O caminho da TomTom passa pelos carros autónomos

Depois de sete anos com as contas a deslizar, a fabricante de sistemas de navegação diz estar agora "a dar a volta".

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Na era das aplicações, a empresa holandesa viu o negócio encolher Paul Vreeker/Reuters

Para a TomTom, seguir diferentes percursos é uma opção natural. A co-fundadora Corinne Vigreux define a companhia não como uma fabricante de sistemas de navegação, mas como uma equipa de “empreendedores de tecnologia”, que não têm problemas em arriscar. 

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Para a TomTom, seguir diferentes percursos é uma opção natural. A co-fundadora Corinne Vigreux define a companhia não como uma fabricante de sistemas de navegação, mas como uma equipa de “empreendedores de tecnologia”, que não têm problemas em arriscar. 

“Acredito muito nas empresas geridas pelos fundadores. Vão, provavelmente, assumir mais riscos [do que gestores contratados]”, afirma Vigreux, numa conversa em Budapeste, à margem de um fórum do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia, onde participou. “Como empreendedores, precisamos de estar sempre atentos. Adoro fazer produtos. Se vemos um problema, tentamos resolvê-lo. Foi o que aconteceu com a navegação nos carros. E também com os relógios”, acrescentou a empresária, que é responsável pela área dos produtos de consumo e que é casada com outro dos quatro fundadores, Harold Goddijn, o presidente executivo da TomTom. 

Os relógios a que Vigreux se refere são um produto menos conhecido da TomTom. Há um ano e meio, a empresa reciclou alguma da tecnologia dos aparelhos de GPS e entrou na vaga dos equipamentos electrónicos de desporto, lançando uma série de relógios para corredores. Na semana passada, voltou à carga com um novo produto de electrónica de consumo: uma câmara de filmar, que permite editar vídeos e publicá-los na Internet. É mais uma concorrente das câmaras GoPro, que se tornaram quase ubíquas na filmagem de desportos radicais. 

“Anos bem duros”

A TomTom passou por tempos difíceis nos últimos sete anos. A proliferação de concorrentes, a chegada dos smartphones com aplicações de GPS baratas ou mesmo gratuitas, e a concorrência dos mapas da Nokia e do Google levou a uma quebra do negócio.

Em 2008, as receitas do grupo (que tem outras áreas de actividade, como os sistemas para gestão de frotas automóveis e o licenciamento de mapas) caíram 10%, para 1748 milhões de euros. Desde então, a trajectória foi descendente. No ano passado, a empresa facturou 950 milhões, dos quais 65% foram na área do consumo, onde se incluem os dispositivos de navegação. “Tivemos alguns anos bem duros”, reconhece Corinne Vigreux . “Estamos agora a dar a volta. O negócio de dispositivos portáteis de navegação estabilizou. O negócio de licenciamento está a correr muito bem”.

Ao longo destes anos, a TomTom não virou as costas ao crescimento de smartphones e tablets, e optou por lançar aplicações para estes aparelhos. Foi também escolhida como fornecedora de mapas pela Apple, quando esta decidiu, em 2012, abandonar os mapas do Google e criar a sua própria aplicação - que se revelou um fracasso junto dos consumidores. A par disto, continuou a comercializar os aparelhos de GPS para automóveis e respectivos acessórios. Agora, está de olhos postos no que a indústria automóvel afirma ser um futuro próximo: carros que conduzem sozinhos.

Para que este tipo de veículos se massifique, os mapas, e a informação sobre o que acontece nas estradas, são um factor essencial, argumenta Vigreux. “O Santo Graal para a condução autónoma é a actualização em tempo real dos mapas. Informação sobre uma estrada que está bloqueada, por exemplo. Nós já transmitimos informação de tráfego ao minuto. É possível saber onde vai acontecer um engarrafamento e contorná-lo”. 

A executiva antecipa que os carros autónomos sejam uma realidade "nos próximos cinco a dez anos” e venham a ter “um enorme impacto” em indústrias que vão dos transportes aos seguros. “Vai acontecer. E, quando acontecer, será rápido”, afirma.

Esta não é, contudo, uma corrida em que a TomTom esteja sozinha. O Google está a desenvolver um carro autónomo e tem os seus próprios mapas. A Nokia, que é um gigante neste mercado, pôs recentemente a sua divisão de mapas à venda. A TomTom, porém, conseguiu este ano um contrato para colocar os seus serviços de monitorização de trânsito nos carros da Volkswagen (dona também da Audi e da Skoda), que se juntou assim a marcas como a Fiat, Peugeot, Renault e Toyota. Questionada sobre se ter dois concorrentes daquela dimensão a assusta, Vigreux responde despreocupadamente. “Oh, já os temos há muito tempo...”

O PÚBLICO viajou a convite do European Journalism Centre