O Governo e as propostas do PS
Duas posturas, dois discursos, duas dinâmicas. Os dados estão lançados.
Quando, na tarde desta quarta-feira, o primeiro-ministro subiu ao púlpito parlamentar para mais um debate quinzenal entre Governo e oposição, toda a gente esperava que tirasse algum coelho da cartola para servir de resposta a mais uma ofensiva socialista. De manhã, António Costa servira um prato forte sob a forma de programa eleitoral que, embora seja um documento ainda não inteiramente fechado, é suficientemente interessante para despertar a curiosidade dos mais cínicos. Mas Pedro Passos Coelho fez exactamente o contrário. Apresentou-se na Assembleia da República de mãos vazias e recitou de forma algo fastidiosa a sua versão sobre as “reformas” feitas pelo seu Governo. Esta prestação suscitou da parte do líder parlamentar do PS um comentário algo apressado, sinal de que talvez esteja a desvalorizar um adversário de peso. A chave está na resposta do chefe do Governo: “Prefiro ser muito previsível do que regressar aos tempos da imprevisibilidade do PS.” Como se vê, o guião está feito e assimilado ao ponto de não haver sequer a tentação de roubar o palco aos socialistas, quando podia ser tão fácil conseguir desviar as atenções. É por isso que Passos não se importa de apresentar este final de mandato como de continuidade e não como de ruptura com o período da troika, tentando por esta via solidificar a ideia de que o Governo e a maioria são a estabilidade, por contraponto a um PS “igual a si próprio”, como referiu o chefe de bancada da maioria.
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Quando, na tarde desta quarta-feira, o primeiro-ministro subiu ao púlpito parlamentar para mais um debate quinzenal entre Governo e oposição, toda a gente esperava que tirasse algum coelho da cartola para servir de resposta a mais uma ofensiva socialista. De manhã, António Costa servira um prato forte sob a forma de programa eleitoral que, embora seja um documento ainda não inteiramente fechado, é suficientemente interessante para despertar a curiosidade dos mais cínicos. Mas Pedro Passos Coelho fez exactamente o contrário. Apresentou-se na Assembleia da República de mãos vazias e recitou de forma algo fastidiosa a sua versão sobre as “reformas” feitas pelo seu Governo. Esta prestação suscitou da parte do líder parlamentar do PS um comentário algo apressado, sinal de que talvez esteja a desvalorizar um adversário de peso. A chave está na resposta do chefe do Governo: “Prefiro ser muito previsível do que regressar aos tempos da imprevisibilidade do PS.” Como se vê, o guião está feito e assimilado ao ponto de não haver sequer a tentação de roubar o palco aos socialistas, quando podia ser tão fácil conseguir desviar as atenções. É por isso que Passos não se importa de apresentar este final de mandato como de continuidade e não como de ruptura com o período da troika, tentando por esta via solidificar a ideia de que o Governo e a maioria são a estabilidade, por contraponto a um PS “igual a si próprio”, como referiu o chefe de bancada da maioria.
Mas se a coligação segue um trilho do qual não parece ter intenções de se desviar um milímetro, essa via estreita e muito pouco maleável também tem imensos riscos. O maior talvez seja a incapacidade de reagir às dinâmicas geradas pela própria luta política. É neste plano que deve ser avaliado o projecto de programa socialista, cuja génese, visão global e um punhado de propostas concretas merecem redobrada atenção. António Costa percebeu que a história recente do PS impunha a necessidade de conferir uma espécie de caução à credibilidade do seu projecto e daí juntou um conjunto de economistas de várias proveniências para traçarem o cenário macroeconómico. O facto de tentar alargar o espaço político do seu partido abrindo portas a contributos externos não é novo, mas há algo de refrescante na ideia de que as mudanças sociais profundas estão ligadas mais a políticas integradas de médio e longo prazo do que à mera medida de caça ao voto. A grande revolução opera-se, contudo, no domínio das obras públicas, abrindo portas a uma mudança histórica de paradigma na sua forma de adjudicação; na alteração da lei eleitoral, com a introdução de círculos uninominais, o que pode trazer dissabores ao PS junto de potenciais aliados (os pequenos partidos sempre foram hostis a esta medida); e, finalmente, no objectivo de impor prazos para o Tribunal Constitucional decidir sobre a fiscalização de certos diplomas. Desta vez, os socialistas forneceram matéria para um grande debate. E o Governo consegue responder?