A tifóide multirresistente aos antibióticos “veio para ficar”

Estudo internacional analisou o genoma da bactéria da febre tifóide em 63 países e concluiu que a estirpe multirresistente aos antibióticos está espalhar-se pelo mundo.

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A bactéria Salmonella Typhi David Goulding/Wellcome Trust Sanger Institute

A investigação envolveu 74 cientistas de mais de 20 países e é um dos trabalhos mais abrangentes sobre informação genética de um agente patogénico de humanos. Os resultados traçam o cenário preocupante de uma “ameaça à saúde pública em constante crescimento”, alertam os cientistas.

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A investigação envolveu 74 cientistas de mais de 20 países e é um dos trabalhos mais abrangentes sobre informação genética de um agente patogénico de humanos. Os resultados traçam o cenário preocupante de uma “ameaça à saúde pública em constante crescimento”, alertam os cientistas.

Apanha-se febre tifóide quando se come ou bebe alimentos contaminados com a bactéria Salmonella Typhi (um tipo da subespécie Salmonella enterica enterica). Os sintomas incluem náuseas, febre, dor abdominal e pintas rosas na região do peito. Se a doença não for tratada, pode levar a problemas mais graves no tubo digestivo e na cabeça, matando cerca de 20% dos doentes. 

Há vacinas contra esta doença. No entanto, a relação custo-eficácia é baixa, o que faz com que não seja usada de forma abrangente nos países pobres. A doença é endémica na América Central e do Sul, na África, no Médio Oriente, no Cáucaso, Sudeste da Europa, no Sul e Sudeste Asiático, e nos arquipélagos da Oceânia. As estirpes normais podem ser tratadas com antibióticos. Mas o estudo mostra que a estirpe H58, resistente a muitos antibióticos, está a tornar-se dominante.

“A H58 está a substituir as outras estirpes tifóides, está a transformar completamente a arquitectura genética da doença e a produzir uma epidemia que era desvalorizada até agora”, disseram os investigadores num comunicado.

A febre tifóide afecta 30 milhões de pessoas por ano, diz Vanessa Wong, do Instituto Wellcome Trust Sanger, no Reino Unido, que fez parte da equipa. A cientista defende que há uma necessidade extrema de uma boa vigilância global para tentar conter esta doença. 

A equipa de investigação sequenciou o genoma de 1832 amostras de Salmonella Typhi recolhidas em 63 países, entre 1992 e 2013. E descobriu que 47% das amostras eram de bactérias da estirpe H58. Esta estirpe surgiu no Sul da Ásia entre há 25 e 30 anos e espalhou-se para o Sudeste da Ásia, a Ásia Ocidental, o Sul e Leste de África e as ilhas Fiji. A equipa encontrou também provas de uma onda recente de transmissões da H58 em muitos países africanos, que até agora não tinha sido detectada.  

Kathryn Holt, da Universidade de Melbourne, na Austrália, que fez parte do estudo, explica que a estirpe multirresistente da febre tifóide surgiu de bactérias que foram apanhando genes vindos de outras bactérias, que dão resistência aos antibióticos. Estas passagens de genes acontecem quando há uma mistura de estirpes da febre tifóide na mesma pessoa. As resistências “têm aparecido e desaparecido desde a década de 1970”, explica esta cientista, mas na estirpe H58 os genes que lhe conferem resistência estão a tornar-se uma parte estável do genoma da bactéria. “O que significa que a tifóide multirresistente aos antibióticos veio para ficar.”