Estado Islâmico entra em Palmira, civis retirados da cidade
Habitantes da cidade onde se encontram as ruínas arqueológicas foram retirados. UNESCO mostra preocupação pela tomada de Palmira.
Pelo menos um terço da cidade de Tadmur, onde estão situadas as ruínas da antiga cidade de Palmira, está sob controlo do grupo terrorista, revelou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos – que tem uma rede de activistas que reúnem informação no terreno. Os habitantes foram retirados pelas forças pró-governamentais que combatem o Estado Islâmico, de acordo com a Reuters, que cita a televisão estatal síria.
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Pelo menos um terço da cidade de Tadmur, onde estão situadas as ruínas da antiga cidade de Palmira, está sob controlo do grupo terrorista, revelou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos – que tem uma rede de activistas que reúnem informação no terreno. Os habitantes foram retirados pelas forças pró-governamentais que combatem o Estado Islâmico, de acordo com a Reuters, que cita a televisão estatal síria.
“As pessoas estão com muito medo do que possa acontecer, porque o EI tem a capacidade de avançar até ao coração de Palmira”, disse um activista do observatório à AFP. Nos últimos dias, a cidade já estava a sofrer de falta de água e cortes intermitentes da electricidade. “Muitas pessoas do norte da cidade foram desalojadas para outros bairros, algumas têm dormido nas ruas”, contou o activista.
Perante o avanço iminente dos jihadistas, os responsáveis sírios tentaram ainda salvar algumas das estátuas milenares que compõem o espólio da antiga cidade, património da humanidade da UNESCO desde 1980. “Centenas e centenas de estátuas que temíamos que fossem destruídas e vendidas estão agora em locais seguros”, disse à Reuters o director das Antiguidades e Museus Sírios, Maamoun Abdulkarim.
Porém, os receios quanto ao futuro da cidade construída há mais de dois mil anos permanecem. “O medo é pelo museu e pelos monumentos grandes que não podem ser movidos”, explicou Abdulkarim, antes de deixar um apelo: “Esta é uma batalha do mundo inteiro.”
A directora-geral da UNESCO, Irina Bokova, disse estar “extremamente preocupada com a situação em Palmira”. “Os combates estão a colocar em risco um dos mais importantes locais no Médio Oriente, bem como a sua população civil”, acrescentou.
A ofensiva para tomar a cidade síria começou a 13 de Maio e, desde então, morreram 350 pessoas. Para o Estado Islâmico, Palmira – que incluindo todos os seus subúrbios chegou a ter cerca de 100 mil habitantes – assume sobretudo uma importância estratégica. É a partir dali que o grupo jihadista pode conseguir controlar os campos de exploração de gás natural e de petróleo na região. Para além disso, o conjunto de Palmira e Tadmur estende-se numa área em que se situa a estrada entre a capital do país, Damasco, e a cidade de Deir al-Zour, disputada pelo EI e pelas forças governamentais.
Mas é o valor cultural e patrimonial que tem feito o mundo temer por Palmira. Desde que nos últimos dias se tornou evidente que o EI estava cada vez mais próximo de conquistar Palmira, os pedidos de ajuda não têm cessado. Em causa estão as famosas colunas, os templos e torres funerárias que se erguem no deserto e que despertaram a admiração de viajantes que por ali passaram desde o século XVII. Durante a época de domínio romano, Palmira, apelidada de “pérola do deserto”, atingiu o seu auge, tornando-se ponto de paragem obrigatório para os comerciantes que seguiam a rota da seda, entre a Europa e o Oriente.
É todo este património e esta memória que estão agora em jogo e que, nas mãos do Estado Islâmico – que afirma contestar qualquer tipo de idolatria –, deverá seguir o mesmo caminho das cidades da antiga Mesopotâmia de Hatra e Nimrud – a destruição e pilhagem quase totais.