos votos, contra 37% do "não".
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“Penso que está ganho. Em várias zonas que não são liberais o resultado inclinava-se claramente para o sim”, disse O’Riordain, que foi o primeiro a comentar o resultado. Ao fim do dia, quando estavam contados 40 dos 43 distritos eleitorais, o "sim" conseguira 62,3% dos votos, contra 37% do "não".
A reforçar a convicção inicial do ministro sobre a vitória do “sim”, um dos principais líderes da campanha do “não”, o director do instituto católico Iona, David Quinn, publicou, também logo de manhã no Twitter, uma frase que foi entendida como um assumir de derrota: “Parabéns ao campo do ‘sim’”. “Parece que toda a gente optou pelo ‘sim’. É decepcionante”, comentou depois Murray aos jornalistas.
Nas ruas de Dublin, a capital irlandesa, a população começou cedo a celebrar este “acontecimento histórico”, como lhe chamou outro ministro, o da Saúde, Leo Varadkar. “O referendo - disse - constitui uma revolução cultural” num país que só em 1993 despenalizou a homossexualidade e que durante décadas viveu com o rótulo de feudo da Igreja Católica.
“É uma grande vitória para a igualdade na Irlanda e esta data vai entrar na História”, disse à AFP Noel Sutton, de 54 anos, que estava num dos 27 centros de contagem dos votos.
Nas semanas que antecederam o referendo, ficou clara a profunda mudança cultural que ocorreu na Irlanda nas últimas décadas. Se a população ainda é maioritariamente católica, esta Igreja perdeu poder político e influência social devido aos casos de pedofilia e porque as necessidades dos cidadãos os afastaram dos dogmas de Roma. O divórcio foi legalizado (em 1985, ao fim de dois referendos), os contraceptivos foram aprovados em 1995 e a homossexualidade deixou de ser crime em 1993. Da pesada herança legal da Igreja Católica, só o aborto permanece ilegal, mesmo em caso de violação.
O referendo mobilizou as forças políticas e sociais, com os partidos com representação parlamentar, os sindicatos, os media, as associações de estudantes, a apelarem ao voto “sim”. A população mobilizou-se e 3,2 milhões de pessoas registaram-se para votar neste país de 4,6 milhões de habitantes.
O primeiro-ministro, Enda Kenny, disse que ficou claro que os cidadãos se mobilizaram para participar neste referendo, que foi de 60,3%. Kenny sublinhou que muitos eleitores, sobretudo os mais jovens, fizeram dezenas, centenas e até milhares de quilómetros para participarem — nos jornais irlandeses apareceram notícias sobre imigrantes (podem votar os que saíram do país há 18 meses ou menos) que tiraram férias para estarem na Irlanda no dia da votação, sexta-feira. Alguns viajaram da Austrália.
“Percorreram quilómetros só para porem uma marca num boletim” que perguntava “Podem contrair matrimónio de acordo com a lei pessoas sem distinção de sexo?”, disse Kenny, explicando que é sinal de como os mais jovens valorizam o tema dos direitos homessexuais.
Em Dublin, onde vive um terço da população que vive no país, a participação no referendo foi de 65% e, aqui, o “sim” podia chegar aos 73% dos votos. “Tudo indica que a questão tocou na sensibilidade dos irlandeses e sinto-me orgulhoso de ser um cidadão deste país”, disse o ministro da Igualdade.
O instituto Iona emitiu um comunicado algumas horas depois de ter ficado claro que o “sim” vencera. “Esperamos que o Governo tenha em conta as preocupações dos que votaram ‘não’ quanto às implicações que esta decisão pode ter na liberdade religiosa e na liberdade de consciência”. Uma forma de referir que a Igreja Católica não celebrará casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
O senador Ronan Mullen, do campo do ‘não’, disse recear o “impacte negativo” da mudança na Constituição, que deixará de definir o casamento como um contrato entre um homem e uma mulher. E outra senadora, Fidelma Healy Eames, disse ao Irish Times que depois de ter decido votar “sim” mudou de opinião e votou “não”. “Para mim, isto nunca foi uma decisão anti-gay”, disse, explicando que ficou preocupada com as consequências do casamento entre pessoas do mesmo sexo nos direitos dos recém-nascidos, ou seja dos filhos dos casais do mesmo sexo.
Vinte anos depois da descriminalização da homossexualidade, a Irlanda aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Um homem que estava particularmente feliz era David Norris, senador e um histórico da luta pelos direitos dos homossexuais na Irlanda. “Quando este dia acabar, as pessoas gay serão iguais neste país. E isso é maravilhoso”, diz.