Um terror acrescido na roleta dos mares
O que se passa hoje nas águas do sudeste asiático ultrapassa em horror o drama do Mediterrâneo.
O drama dos imigrantes entregues à impiedosa roleta dos mares conhece, a cada passo, episódios mais terríveis. Às centenas de mortos no Mediterrâneo e ao assassinato, em pleno mar e em meados de Abril, de cristãos que seguiam num bote vindo da Líbia (foram atirados ao mar, e ali deixados morrer, numa luta com muçulmanos), o que agora nos chega é a imagem de milhares à deriva no Sudeste asiático, sem lugar para onde ir. Homens, mulheres e crianças em desespero por, já com terra à vista, se verem empurrados de novo para o mar. Onde, sem água ou comida, certamente morrerão. Se a União Europeia se debate agora com planos para acolher, em percentagens negociadas, os imigrantes vindos do norte de África pelo Mediterrâneo, em "remessas" incessantes alimentadas pelos traficantes de seres humanos que criaram e mantêm tal "negócio", estas vagas asiáticas só vêm piorar o quadro. Rechaçados com crueldade, como se fossem animais selvagens, os imigrantes, que se identificam como birmaneses, estão ao mesmo tempo a enfrentar a fome, o desespero e o desprezo do mundo. Na terra de onde vêm não os querem, na terra para onde vão também não. O seu destino, se nada suceder entretanto, é a morte em pleno mar. O fenómeno, que não é novo, chega agora ampliado aos meios de comunicação por via do mediatismo do que sucedeu no Mediterrâneo. Mas, num caso e noutro, se nada suceder nos países de onde fogem ou são empurrados o êxodo continuará. Indonésia e Malásia receberam cerca de 2 mil no início da semana mas não querem receber mais. Querem combater o tráfico de pessoas, como a Europa promete fazer, mas no meio da luta morrerão ainda milhares de inocentes, cujas vidas só têm valor no momento em que pagam aos seus transportadores e carrascos. É nisto que estamos, em pleno século XXI, como se um enorme dique se tivesse rompido e uma vaga humana ameaçasse inundar tudo. De um lado e do outro, barreiras. No meio, a morte.
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O drama dos imigrantes entregues à impiedosa roleta dos mares conhece, a cada passo, episódios mais terríveis. Às centenas de mortos no Mediterrâneo e ao assassinato, em pleno mar e em meados de Abril, de cristãos que seguiam num bote vindo da Líbia (foram atirados ao mar, e ali deixados morrer, numa luta com muçulmanos), o que agora nos chega é a imagem de milhares à deriva no Sudeste asiático, sem lugar para onde ir. Homens, mulheres e crianças em desespero por, já com terra à vista, se verem empurrados de novo para o mar. Onde, sem água ou comida, certamente morrerão. Se a União Europeia se debate agora com planos para acolher, em percentagens negociadas, os imigrantes vindos do norte de África pelo Mediterrâneo, em "remessas" incessantes alimentadas pelos traficantes de seres humanos que criaram e mantêm tal "negócio", estas vagas asiáticas só vêm piorar o quadro. Rechaçados com crueldade, como se fossem animais selvagens, os imigrantes, que se identificam como birmaneses, estão ao mesmo tempo a enfrentar a fome, o desespero e o desprezo do mundo. Na terra de onde vêm não os querem, na terra para onde vão também não. O seu destino, se nada suceder entretanto, é a morte em pleno mar. O fenómeno, que não é novo, chega agora ampliado aos meios de comunicação por via do mediatismo do que sucedeu no Mediterrâneo. Mas, num caso e noutro, se nada suceder nos países de onde fogem ou são empurrados o êxodo continuará. Indonésia e Malásia receberam cerca de 2 mil no início da semana mas não querem receber mais. Querem combater o tráfico de pessoas, como a Europa promete fazer, mas no meio da luta morrerão ainda milhares de inocentes, cujas vidas só têm valor no momento em que pagam aos seus transportadores e carrascos. É nisto que estamos, em pleno século XXI, como se um enorme dique se tivesse rompido e uma vaga humana ameaçasse inundar tudo. De um lado e do outro, barreiras. No meio, a morte.