A doença da universidade

A doença não está, obviamente, na existência de professores com mais de 50 anos, está na diminuta proporção de professores com menos de 40 ou 30 anos

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Filipe Saraiva

Num artigo do Público são descritas as estatísticas relativas à idade do corpo docente das universidades portuguesas, constatando-se um envelhecimento doentio, com 40 por cento do corpo docente a ter mais de 50 anos.

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Num artigo do Público são descritas as estatísticas relativas à idade do corpo docente das universidades portuguesas, constatando-se um envelhecimento doentio, com 40 por cento do corpo docente a ter mais de 50 anos.

A doença não está, obviamente, na existência de professores com mais de 50 anos, está na diminuta proporção de professores com menos de 40 ou 30 anos.

Na Universidade do Porto, por exemplo, o docente mais jovem tem 29 anos.

A verdade é que isto nem sempre foi assim. Uma grande parte dos professores efectivos actuais (hoje com mais de 50 anos) foram admitidos na carreira com 23 anos, como assistentes estagiários. Entretanto, as leis foram mudando e, agora, só se pode admitir pessoas com o doutoramento. E como há crise (financeira e demográfica), não se tem admitido ninguém.

Ano após ano, formam-se alunos brilhantes nas licenciaturas, nos mestrados e nos doutoramentos que não encontram emprego nas nossas universidades, vendo as suas perspetivas, expectativas e desejosos frustrados. O resultado é um crime universitário de lesa-pátria. Para a universidade, porque corre o risco de se esclerosar e apodrecer ao não aproveitar os conhecimentos inovadores das novas gerações. Para o país, porque não beneficia do vigor corporal e intelectual dos mais jovens, empurrando-os para o estrangeiro, onde serão, finalmente, bem aproveitados.

O desacerto da austeridade

Esta é uma das áreas em que é paradigmático o desacerto da política de austeridade: por se impedir a entrada de novos docentes colapsamos o sistema como um todo, criando uma espiral recessiva universitária, quando Portugal necessita é de mais licenciados, mestres e doutores para chegar às médias europeias e potenciar a sua competitividade. O contrário devia ser feito: contratação de docentes mais jovens para os quadros. Sim, os custos adicionais que isso representaria para o Estado seriam compensados através da animação económica e demográfica que essas pessoas contratadas iriam criar: fixavam-se em Portugal, consumiam em Portugal, reproduziam-se em Portugal. Gerava-se uma espiral de crescimento e não se potenciava o definhamento da universidade. E, se se quisesse atenuar o aumento nos custos, podia-se cortar um pouco no vencimento dos catedráticos, por uma questão de equidade intergeracional.

Note-se que, no mundo anglo-saxónico, um docente consegue entrar para a carreira com 25 anos de idade: depois de três de licenciatura e de três ou quatro de doutoramento fica em condições de ser admitido. Mais, enquanto faz o seu doutoramento já vai lecionando na universidade.

Em Portugal a transição do modelo antigo (em que os doutoramentos se faziam depois dos 40 anos de idade) para o modelo moderno está a correr muito mal dada a estagnação imposta às universidades.

Enfim, se Portugal não inflete a política, apostando decisivamente na contratação de novos docentes para as suas universidade e politécnicos, corremos o risco de perder mais uma oportunidade de desenvolvimento, que os esforços feitos na formação adicional da nossa população proporcionavam.