Hollande quis ser o "primeiro a chegar" a Cuba para promover negócios
Em visita histórica, Presidente francês defende o fim do embargo comercial norte-americano à ilha e garante que as empresas francesas estão prontas a investir no país.
E o líder gaulês não chegou sozinho. Com a comitiva presidencial, que incluía os ministros da Cultura, Saúde, Ambiente e Justiça, viajaram mais de 30 empresários franceses, executivos de companhias como a Air France e a Accor, Pernod-Ricard, Alcatel-Lucent, Alstom e Total, sem dúvida interessados em explorar (em primeira mão) as novas oportunidades de negócio nos sectores do turismo, das bebidas, telecomunicações ou construção que a abertura diplomática promete acelerar.
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E o líder gaulês não chegou sozinho. Com a comitiva presidencial, que incluía os ministros da Cultura, Saúde, Ambiente e Justiça, viajaram mais de 30 empresários franceses, executivos de companhias como a Air France e a Accor, Pernod-Ricard, Alcatel-Lucent, Alstom e Total, sem dúvida interessados em explorar (em primeira mão) as novas oportunidades de negócio nos sectores do turismo, das bebidas, telecomunicações ou construção que a abertura diplomática promete acelerar.
Como especulava o Le Monde, a visita “histórica” e “simbólica” de Hollande não se destinava a apoiar ou contestar a natureza política do regime ou o seu modelo económico. Segundo o diário parisiense, o Presidente francês pretendia ver-se coroado como o “rei da diplomacia económica”, mesmo que para tal durante a visita tivesse de fazer vista grossa à prisão de dissidentes políticos e ao controlo da imprensa – como fez, de resto, na sua recente viagem à Arábia Saudita. “Não estou aqui para ver a Cuba do passado, mas sim do futuro. Este país quer passar a uma outra fase, um outro tempo. Estou cá para dizer aos cubanos que estaremos ao seu lado se eles decidirem tomar os passos necessários a uma maior abertura. E por isso é importante que estas empresas [francesas] invistam em Cuba, que pode ser inclusive uma porta de acesso a outros mercados latino-americanos”, justificou.
Antes do seu encontro oficial com o Presidente Raúl Castro no Palácio da Revolução (o último acto oficial da agenda, seguido de jantar de gala), François Hollande entregou a medalha da Legião de Honra ao cardeal Jaime Ortega, um defensor da abertura; participou num colóquio com estudantes da Universidade de Havana, que assinou uma série de protocolos com instituições francesas; inaugurou a nova sede da Alliance Française na capital cubana e participou num fórum económico – onde sem se desviar do guião tradicional da política externa francesa, defendeu o fim do embargo comercial norte-americano como “crucial” para o desenvolvimento económico da ilha.
A visita de Hollande tinha também um objectivo não-declarado: antecipar-se aos parceiros norte-americanos e projectar a França como um parceiro comercial privilegiado, garantindo o acesso das empresas gaulesas aos melhores contratos e negócios (actualmente, Paris ocupa a 9ª posição na lista dos investidores estrangeiros). “Chegar em primeiro é a vocação da França”, declarou, sublinhando que no seu caminho para a abertura económica, o objectivo dos cubanos não é “voltar a tornar-se uma espécie de feira popular para o divertimento dos turistas dos Estados Unidos, mas sim um desenvolvimento equilibrado e justo”.
Esse seria o tema dominante na sua cimeira com Raúl Castro. “Hollande falará mais da construção de infraestruturas do que da liberdade, das vantagens da biotecnologia em vez da democracia, das telecomunicações mais do que da emancipação”, antecipava a imprensa francesa. O Presidente desmentiu que as questões políticas mais delicadas fossem matéria proibida. “Falaremos de todos os temas”, incluindo direitos do homem e liberdades fundamentais, garantiu aos jornalistas que acompanhavam a visita e que reclamaram do facto de não ter acesso a esse diálogo que segundo o protocolo cubano era “de carácter restrito”. A acontecer, um encontro a título privado entre François Hollande e o histórico comandante da revolução cubana Fidel Castro (e que não foi oficialmente confirmado), também aconteceria longe dos olhares dos jornalistas.