N'Os Lusíadas de Camões também se pode falar de ganância, corrupção e negócios

Obra-prima é virada do avesso em Ovar e os 10 cantos são um espectáculo de 10 horas.

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O actor António Fonseca anda com Os Lusíadas na cabeça Pedro Martinho

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Nesse dia, Os Lusíadas de Camões são de António Fonseca e de cerca de 120 pessoas de Ovar, Braga, Felgueiras e Porto, que acompanham o trabalho do actor, e que com ele narrarão o canto X. Os Lusíadas serão de todos das 10h às 13h, das 15h às 20h e das 22h às 23h em quase nove mil versos que contam histórias em língua portuguesa de um tempo que mudou os tempos, de um mundo que se alargou, de horizontes que esticaram de repente. A sinopse aguça o apetite: “Em cada um dos 10 cantos da sua obra épica, Camões diz-nos da nossa condição de seres históricos. Investiga-nos, um a um, nas nossas ambições, no mais fundo das nossas convicções, na nossa sordidez e na nossa grandeza. Interroga, mais do que determina, a ideia de identidade colectiva e escreve em poema uma ficção maravilhosa que lhe propõe um sentido ao mesmo tempo grande e íntimo”. Durante 10 horas, António Fonseca é uma personagem-povo com os 8816 versos de Camões na cabeça e no coração para reviver a intensidade e magnitude de uma obra que a história portuguesa não esquece.

Essa caminhada de meter os versos de Camões na cabeça e de os sentir no peito foi acompanhada, em parte, pela realizadora Sofia Marques. E assim surgiu o documentário 8816 Versus que Ovar pode ver a 28 de Maio no Museu Júlio Dinis pelas 21h30. Durante mais de um ano, a realizadora captou o percurso de António Fonseca, os solitários momentos de fixar o texto, a preparação do canto X com a população, à apresentação integral do espectáculo a 9 de Junho de 2012 em Guimarães, no âmbito da Capital Europeia da Cultura, e no ano em que Os Lusíadas foram celebrados. Neste documentário, o público tem oportunidade de perceber a “epopeia” do actor e do seu trabalho em mergulhar numa obra que resiste.

O debate já começou em Ovar com a tertúlia Corrupção a partir d’Os Lusíadas em que se lembra que a partir do canto VII o poeta não se contém e fala de ganância, incompetência e corrupção reinantes no Portugal da segunda metade do século XVI. Nobres e clero não são poupados. Os séculos passaram e será que está tudo na mesma? Nesta quinta-feira à noite, António Fonseca voltou a debruçar-se na obra de Camões para falar de negócios, ou seja, de como as motivações idealistas da viagem de Vasco da Gama, e que alimentavam os escritos do poeta, acabaram por cair por terra – ou não houvesse uma relação conflituosa com os mouros no canto VIII e uma fuga apressada no início do canto seguinte.