À procura do vinho português perfeito para o Rio
No primeiro dia do Vinhos de Portugal no Rio provou-se um Porto muito especial, de 1908, engarrafado para a ocasião. E falou-se da Touriga Nacional e dos vinhos ideais para beber no calor do Rio de Janeiro.
“O vinho é um presente de Deus” disse Dirceu antes de garantir que, apesar de estarmos a falar de “uma bebida fascinante e complexa” que “está connosco há cinco ou seis mil anos”, o seu papel ali seria “simplificar”. A assistência era quase toda composta por cariocas, alguns deles conhecedores de vinhos e todos apreciadores, claro.
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“O vinho é um presente de Deus” disse Dirceu antes de garantir que, apesar de estarmos a falar de “uma bebida fascinante e complexa” que “está connosco há cinco ou seis mil anos”, o seu papel ali seria “simplificar”. A assistência era quase toda composta por cariocas, alguns deles conhecedores de vinhos e todos apreciadores, claro.
O primeiro vinho apresentado pelo Master of Wine foi um Alvarinho, Muros de Melgaço 2013, de Anselmo Mendes, “um dos grandes produtores de vinhos de Portugal, se não do mundo, pessoa humilde, conhecedora e que procura sempre melhorar”. E, na opinião de Dirceu, “são pessoas assim que fazem vinhos excelentes”.
Num país como o Brasil em que o consumo continua a ser maioritariamente de tintos, Dirceu lembrou que “está-se a perder a oportunidade” de descobrir como os brancos são realmente indicados, neste caso para uma cidade como o Rio. “Imaginem que estou em Copacabana, a comer um peixe grelhado, este é um vinho jovem e alegre e isso para mim é Copacabana.”
E se um branco é perfeito, por que não um rosé, esse vinho sobre o qual ainda há poucos anos se dizia que “não era para homens” e que era “um subproduto do tinto”? Isso começou a mudar, garantiu, dando a provar um rosé de 2014 da Quinta da Covela, no Minho, de “textura sedosa” e ideal para beber junto a uma piscina ou até “numa recepção mais informal”.
A viagem seguiu com um Julia Kemper 2009, do Dão, “um Dão moderno, um vinho muito bem definido e puro, mas também complexo, com a acidez certa para… uma feijoada?”. Dirceu foi provocando a assistência, pedindo sugestões de pratos do Brasil perfeitos para cada vinho. Houve quem sugerisse cordeiro ou ossobuco.
Passámos depois para o Alentejo, com um Cortes de Cima de 2012, “vinho exuberante, quase ao estilo do Novo Mundo” – embora, acrescentou, “hoje os vinhos do Novo Mundo estejam aproximando-se do Velho Mundo e vice-versa”. Como “porta de entrada” no universo dos vinhos portugueses, Dirceu propõe os precisamente os alentejanos, “vinhos mais fáceis, mais frutados”, bons para “um churrasco de domingo com os amigos”.
A prova, muito aplaudida no final, terminou com um Vinha Grande da Casa Ferreirinha de 2011, e um Poeira de 2012, oportunidade para se comparar dois vinhos do Douro, o primeiro “mais clássico”, o segundo “mais moderno”.
Um momento alto das provas deste primeiro dia – que começaram às 10h da manhã com um Curso de Introdução ao vinho pelo crítico e colaborador do PÚBLICO Rui Falcão – foi protagonizado por um vinho do Porto muito especial, que Manuel Carvalho, também crítico do PÚBLICO, trouxe para o Rio. Foi engarrafado especialmente para este evento (apenas três garrafas) e é um vinho ainda do tempo da monarquia, de 1908, da Real Companhia Velha, “algo muito raro de se poder experimentar”, sublinhou o crítico.
Pedro Garcias, do PÚBLICO, falou de manhã sobre os Grandes Brancos e ao final da tarde sobre os Grandes Tintos, começando por explicar o mundo de oportunidades que constitui o facto de Portugal ter “250 castas e em alguns casos ter 500 variedades de uma única casta” a que se juntam “500 elementos químicos a actuar ao mesmo tempo na alquimia do vinho”.
Pelos copos da assistência passaram um José de Sousa 2012, do Alentejo, um Sidónio de Sousa 2008, da Bairrada, um Quinta da Romaneira 2008, do Douro (“que tem o calor do Alentejo e a frescura da Bairrada”), um vinho biológico da Casa de Mouraz 2010, do Dão, um Poeira 2011, Douro, e, para terminar um Quinta das Marias Garrafeira 2010, novamente o Dão.
A prova foi uma viagem pelas regiões de Portugal e um pretexto para Pedro Garcias falar das especificidades de cada uma e até deixar um conselho: “Se quiserem investir em vinhos, comprem os de 2011, a grande safra de Portugal dos últimos anos.”
A oportunidade de falar sobre a mais conhecida casta portuguesa no Brasil, a Touriga Nacional, que se tornou já um emblema de Portugal (no mercado de vinhos, ao lado da sala de provas, onde estão mais de 70 produtores de Portugal, ouve-se frequentemente perguntar “tem Touriga Nacional?”) coube a dois brasileiros, críticos de O Globo, Pedro de Mello e Souza e Luciana Fróes. Foram dados a provar Julia Kemper Touriga Nacional 2011, Quinta do Vallado Touriga Nacional 2014, Júlio Bastos Dona Maria 2012, Quinta do Pinto Touriga Nacional 2011 e Quinta do Piloto Touriga Nacional 2013.
No final, Pedro de Mello e Souza contou ao PÚBLICO que viveu em Portugal nos anos 70 e que desde há muito que acompanha a evolução dos vinhos portugueses. Quando propôs fazer uma prova centrada na Touriga Nacional queria mostrar como “num país tão pequeno as diferenças tão dramáticas entre microclimas e terroirs podem dar diferentes expressões à mesma casta”. Uma breve sondagem pela assistência sobre preferências deu “empate técnico”. Ou seja, “cada pessoa tinha o seu paladar representado de alguma forma naquele conjunto de vinhos”.