Seis mil migrantes em barcos à deriva no oceano Índico

Indonésia e Malásia recusam entrada de mais migrantes. Nações Unidas pedem “partilha de responsabilidades” entre os países para evitar “crise humanitária”.

Foto
Migrantes do Bangladesh, depois de chegarem à costa da Malásia na segunda-feira Mana Vatsyayana / AFP

Um dos grupos de migrantes conseguiu entrar em contacto com uma organização não-governamental e contou como foi abandonado. “Dizem que é um barco tailandês e que a tripulação e o capitão são tailandeses. Estiveram dois meses no mar. Anteontem [domingo], a tripulação e o capitão abandonaram o barco, arranjaram um barco para eles próprios e levaram partes do motor, e, portanto, não está a trabalhar”, contou à BBC Chris Lewa, do Arakan Project – um grupo que trabalha com a minoria rohingya.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Um dos grupos de migrantes conseguiu entrar em contacto com uma organização não-governamental e contou como foi abandonado. “Dizem que é um barco tailandês e que a tripulação e o capitão são tailandeses. Estiveram dois meses no mar. Anteontem [domingo], a tripulação e o capitão abandonaram o barco, arranjaram um barco para eles próprios e levaram partes do motor, e, portanto, não está a trabalhar”, contou à BBC Chris Lewa, do Arakan Project – um grupo que trabalha com a minoria rohingya.

Os relatos dos migrantes deste barco, que transporta cerca de 350 pessoas, poderiam ser replicados várias vezes. Chris Lewa diz que podem estar seis mil pessoas em barcos de várias dimensões na zona do estreito de Malaca e em águas internacionais, muitas delas há mais de dois meses no mar. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) apontava na terça-feira para oito mil migrantes na mesma zona.

E o número poderia ser bem maior se, no início da semana, não tivessem sido recolhidos cerca de dois milhares de migrantes nas costas da Indonésia e da Malásia.

Entretanto, os dois países recusaram-se a receber mais pessoas. Primeiro, foi a Indonésia que, na segunda-feira, rejeitou a entrada de uma embarcação que se aproximava da sua costa, dando indicações para se dirigir para a Malásia.

Esta quarta-feira, o Governo malaio fez saber que não iria aceitar mais migrantes rohingyas. “Não estamos preparados para receber esse número de pessoas que chegam à nossa costa e as pessoas que já cá estão, vamos mandá-las para casa de qualquer forma”, disse o vice-ministro do Interior, Wan Junaidi Jaafar, citado pelo Guardian.

A recusa de Kuala Lumpur é encarada com alguma surpresa pela generalidade dos observadores. A Malásia serviu nos últimos anos como um destino favorável para os rohingyas – uma minoria muçulmana que é alvo de perseguições na Birmânia, maioritariamente budista.

O presidente da Federação Internacional da Cruz Vermelha, Elhadj As Sy, denunciou a “indiferença” da comunidade internacional em relação a esta questão. “Todos são indiferentes, porque a política interfere a todos os níveis”, afirmou.

O ACNUR continua a apelar aos países da região para que “partilhem a responsabilidade e evitem uma crise humanitária”.

Esta crise “sem precedentes” levou a Tailândia a convocar uma cimeira regional para 29 de Maio com representantes de 15 países para discutir a migração no Sudeste asiático.

Desde o Verão de 2012 que cerca de cem mil pessoas da etnia rohingya fugiram da Birmânia, de acordo com a ONU, constituindo o maior êxodo na região desde a Guerra do Vietname. A Birmânia recusa conceder a nacionalidade aos rohingyas, há cerca de 200 mil a viverem em campos de refugiados no Bangladesh. As Nações Unidas descrevem-nos como um dos grupos mais perseguidos em todo o mundo.

O Governo birmanês aprovou no final do ano passado uma nova lei da cidadania que permite que os rohingyas acedam à nacionalidade apenas se renunciarem à etnia de origem. A Human Rights Watch qualifica o diploma como um “caminho para a segregação”.