Um equívoco anunciado

Embora com uma crispação inusitada e uma rapidez muito maior do que se poderia prever, a demissão de António Pinto Ribeiro das suas novas funções na Gulbenkian, como coordenador de todos os serviços com actividade de programação cultural – para o qual tinha sido nomeado no princípio de Fevereiro – e como consultor externo com a tarefa de programador do fórum Próximo Futuro, é o desfecho de um equívoco anunciado.

No seu trabalho ao lado de Madalena Perdigão nos Encontros Acarte da Gulbenkian, desde meados dos anos 80, depois na programação da Culturgest (1992-2004) e de seguida novamente na Gulbenkian, no Estado do Mundo e depois no Próximo Futuro, Pinto Ribeiro, mais do que ninguém, impôs a figura do programador, com uma vocação interdisciplinar, cosmopolita e multicultural, mesmo que no tocante a este último ponto seja questionável a sua especial incidência no Brasil, na América Latina e na África negra.

Esta nova figura de coordenador justificava-se?

Há um historial na Gulbenkian de difícil relação entre os diversos serviços, por isso o propósito de pôr a dialogar os que programam de costas voltadas seria louvável. Esqueceu-se todavia que a actividade desses diversos serviços, com o grau de especialização e intensidade que cada um deles acarreta, não é compaginável com uma figura solitária numa megaestrutura como a Gulbenkian. Esse era o equívoco de base na nomeação de Pinto Ribeiro: uma ambivalência entre a figura de coordenador e impulsionador do diálogo entre os serviços e um perfil, de facto, de director-geral.

Mais: embora com hesitações a Gulbenkian vinha dando passos, que só são de aplaudir, no sentido dos directores de serviços serem escolhidos por concurso público internacional. Como seria crível que esses responsáveis tivessem por sua vez de discutir o seu plano de trabalho com alguém de cargo intermédio entre eles e a Administração, o tal coordenador que fora uma escolha directa? Ora é o próprio Pinto Ribeiro que afirma não se rever enquanto “técnico de coordenação” e mesmo, surpreendentemente para alguém com a sua experiência, se queixa de que encontrou já “a maior parte da programação definida” como se desconhecesse que ela se estabelece com dois ou três anos de antecedência.

Com um tal equívoco, o desfecho era previsível.
 

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Embora com uma crispação inusitada e uma rapidez muito maior do que se poderia prever, a demissão de António Pinto Ribeiro das suas novas funções na Gulbenkian, como coordenador de todos os serviços com actividade de programação cultural – para o qual tinha sido nomeado no princípio de Fevereiro – e como consultor externo com a tarefa de programador do fórum Próximo Futuro, é o desfecho de um equívoco anunciado.

No seu trabalho ao lado de Madalena Perdigão nos Encontros Acarte da Gulbenkian, desde meados dos anos 80, depois na programação da Culturgest (1992-2004) e de seguida novamente na Gulbenkian, no Estado do Mundo e depois no Próximo Futuro, Pinto Ribeiro, mais do que ninguém, impôs a figura do programador, com uma vocação interdisciplinar, cosmopolita e multicultural, mesmo que no tocante a este último ponto seja questionável a sua especial incidência no Brasil, na América Latina e na África negra.

Esta nova figura de coordenador justificava-se?

Há um historial na Gulbenkian de difícil relação entre os diversos serviços, por isso o propósito de pôr a dialogar os que programam de costas voltadas seria louvável. Esqueceu-se todavia que a actividade desses diversos serviços, com o grau de especialização e intensidade que cada um deles acarreta, não é compaginável com uma figura solitária numa megaestrutura como a Gulbenkian. Esse era o equívoco de base na nomeação de Pinto Ribeiro: uma ambivalência entre a figura de coordenador e impulsionador do diálogo entre os serviços e um perfil, de facto, de director-geral.

Mais: embora com hesitações a Gulbenkian vinha dando passos, que só são de aplaudir, no sentido dos directores de serviços serem escolhidos por concurso público internacional. Como seria crível que esses responsáveis tivessem por sua vez de discutir o seu plano de trabalho com alguém de cargo intermédio entre eles e a Administração, o tal coordenador que fora uma escolha directa? Ora é o próprio Pinto Ribeiro que afirma não se rever enquanto “técnico de coordenação” e mesmo, surpreendentemente para alguém com a sua experiência, se queixa de que encontrou já “a maior parte da programação definida” como se desconhecesse que ela se estabelece com dois ou três anos de antecedência.

Com um tal equívoco, o desfecho era previsível.