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A liberdade, como o ar, respira-se, mas perde-se dentro de água, dentro de jaulas, dentro de engenhocas modeladas por esses que mandam em nós
Os nossos pais devem estar tão desalentados connosco. Os nossos pais (e avós) hão-de estar a sentir-se como o escritor que pariu um filho que detesta ler. Nós somos os filhos que nunca demonstraram interesse pelo que os nossos antepassados fizeram com as suas vidas, embora sejam recorrentes os jornalistas e os historiadores a bater-nos à porta para saber como viveram os heróis. Nós somos os filhos que deviam orgulhar-se dos pais que tiveram. Nós somos os filhos que deviam envergonhar-se da sua própria geração.
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Os nossos pais devem estar tão desalentados connosco. Os nossos pais (e avós) hão-de estar a sentir-se como o escritor que pariu um filho que detesta ler. Nós somos os filhos que nunca demonstraram interesse pelo que os nossos antepassados fizeram com as suas vidas, embora sejam recorrentes os jornalistas e os historiadores a bater-nos à porta para saber como viveram os heróis. Nós somos os filhos que deviam orgulhar-se dos pais que tiveram. Nós somos os filhos que deviam envergonhar-se da sua própria geração.
Costumo dizer com alguma frequência que Portugal é uma sitcom. Dois dias antes do 25 de Abril — como se fosse possível uma ironia maior que esta – o El País garantia que os partidos do arco de governação (PS, PSD e CDS) estavam a preparar uma lei que controlaria previamente qualquer publicação noticiosa relativa às campanhas eleitorais das próximas eleições legislativas, que acontecerão em Setembro. Trocado por miúdos, era o regresso do lápis azul.
Ao que consta, António Costa e Passos Coelho já terão garantido que a lei da censura não vai para a frente, mas não é isto que me conforta. Assusta saber que continua a haver políticos que não compreendem o funcionamento de uma sociedade democrática, que desconhecem profundamente as raízes históricas do País que governam e, pior ainda, que desrespeitam sem escrúpulos os direitos à liberdade de imprensa e opinião. Os nossos políticos é que precisam de uma censura prévia antes de serem autorizados a mandar nalguma coisa, seja a maior freguesia nacional ou o comando do DVD lá de casa.
Alguém disse um dia que a imprensa é o espelho que um estado usa para se observar (e escrutinar) a si mesmo. E ter governantes que não saibam isto é o mesmo que ter uma pistola apontada à cabeça e meia dúzia de chimpanzés a brincar com o gatilho. Há dias em que acredito profundamente que os nossos estadistas vieram em “charters” da Coreia do Norte. Sugiro a todos os homens e mulheres que fazem da política a sua vida que espetem no espelho da casa de banho este comunicado conjunto dos directores dos órgãos de comunicação social portugueses e que o recitem diariamente como se de um pai-nosso se tratasse.
Se há alguma coisa que tudo isto nos ensina é o facto de não podermos dar a liberdade como garantida. A liberdade, como o ar, respira-se, mas perde-se dentro de água, dentro de jaulas, dentro de engenhocas modeladas por esses que mandam em nós. Por isso mesmo, a liberdade deve ser recordada todos os dias, não só a 25 de Abril, mas todos os dias. Os teus direitos transformam-se em deveres, porque a liberdade é para ser mantida, não apenas para ser vivida. Sê um cidadão melhor, presta atenção ao que te circunda. Vota – vota em pessoas e não em cores, a tua vida não é uma luta religiosa entre Benficas e FC Portos. Esclarece-te e age sempre em consciência. Só assim vencerás a tua legitimidade para reclamar o que é teu. Não envergonhes os teus.