A biblioteca de Bin Laden mostra mais do que a sua obsessão com os EUA

Gabinete do director dos serviços secretos dos Estados Unidos divulgou centenas de documentos apreendidos na biblioteca do líder da Al-Qaeda pelas forças norte-americanas.

Foto
A colecção, denominada como “a biblioteca de Bin Laden”, está dividida em várias categorias AFP

Uma parte do “tesouro” recuperado após o raide militar de Maio de 2011 que resultou na morte de Bin Laden foi desclassificado e tornado público esta quinta-feira pelo gabinete do director dos serviços secretos dos Estados Unidos. "Académicos, jornalistas, historiadores e público em geral têm agora oportunidade de ler os documentos e compreender um pouco melhor Bin Laden", explicou o presidente da comissão de Serviços Secretos da Câmara de Representantes, o congressista californiano Devin Nunes.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Uma parte do “tesouro” recuperado após o raide militar de Maio de 2011 que resultou na morte de Bin Laden foi desclassificado e tornado público esta quinta-feira pelo gabinete do director dos serviços secretos dos Estados Unidos. "Académicos, jornalistas, historiadores e público em geral têm agora oportunidade de ler os documentos e compreender um pouco melhor Bin Laden", explicou o presidente da comissão de Serviços Secretos da Câmara de Representantes, o congressista californiano Devin Nunes.

A colecção, denominada como “a biblioteca de Bin Laden”, está dividida em várias categorias: correspondência privada, relatórios operacionais, registos de contabilidade e até fichas de inscrição na Al-Qaeda, que mostram como, mesmo isolado no Paquistão, Bin Laden nunca deixou de controlar as actividades da sua organização terrorista e de planear novos ataques contra a América.

Cartas trocadas entre Osama Bin Laden e os responsáveis pela Al-Qaeda na Península Arábica revelam que a estratégia defendida pelo líder terrorista era concentrar toda a atenção na América. “O nosso foco deve ser em atacar a América e os seus interesses pelo mundo, especialmente nos países produtores de petróleo, para agitar a opinião pública e forçar a retirada [das tropas norte-americanas] do Afeganistão e do Iraque”, lê-se na tradução de uma das cartas, com data de Julho de 2010.

Os fuzileiros americanos que assaltaram o complexo de Bin Laden também recolheram vários recortes de jornais e revistas norte-americanos relativos ao terrorismo e às actividades da Al-Qaeda — desde artigos no Los Angeles Times, na Time e na Newsweek, a publicações mais especializadas como a Foreign Policy, o Journal of International Security Affairs ou a Military Review — e dezenas de livros de instruções e manuais técnicos de computadores, impressoras e programas de software.

O líder da Al-Qaeda também leu relatórios e outras publicações editadas por universidades, fundações e think-tanks britânicos e norte-americanos, e organizações internacionais. A sua biblioteca também incluía vários livros de História e relações internacionais, de análise política e económica e até um volume do conhecido filósofo norte-americano de esquerda, Noam Chomsky, Ilusões Necessárias, sobre a manipulação da opinião pública nas sociedades democráticas.

A esmagadora maioria dos documentos hoje divulgados são de língua inglesa, mas também há documentos em francês, nomeadamente um manuscrito nunca publicado e intitulado Foi a França que causou a Grande Depressão?”. Os analistas dos serviços secretos dos EUA especulam que esse material indica que Bin Laden poderia estar a orquestrar um ataque contra os mercados financeiros em França, de forma a provocar um colapso económico na Europa que arrastasse os EUA e o resto do mundo. Mas, nos documentos em francês, constam ainda relatórios sobre o sector da defesa e a indústria de armamento gaulesa, ou o sistema nuclear e os recursos aquáticos em França.

O restante material que pode ser considerado como directamente relacionado com o alegado estudo do fenómeno do terrorismo ou a preparação de atentados inclui uma panóplia de mapas (por exemplo, com a localização das unidades nucleares ou dos lança mísseis do Irão). Entre os volumes retirados das prateleiras de Bin Laden estavam também um Corão e várias obras dedicadas ao islão e matérias religiosas, entre os quais um guia com os perfis de todos os bispos da Igreja de Inglaterra.