Borboleta rara em Portugal registada em fotografia
Imagem tirada na zona de Vila Real é o primeiro registo fotográfico de qualidade de uma castanhinha-das-bétulas em território português. Raramente é avistada porque passa a maior parte do tempo nas copas das árvores.
“A borboleta chamou-me a atenção pela sua beleza e pela rapidez do voo, mas nunca me passou pela cabeça que fosse assim tão rara”, conta ao PÚBLICO. Estava a rachar lenha no seu quintal quando deu por ela: “Já habituado a seguir o voo de aves e insectos, reparei no voo rápido de uma borboleta desconhecida, oscilando entre o preto e o laranja e no pouso dela num abrunheiro de pequeno porte. Segui o seu percurso nos ramos, fotografei-a assim que tive oportunidade e não pensei mais nela”, diz ainda José Agostinho Fernandes, agora citado numa nota no site da Câmara Municipal de Vila Real.
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“A borboleta chamou-me a atenção pela sua beleza e pela rapidez do voo, mas nunca me passou pela cabeça que fosse assim tão rara”, conta ao PÚBLICO. Estava a rachar lenha no seu quintal quando deu por ela: “Já habituado a seguir o voo de aves e insectos, reparei no voo rápido de uma borboleta desconhecida, oscilando entre o preto e o laranja e no pouso dela num abrunheiro de pequeno porte. Segui o seu percurso nos ramos, fotografei-a assim que tive oportunidade e não pensei mais nela”, diz ainda José Agostinho Fernandes, agora citado numa nota no site da Câmara Municipal de Vila Real.
Mais tarde, acabou por publicar a fotografia num grupo do Facebook de amantes de fotografia da natureza e, desde então, as mensagens entusiásticas a alertarem-no para que tinha fotografado uma espécie muito invulgar não pararam de chegar. “Nem sequer partilho a maior parte das fotografias que faço. Sou capaz de colocar uma ou duas das centenas que faço. Foi um mero acaso ter partilhado esta.”
Esta borboleta, que passa a maior parte do tempo nas copas das árvores, nomeadamente do abrunheiro, tanto quanto foi possível apurar, foi registada em fotografia pela primeira vez em Portugal em 1999. Mas essa fotografia, tirada pelo biólogo Thomas Merckx, na Serra da Peneda, não era muito boa. Tinha sido tirada por um telemóvel. Agora, a fotografia de José Agostinho Fernandes foi feita numa máquina reflex e com uma lente macro.
O registo deste lepidóptero foi, assim, um acontecimento congratulado pelo meio académico, que está a trabalhar para saber mais sobre as suas especificidades. “A borboleta já tinha sido avistada por investigadores, mas este é o primeiro registo fotográfico de qualidade feito em Portugal”, sublinha Paula Seixas, investigadora da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. “Não sabemos exactamente há quanto tempo está presente em Portugal, mas sabemos que está cá há décadas”, acrescenta a investigadora, que tem trabalhado, em colaboração com a câmara municipal, no Programa de Preservação da Biodiversidade de Vila Real. “Nesta zona, nunca houve registo absolutamente nenhum e, portanto, foi uma forma de conseguirmos saber que a borboleta está cá.”
Além disso, existem poucos estudos científicos sobre esta espécie, por isso há pouca informação científica sobre ela. “Esta fotografia foi muito importante porque é muito difícil identificar e monitorizar esta espécie, não só em Portugal como no resto da Europa”, refere ainda Paula Seixas.
É, aliás, no Norte e Centro da Europa que esta borboleta está presente (sobretudo na Holanda, França e Reino Unido) e onde as suas populações têm sido alvo de medidas de protecção.
Sabe-se que a castanhinha-das-bétulas põe os ovos nos ramos do abrunheiro, onde passa o Inverno, até eclodirem em forma de lagarta na Primavera. Verdes com listas amarelas, as lagartas acabam por ficar camufladas na folhagem, passando despercebidas, até se tornarem borboletas em Julho e Agosto. Nesta altura, vão para a zona mais alta das árvores e dos arbustos, de onde raramente descem, sendo por isso vistas poucas vezes. “Tive a sorte de ter uma árvore numa depressão do meu terreno e de ela ter ficado quase à altura dos meus olhos”, conta José Fernandes.
Não se sabe por que razão a castanhinha-das-bétulas poderá estar a aparecer em Vila Real. No entanto, Paula Seixas lança o desafio para que se procure saber mais sobre ela. “Não sendo uma espécie muito vista, valia a pena conhecer a sua função do ponto de vista ecológico. Ela pode ser perfeitamente um bioindicador de um ecossistema, pode ser importante para a sobrevivência do abrunheiro e de outras árvores de fruto, assim como ter uma função importante que neste momento se desconhece.”
Todas estas novas interrogações científicas surgiram simplesmente porque José Agostinho Fernandes gosta de fotografar a fauna e a flora, um interesse que nasceu há cerca de três anos, quando foi convidado para fazer um passeio fotográfico no Alvão. O Programa de Preservação da Biodiversidade promovido pela autarquia de Vila Real tem incentivado os vila-realenses a observarem com mais atenção o que está mesmo ao seu lado e a maior parte das vezes passa despercebido.
“Temos vindo a fazer uma maior sensibilização para a natureza junto da população. Sem estas iniciativas, a variedade de espécies no concelho de Vila Real continuava a existir, mas desconhecida das pessoas”, refere o vereador do ambiente, Adriano Sousa. “É de valorizar que esta descoberta não tenha sido feita por investigadores, mas por uma pessoa que não tem nenhuma ligação com a ciência”, frisa, por sua vez, Paula Seixas.