A grande ilusão
O dr. Costa julga que caiu imaculado no meio de nós. Infelizmente, nós sabemos como e com quem ele chegou ao que chegou.
Havia, para começar, uma grande divisão: entre os que estavam dentro e os que estavam fora — do Partido Comunista Francês (PCF), claro está. E, dos que estavam fora, entre os que estavam mais próximos do partido e os que estavam mais longe. A distância era medida pela quantidade de idiotia e de mentiras que cada um alegremente aceitava sobre a URSS e a política francesa; pelos livros que cada um escrevia para justificar o injustificável.
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Havia, para começar, uma grande divisão: entre os que estavam dentro e os que estavam fora — do Partido Comunista Francês (PCF), claro está. E, dos que estavam fora, entre os que estavam mais próximos do partido e os que estavam mais longe. A distância era medida pela quantidade de idiotia e de mentiras que cada um alegremente aceitava sobre a URSS e a política francesa; pelos livros que cada um escrevia para justificar o injustificável.
Não se pense que esta estranha vida se fazia sem dor. As crises de consciência e as zangas pessoais não paravam nunca. Ferviam insultos. Muitos foram para a província com esperança de recuperar um pouco de sanidade. Não conseguiram. Os dogmas não deixavam saída. O primeiro declarava a URSS a pátria do socialismo real (por muito que a realidade se não parecesse com a descrição), e os verdadeiros revolucionários tinham de a defender contra as calúnias do Ocidente. O segundo dava ao proletariado da França a missão histórica de trazer o socialismo à Europa (apesar de ele já ser nessa altura minoritário e fraco). E o terceiro estabelecia que o PCF representava o proletariado da França. Recusar o PCF era assim simultaneamente recusar a história, a justiça e a Pátria.
A herança desses senhores e dessas senhoras acabou por ser um legado de ignomínia e de irresponsabilidade. Verdade que, perante a evidência, a maior parte se arrependeu e, penitentemente, acabou por se confessar em público, como na Idade Média. Mas não ajudaram nada, nem aliviaram o mal que tinham promovido e aplaudido. A esquerda portuguesa de hoje não se distingue muito da esquerda francesa que reinou durante 20 anos e a seguir abjectamente se matou. Os filhos dela continuam a berrar por aí. Até ao dia em que perceberem que as poses não substituem os factos e que não se governa disfarçando e escondendo um passado desagradável. O dr. Costa julga que caiu imaculado no meio de nós. Infelizmente, nós sabemos como e com quem ele chegou ao que chegou.