“É a primeira vez que a TAP me larga assim”

Durante a manhã do primeiro dia de greve na TAP reinou a calma no balcão da companhia, em Lisboa. Houve indignados, mas também quem aproveitasse para fazer turismo.

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A TAP cancelou 72 dos 238 voos programados até às 17h na sequência da greve dos pilotos, anunciou uma porta-voz da companhia aérea, escusando-se a comentar a adesão ao protesto. Foram realizados 164 voos, número que abrange os serviços mínimos e os regressos a Portugal, também incluídos nos serviços mínimos. "Queremos agradecer aos pilotos que hoje vieram trabalhar", declarou, citada pela agência noticiosa Lusa.

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A TAP cancelou 72 dos 238 voos programados até às 17h na sequência da greve dos pilotos, anunciou uma porta-voz da companhia aérea, escusando-se a comentar a adesão ao protesto. Foram realizados 164 voos, número que abrange os serviços mínimos e os regressos a Portugal, também incluídos nos serviços mínimos. "Queremos agradecer aos pilotos que hoje vieram trabalhar", declarou, citada pela agência noticiosa Lusa.

Entre a calma aparente havia no entanto alguns passageiros indignados, como o brasileiro Rolando Küng, que acusou a TAP de “deixar o passageiro por conta própria”. Passageiro frequente da transportadora há 25 anos, Küng, cuja família se divide pelo Brasil e pela Suíça, criticava o facto de não ter ligação para Zurique nesta sexta-feira e de a companhia o ter colocado num voo via Bruxelas no sábado sem lhe pagar as despesas de deslocação e alojamento: “É a primeira vez que a TAP me larga assim”.

Contratempos ao longo dos anos, por “perda de conexão ou problemas técnicos, já tive muitos, mas sempre me deram assistência quando fui obrigado a ficar em Lisboa”. Agora, queixa-se, “o que me estão a dizer é: vai embora, paga do teu bolso e só Deus sabe quando vai ser dado o reembolso”, disse ao PÚBLICO. Dupla frustração para quem, na véspera, esperou “quatro horas nos escritórios da TAP em Fortaleza para ser atendido e tentar resolver a situação”.

Frustradas, indignadas, mas ainda com disposição para sorrir para as câmaras e tirar fotografias ao aparato mediático montado em frente ao balcão da TAP, duas amigas alemãs, que tinham sido avisadas da greve pela companhia de viagens, procuravam saber o que poderá acontecer ao voo em que planeiam regressar a Frankfurt no sábado de manhã, depois de uma semana de férias. “Disseram-nos que temos de vir amanhã, que não têm informação para dar. Mas se calhar vamos ter de procurar outras companhias, porque eu tenho de trabalhar e ela tem uma criança à espera”, contou Khatarina Kay. Voltar a voar na TAP é algo que não está nos planos: “Não nos devolvem o dinheiro, dão-nos um voucher com um voo para usarmos no espaço de um ano. Mas quem é quer um voo de ida?”, questiona.

A verdade é que a greve dos pilotos não incomodou todos na mesma medida. “Queriam [a TAP] marcar-me um voo para amanhã, mas eu pedi-lhes mais um dia para conhecer a cidade e por isso vou só no domingo”, contou a equatoriana Patricia Ontanera, que mora em Miami e vai passar duas semanas em Roma. “Estou de férias, não me importo”, afirmou.

Muitos dos passageiros (vários de nacionalidade francesa e brasileira) que se dirigiram ao balcão de apoio ao cliente procuravam saber o que poderia acontecer aos voos que têm marcados para os próximos dias. Foi o caso de Gilson Cabral, da mulher e do filho pequeno. “Chegámos agora de Cabo Verde, mas no dia 6 temos voo para Amesterdão e de 6 a 14 não temos onde ficar em Lisboa”, contou ao PÚBLICO, enquanto a mulher procurava esclarecimentos junto da TAP. “Se não conseguirmos ir para Amesterdão vai ser complicado, já temos tudo marcado, hotel e bilhetes para atracções, como o Zoo”, contou. Momentos depois, já com a resposta da TAP, a incerteza mantinha-se: “Disseram-nos que não têm informação para nos dar, mas que é possível que até quarta [dia 6] já não haja greve e que por isso não vale a pena mexer nos bilhetes até domingo”.

A família Grisolia, de Belém, chegou a Lisboa num voo da TAP que saiu atrasado uma hora e meia de Fortaleza e perdeu a ligação para Frankfurt das 8h30 da manhã. “Explicaram-nos que o serviço estava lento por causa da greve e agora vamos ter voo só às 14h30. Lugar tem, mas pode atrasar de novo”, queixou-se Sandra Grisolia, calculando que a família só deverá chegar às 23h30 a Atenas, onde pretende passar uma semana, antes de uma estadia de quatro dias em Londres e outros dois em Lisboa. “A gente sempre passa dois, três dias cá, é muito gostoso”, contou. A irmã, Claudia Grisolia Cavalcanti, recorda outra peripécia em Lisboa no passado: “Também perdemos uma ligação e como havia Rock in Rio Lisboa não havia hotéis. Jogaram a gente em Setúbal, mas o motorista perdeu-se”.

Outra família brasileira, os Cunha, de volta ao Rio Grande do Sul depois de 20 dias passados entre Espanha e Portugal, preparava-se para fazer o check in "sem problemas" para o voo de regresso, sem qualquer informação de cancelamento. Souberam da greve por acaso, porque um amigo no Brasil os avisou: “O Paulinho tinha razão”.

Na cafetaria mesmo ao lado do balcão de apoio ao cliente da TAP, uma funcionária comentava a calma aparente do primeiro dia de greve, confessando que a greve costumava ser “boa para o negócio”, porque as pessoas tendem a concentrar-se ali. Mas na manhã de sexta-feira nada, a não ser pelas câmaras de televisão montadas em frente aos balcões, indiciava qualquer tumulto entre a confusão de gente e o movimento habitual de um aeroporto. “Quem é o famoso que tá chegando?”, perguntava uma turista brasileira em passo acelerado a apontar para as câmaras. “Estamos a cobrir o impacto da greve dos pilotos da TAP”, foi a resposta. “Ah. Eu venho de Roma e vou agora para Porto Alegre. Acho que tá tudo bem. Espero não contar para as estatísticas!”