Há um antes e depois do sismo para o património do Nepal
Pelo menos quatro dos sítios classificados como Património da Humanidade pela UNESCO foram atingidos. Templos, pagodes e outro edificado centenário reduzidos a escombros.
O símbolo imediato da destruição causada pelo sismo de magnitude 7,8 na escala de Richter, no sábado, é a histórica torre Dharhara (1832), em Katmandu – agora uma pilha de escombros de tijolo com apenas alguns pedaços da sua estrutura branca visíveis, antes uma obra encomendada pela rainha e um promontório há dez anos reaberto ao turismo ao qual se acedia por uma escada em caracol. Com 60 metros de altura, nela morreram pelo menos 60 das perto de 200 pessoas que lá ficaram presas durante o sismo, que há muito se temia que pudesse atingir violentamente a zona oeste do pequeno país devido à sua posição tectónica de risco. Restam apenas, de acordo com a agência de notícias Reuters, dez metros irregulares do edifício que tinha nove andares e um minarete de bronze datado do século XIX.
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O símbolo imediato da destruição causada pelo sismo de magnitude 7,8 na escala de Richter, no sábado, é a histórica torre Dharhara (1832), em Katmandu – agora uma pilha de escombros de tijolo com apenas alguns pedaços da sua estrutura branca visíveis, antes uma obra encomendada pela rainha e um promontório há dez anos reaberto ao turismo ao qual se acedia por uma escada em caracol. Com 60 metros de altura, nela morreram pelo menos 60 das perto de 200 pessoas que lá ficaram presas durante o sismo, que há muito se temia que pudesse atingir violentamente a zona oeste do pequeno país devido à sua posição tectónica de risco. Restam apenas, de acordo com a agência de notícias Reuters, dez metros irregulares do edifício que tinha nove andares e um minarete de bronze datado do século XIX.
Na praça da torre, o sismo, cujo epicentro se situou a 50 kms de Katmandu, destruiu ainda o templo a Shiva, um pagode majestoso também conhecido como Maju Deval, e outro pagode menor, o Narayan, relata a CNN. Que descreve ainda como agora, entre os destroços e as pedras, um buldózer trabalha entre “testemunhas chocadas e tristíssimas e um sentido de perda insubstituível visual e espiritual”. Locais de culto, mas também de reunião, de comércio local ou de peregrinação para turistas, estes dois templos foram arrasados enquanto outros elementos da praça monumental parecem ter resistido, como é o caso das casas-templo dedicadas a Kumari e a Shiva-Parvati, relata o canal de notícias norte-americano.
Já no sábado, o New York Times dava conta da violência com que foram atingidos quatro dos sete sítios classificados como Património Mundial da Humanidade – o templo de pedra em forma de búzio na praça Durbar de Bhaktapur, a escassos quilómetros da capital, toda a praça do século III Durbar em Patan, pavimentada com tijolos vermelhos, a praça Durbar de Basantapur, onde vivia a família real nepalesa até ao século XIX e por fim um dos mais antigos monumentos budistas nos Himalaias, a stupa de Boudhanath – as stupa são estruturas circulares que albergam relíquias budistas. Esta última, que é não só um santuário budista mas também um local onde convergem refugiados tibetanos, está no entanto envolta em relatos contraditórios. O diário canadiano National Post corrobora o New York Times, escrevendo que ficou praticamente destruída, só restando a sua cúpula, mas a CNN indica esta segunda-feira que foi uma stupa próxima que foi arrasada.
No mesmo local, a CNN faz o apanhado do que terá resistido: o templo Sundari Chowk, o Krishna Mandir (1637), o Bishwa Nath Mandir (século XVII) , guardado por elefantes de pedra, e o pagode Bimsen Mandir (século XVII).
As imagens partilhadas no Twitter por nepaleses e estrangeiros no Nepal mostram isso mesmo: a praça Durbar de Basantapur arrasada, dois dos seus templos são uma pirâmide de escombros. “Parte-me o coração”, twitou o utilizador Funny Gooner. Já a praça de Patan mostra apenas toros de madeira e parte de um pagode de pé, sendo que a estátua dourada do rei Bhupatindra Malla que ali ficava foi também reduzida a pó. A jornalista e realizadora Subina Shrestha, que vive em Katmandu, escreveu esta segunda-feira no Twitter que em Patan são os jovens da cidade que estão a proteger o património arquitectónico. "Não há autoridades para tomar conta da situação", nota.
Katmandu fica no sopé dos Himalaias, um vale onde se concentram os sete locais Património da Humanidade que agregam vários conjuntos e complexos monumentais que são testemunhos do cruzamento de várias civilizações e religiões – do budismo ao hinduísmo, passando pelo tantrismo ou pelo edificado dos Newar (indígenas do vale de Katmandu).
A UNESCO destaca os três palácios históricos em Katmandu, Patan e Bhaktapur, os dois centros hindus (Pashupatinath e Changu Narayan) e os dois centros budistas (Swayambunath e Boudhanath). Já se sabe que as praças Durbar – o nome dado às praças fronteiras a templos no Nepal – das povoações de Katmandu, Patan e Bhaktapur foram afectadas. Só em Katmandu, a Durbar concentra o complexo de Hanuman Dhoka, que inclui o Palácio Real dos reis Malla e da dinastia Shah. Dos complexos religiosos destacam-se, em Swayambhu, o mais antigo monumento budista do vale, uma stupa; em Bauddhanath está a maior stupa do país. Já em Changu Narayan fica um povoado tradicional Newar e também um exemplar, num templo hindu a Vishnu, de uma das mais antigas inscrições da região, datadas do século V. No que toca a Swayambunath, um mosteiro no cimo de uma colina nos arredores da capital e que é conhecido como o “Templo dos Macacos” devido à colónia de animais que ali reside e que atormenta os visitantes, bem como ao templo hindu de Pashupatinath, ainda não se sabe se sofreram danos.
A fragilidade destas estruturas é clara na descrição feita pela UNESCO dos materiais que a compõem: templos “feitos de tijolo cozido, tijolo de adobe [cozido ao sol] e estruturas de madeira”; os povoados Newar são descritos como “únicos” pela sua “ornamentação intrincada” em “tijolo, pedra, madeira e bronze”, exemplos “marcantes” de manufactura e artesania.
Em Maru, também na zona de Katmandu, o templo de Kasthamandap, um dos mais antigos pagodes do Nepal, é agora apenas uma pilha de madeira e pedra. “Estava a acontecer uma campanha de doação de sangue; o sismo aconteceu, aprisionando/matando pessoas”, relatava Kashish Das Shrestha no Twitter no sábado.
“É uma perda irreparável para o Nepal e para o resto do mundo”, disse à AFP o responsável pelo departamento de História e Arqueologia da Universidade de Madras. “O restauro completo não é possível devido aos extensos danos nos locais históricos do Nepal”, atestou P.D Balaji.
No sábado, a directora-geral da UNESCO tinha já enviado condolências e assinalado a perda de vidas e também os “extensos danos, incluindo nos monumentos históricos e edifícios no sítio Património da Humanidade do Vale de Katmandu”, prometendo que a agência das Nações Unidas está a postos para “ajudar o Nepal a reconstruir e a fortalecer a sua resiliência”.