Obama não convence aliados árabes das vantagens de negociar com o Irão
Cimeira entre os Estados Unidos e os seis países do Conselho de Cooperação do Golfo marcada pela tensão. Arábia Saudita ameaça igualar as capacidades nucleares do Irão.
A mensagem que a Administração queria fazer passar era a de que nenhuma das iniciativas diplomáticas em curso, e em particular os esforços para a limitação e verificação internacional do programa nuclear iraniano, beliscam ou comprometem a parceria histórica e relação especial dos Estados Unidos com os seus aliados do Golfo Pérsico. Em troca da aceitação (e até apoio) dos países árabes ao processo negocial com o Irão, Barack Obama prometeu maior assistência militar e coordenação dos sistemas de mísseis balísticos.
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A mensagem que a Administração queria fazer passar era a de que nenhuma das iniciativas diplomáticas em curso, e em particular os esforços para a limitação e verificação internacional do programa nuclear iraniano, beliscam ou comprometem a parceria histórica e relação especial dos Estados Unidos com os seus aliados do Golfo Pérsico. Em troca da aceitação (e até apoio) dos países árabes ao processo negocial com o Irão, Barack Obama prometeu maior assistência militar e coordenação dos sistemas de mísseis balísticos.
Mas, aparentemente, as palavras de conforto da Administração Obama não surtiram efeito: perante a perspectiva de um acordo final que garanta a Teerão o direito a prosseguir com algumas das suas actuais actividades nucleares, os países árabes ameaçaram desenvolver as suas próprias capacidades, incluindo de enriquecimento de urânio. A notícia de que a “Arábia Saudita promete igualar as capacidades do Irão”, avançada pelo The New York Times horas antes do arranque da cimeira, ilustrava as dificuldades que os negociadores da Casa Branca teriam para redigir o comunicado final das seis horas de reuniões.
Se a ideia de Obama em receber os aliados árabes no retiro presidencial de Camp David, um refúgio bucólico nas montanhas do Maryland, era explorar o potencial tranquilizante da paisagem para acalmar os receios dos seus interlocutores, a tentativa saiu gorada. Como assinalava a imprensa norte-americana, em vez de esvaziar a tensão e promover o consenso, o perigo era que o encontro viesse aprofundar o fosso entre os dois blocos, e particularmente entre os EUA e a Arábia Saudita.
O argumento da Casa Branca é que a contenção do programa de Teerão não só debela um risco iminente como abre caminho a negociações políticas com a república islâmica (por exemplo sobre o seu apoio ao Hezbollah no Líbano ou às milícias huthis no Iémen) que beneficiarão toda a região. Na interpretação dos aliados do Golfo, o levantamento das sanções ao Irão vai acabar por facilitar o financiamento dessas organizações que desestabilizam a segurança do Médio Oriente.
Os comentadores concordavam que na posição de força dos sauditas havia um elemento de “bluff”, sobretudo na sua ameaça de correr atrás do prejuízo nuclear (o reino não dispõe da tecnologia para avançar rapidamente e tem opções muito limitadas em termos de fornecedores). Mas também concordavam que ao colocar a questão nesses termos, os sauditas mostravam que não se sentem tão condicionados pelos EUA como no passado: segundo disse à Bloomberg David Ottaway, especialista do Wilson Center de Washington, “estamos a assistir a uma primeira tentativa da Arábia Saudita em tornar-se a nova superpotência política e militar do mundo árabe”.
Apesar de as conversações com o Irão terem dominado as atenções, o encontro serviu também para discutir outros dos “desafios” de segurança do Médio Oriente, nomeadamente a expansão do Estado Islâmico e os conflitos políticos e sectários no Iraque, na Síria e no Iémen – países onde as Forças Armadas dos EUA lideram ou apoiam os esforços militares contra os grupos jihadistas.
A Administração de Washington admite a possibilidade de elevar o estatuto da sua aliança com os países do Golfo, promovendo-os a “principais aliados” fora da NATO, uma medida que lhes concede privilégios só disponíveis para os membros da aliança atlântica. Mas não vai tão longe quanto o pacto formal de defesa que os árabes reclamam.