Referendo libertaria Syriza das promessas?
Há quatro anos, a ideia de um referendo na Grécia assustava a Europa. Hoje, nem por isso
Os ministros das Finanças da zona euro estiveram reunidos em Bruxelas para, pela enésima vez, tentar superar o impasse das negociações com a Grécia. Mesmo antes do início da reunião, os dois lados tentaram esvaziar expectativas e moderar entusiasmos, já que entre a resistência grega e a intransigência europeia ainda há um grande caminho a percorrer. Perante soluções que não se antevêem como óbvias, são cada vez mais as soluções pouco ortodoxas que vão surgindo no debate público europeu.
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Os ministros das Finanças da zona euro estiveram reunidos em Bruxelas para, pela enésima vez, tentar superar o impasse das negociações com a Grécia. Mesmo antes do início da reunião, os dois lados tentaram esvaziar expectativas e moderar entusiasmos, já que entre a resistência grega e a intransigência europeia ainda há um grande caminho a percorrer. Perante soluções que não se antevêem como óbvias, são cada vez mais as soluções pouco ortodoxas que vão surgindo no debate público europeu.
Uma dessas ideias é a possibilidade de os gregos poderem vir a ser chamados a participar num referendo sobre as condições impostas pelos credores para a aprovação da extensão do segundo resgate. No final de 2011, a palavra referendo era uma palavra maldita e um tabu no vocabulário europeu. Quando George Papandreou, no final de 2011, teve a ideia de consultar os gregos para que estes pudessem pronunciar-se sobre as condições do segundo resgate, o primeiro-ministro de então foi chamado de urgência à cimeira do G20, que se realizava em Cannes. Merkel e Sarkozy sabiam que um referendo às medidas de austeridade seria visto como um referendo encapotado à permanência do país na zona euro, o que, no contexto que se vivia na altura na Europa, significava um terramoto nos mercados.
Hoje, o risco de contágio está mais contido e, por isso, não é de admirar as palavras de Wolfgang Schäuble, que, confrontado com essa possibilidade, veio dizer que essa consulta até poderia ser útil para deixar os gregos "decidir se estão dispostos a aceitar o necessário, ou se querem algo diferente". Claro que aqui o “algo diferente” significa o país poder sair da zona euro. Mas agora Schäuble pode dizer estas palavras com uma tranquilidade que não podia em 2011.
O Governo de Alexis Tsipras já fez tábua rasa de algumas promessas eleitorais, nomeadamente em relação ao IVA e às privatizações, mas continua a não querer o corte nas pensões ou nas reformas do mercado laboral para não perder o activo mais precioso que tem nesta altura, que é o apoio do povo grego. O referendo, estará a pensar Berlim, seria uma forma de libertar o Syriza das suas promessas eleitorais mais radicais e fazer com que Tsipras, que foi mandatado para acabar com a austeridade, pudesse ganhar legitimidade para prosseguir com essa mesma austeridade. Para Tsipras, a nível interno, seria uma forma de neutralizar as posições mais radicais dentro do Syriza.
O referendo até podia ser uma solução para tentar ultrapassar o impasse nas negociações se houvesse tempo. Mas tempo é hoje um bem escasso em Atenas. No fim de Maio, o país provavelmente ficará sem dinheiro para pagar pensões e salários, um calendário que não é compatível com o timing necessário para a realização de um referendo. A não ser que o objectivo seja chamar os gregos para votar, tendo o medo (o medo de não receber a pensão ou o salário) como a única variável determinante no processo de tomada de decisão.