82% dos profissionais consideram que falta dinheiro para tratamento do cancro
Estudo sobre as percepções dos profissionais que tratam o cancro em Portugal mostra que a assimetria no acesso aos cuidados e nos tratamentos disponíveis é também uma das maiories preocupações.
O trabalho, feito em parceria entre a Sociedade Portuguesa de Oncologia e os Encontros da Primavera dedicados ao tema e que decorrem até sábado em Évora, contou com inquéritos distribuídos a 600 profissionais que trabalham na área da oncologia, na maior parte dos casos médicos. Os dados foram recolhidos entre Março e Abril deste ano e as conclusões preliminares mostram que “a maioria dos profissionais não se sente muito confortável com o acesso aos cuidados de saúde e às terapêuticas inovadoras” e têm “uma preocupação muito grande em relação à formação e falta de recursos humanos”, adiantou ao PÚBLICO o oncologista Sérgio Barroso, um dos coordenadores do trabalho.
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O trabalho, feito em parceria entre a Sociedade Portuguesa de Oncologia e os Encontros da Primavera dedicados ao tema e que decorrem até sábado em Évora, contou com inquéritos distribuídos a 600 profissionais que trabalham na área da oncologia, na maior parte dos casos médicos. Os dados foram recolhidos entre Março e Abril deste ano e as conclusões preliminares mostram que “a maioria dos profissionais não se sente muito confortável com o acesso aos cuidados de saúde e às terapêuticas inovadoras” e têm “uma preocupação muito grande em relação à formação e falta de recursos humanos”, adiantou ao PÚBLICO o oncologista Sérgio Barroso, um dos coordenadores do trabalho.
Para 53% dos participantes, o acesso a uma melhor terapêutica é mesmo a primeira preocupação, em segundo lugar surgem as assimetrias regionais e nacionais no acesso a cuidados (referida por 28%) das pessoas e, quase em empate no terceiro lugar, é apontado o investimento em saúde e o acesso a cuidados continuados e paliativos. “Os resultados do inquérito acabam por não nos espantar muito e verificamos que as preocupações são transversais”, admite Sérgio Barroso, que é também director do Serviço de Oncologia do Hospital de Évora.
Numa pergunta mais aberta, os profissionais mostraram-se também apreensivos com a falta de formação continuada ao longo da vida laboral e, se fossem eles a decidir a distribuição das verbas, para 56% dos inquiridos a prioridade passava por permitir o “acesso ao melhor tratamento, precoce e equitativo em todas as regiões do país”. Em 27% dos casos a prioridade iria para os cuidados paliativos e noutros 23% para campanhas de informação e prevenção sobre cancro. Há ainda 74% de profissionais a considerarem que a carência de recursos humanos, seja nos centros de saúde seja nos hospitais, está a colocar entraves à luta contra o cancro. Quase 70% das pessoas apontaram também a inexistência de programas de rastreio organizados como uma falha.
“Uma parte deste desinvestimento é claramente compensado pelo esforço e pela dedicação destes profissionais das diferentes áreas, mas isso tem limites e não é suficiente. Começam-se a sentir essas diferenças”, alerta Sérgio Barroso, que reforça que “temos em Portugal cerca de um terço dos oncologistas da média da europa ocidental, o que é uma carência muito marcada, e há falhas noutras áreas”. “A falta de investimento faz com que a situação seja difícil quando nos comparamos com outros parceiros. Enquanto noutros países há uma facilitação do acesso à investigação e investimento, em Portugal é o contrário”, apontou.
Outra parte do inquérito perguntou precisamente aos profissionais de saúde se concordavam ou discordavam com determinadas ideias e foi possível perceber que 82% sentem que o Governo não investe o necessário na área da oncologia para que os doentes acedam às terapêuticas mais avançadas. Em 64% dos casos as pessoas também discordaram da afirmação de que os doentes estão a ser tratados de acordo com as recomendações internacionais.
Olhando para uma comparação com o que é a realidade europeia, as dúvidas sobre a situação nacional persistem, com 83% das pessoas a discordarem de que em Portugal os doentes que vivem com cancro tenham o melhor tratamento médico independentemente do hospital e com 74% a recusarem que os políticos português dêem a mesma importância ao combate ao cancro que os parceiros europeus. Mais de 70% dos inquiridos também não concordaram que Portugal esteja, à semelhança de outros países europeus, preparado para lidar com o crescimento da incidência de cancro.
“Quando comparamos o que investimos com os resultados estamos nos primeiros lugares da comunidade europeia, mas poderíamos ter resultados ainda melhores e colocar o doente no centro do sistema, o que na prática ainda não acontece e é urgente ao sabermos que em 2020 quase duas em cada três pessoas vão ter a probabilidade de ter cancro ao longo da vida”, sintetiza Sérgio Barroso.