Mãe queixou-se de leite fora de prazo e ficou sem ajuda alimentar
Andreia Branco reclamou do leite fora de prazo para o seu filho de seis meses, oferecido por um programa de ajuda alimentar na Quinta do Conde, em Sesimbra.
Os responsáveis do programa de ajuda e solidariedade social, que é uma iniciativa informal do Rotary E-Club de Sesimbra e que conta com a colaboração da câmara local, confirmam o diferendo com a beneficiária, Andreia Branco, mas apresentam uma versão diferente do caso.
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Os responsáveis do programa de ajuda e solidariedade social, que é uma iniciativa informal do Rotary E-Club de Sesimbra e que conta com a colaboração da câmara local, confirmam o diferendo com a beneficiária, Andreia Branco, mas apresentam uma versão diferente do caso.
Teresa Mayer, coordenadora deste projecto, não quis falar ao PÚBLICO, mas delegou essa tarefa em dois dos três voluntários que a ajudam. Isabel Godinho e Emídio Mendes garantem que não são distribuídos alimentos fora de prazo e acusam a utente de “má-fé” e “ingratidão”.
“Nós damos alimentos com pouco prazo de validade, que é assim que os hipermercados nos fazem as doações, mas não fora de prazo”, assegura Emídio Mendes, explicando que recolhem os bens nos estabelecimentos no mesmo dia, “poucas horas antes” da distribuição. Além disso, acrescenta Isabel Godinho, a beneficiária em causa “levou o leite há mais de dois meses e só agora levantou a questão”.
A mãe da bebé, Andreia Branco, disse ao PÚBLICO que, de três latas de leite em pó para recém-nascidos, que lhe foram dadas, em Abril passado, “duas estavam fora de prazo de validade, que terminava em 26/11/2014, e a outra estava amassada e aberta” e que, “por receio”, não deu o produto ao filho. Na altura decidiu não reclamar para “não parecer pobre e mal-agradecida”.
No entanto, Andreia Branco conta que, na semana passada, no local onde ocorria mais uma distribuição semanal de alimentos, os voluntários do projecto de ajuda confrontaram-na com comentários que fez a amigos, dizendo que o leite estava fora-de-prazo. Ainda de acordo com Andreia Branco, gerou-se uma discussão e os voluntários disseram-lhe que, a partir daí, ficava excluída da ajuda. “Por causa disto nunca mais cá vens buscar nada”, garante ter ouvido.
Depois desse episódio, a utente relatou o caso no Facebook, numa mensagem que foi muito partilhada e comentada. “Perco aqui a vergonha de dizer que, por circunstâncias da vida, era mais uma pessoa que ia todas as quintas-feiras à sopa dos pobres no Casal do Sapo. Pedi à Doutora que está à frente do projecto, uma lata de leite para o meu bebé. Esta foi a doação que me deram. Claro que falei, e por isso fui banida como castigo. Podemos precisar mas não gozem”, escreveu.
Os voluntários negam ter banido a mãe da criança. “Quando a senhora se despediu, na última distribuição, disse-nos ‘Até para a semana’ e eu respondi-lhe, no calor da discussão, em público, que dali já não levava mais nada”, reconhece Emídio Mendes, mas acrescenta que não se tratou de uma exclusão. “Para ser excluída teria de ser a Doutora [a decidi-lo], e talvez até por escrito, eu não tenho autoridade para isso. Por mim, na próxima distribuição, se a senhora cá aparecer, será atendida”, refere o mesmo voluntário.
A “próxima distribuição” deveria ter acontecido nesta quinta-feira, como habitualmente, mas não se realizou, confirmou o PÚBLICO no local. Os voluntários, que fazem este trabalho há seis anos, garantem que o facto de não haver distribuição esta semana se prende apenas com questões de agenda da responsável Teresa Mayer, e não com a polémica em torno deste caso. Mas não escondem algum receio pelo futuro do projecto que, segundo os próprios, ajuda cerca de cem pessoas de 32 famílias.
A Câmara Municipal de Sesimbra diz não ter informação sobre este episódio, por a sua colaboração com o programa ser apenas logística. “A câmara apoia o projecto ao nível dos transportes, tal como faz com iniciativas semelhantes de outras entidades locais”, sendo “o modelo de distribuição de bens da responsabilidade da entidade" em causa, disse ao PÚBLICO a vereadora com o pelouro da Acção Social, Felícia Costa. “A autarquia tem em curso os seus próprios projectos de distribuição de bens alimentares pelas famílias mais carenciadas, que nos últimos anos têm sido reforçados, e neste momento são fundamentais para centenas de agregados familiares e, sobretudo, para muitas crianças do concelho”, referiu ainda a vereadora.
Notícia corrigida às 10h30. A organização que promove o programa de ajuda alimentar no Casal do Sapo é o Rotary E-Club de Sesimbra. A diferença entre um Rotary Club e um Rotary E-Club é que os seus membros, que seguem as mesmas normas e são igualmente reconhecidos pelo Rotary Internacional, reúnem semanalmente no website do clube.