Confrontos entre polícia angolana e seita matam pelo menos 22 pessoas
Mal esclarecido caso motivou trocas de acusações entre o partido governamental MPLA e a oposição. Informações não confirmadas falam em centenas de mortos
O mal esclarecido caso ocorreu no final da semana passada na província do Huambo e terá tido desenvolvimentos nos dias seguintes. Já motivou trocas de acusações entre o partido governamental MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e a oposição.
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O mal esclarecido caso ocorreu no final da semana passada na província do Huambo e terá tido desenvolvimentos nos dias seguintes. Já motivou trocas de acusações entre o partido governamental MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e a oposição.
Na versão da polícia reproduzida pela imprensa angolana, os confrontos ocorreram na quinta-feira 16 de Abril, dia em que a polícia se deslocou a São Pedro Sumé, onde vivem largas centenas, ou milhares, de membros d’ “A luz do mundo”, um grupo milenarista de inspiração cristã, dissidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
A intenção da polícia seria deter o chefe do grupo, identificado como José Julino Kalupeteka, 52 anos. Mas os agentes ter-se-ão deparado com resistência e ocorreram confrontos que se terão prolongado por três horas. Kalupeteka acabou por ser detido.
"Os 13 mortos são franco-atiradores, pertencentes à guarda do Kalupeteka, que tinham por objectivo neutralizar e desestabilizar a operação", afirmou o segundo comandante-geral da Polícia Nacional, Paulo Gaspar de Almeida, citado pela agência de notícias Angop. O procurador-geral da República, João Maira de Sousa, disse, esta quinta-feira, que os polícias mortos estavam munidos de um mandado de captura e foram “cobardemente” atacados à entrada do acampamento d’ “A luz do mundo”.
O governo provincial do Huambo acusou a UNITA de apoiar a seita para criar instabilidade no país e disse que no acampamento foi encontrada propaganda daquela força da oposição. A acusação foi liminarmente rejeitada pelo partido visado, que aponta “graves contradições nos discursos oficiais” sobre o caso e reclama um inquérito parlamentar.
A UNITA denuncia, ao contrário, uma alegada proximidade entre o líder da seita e o governador local, Kundy Paihama, e acusa o MPLA de ter usado o líder da seita para fazer campanha, nas eleições de 2012. Outro partido, a Casa-CE, rejeitou acusações de envolvimento da oposição em actividades d’ “A luz do mundo” e acusou o Governo de ter tido localmente uma relação próxima e contado com a colaboração do grupo de Kalupeteka.
A partir de informações que diz ter obtido junto da população local, a UNITA aponta para a morte de mais de 700 pessoas, o que tem sido negado pelas autoridades. Em entrevista à rádio Voz da América, um activista dos direitos humanos, Ângelo Kapuacha, disse que a zona onde ocorreram os confrontos foi isolada pela polícia e por militares. Mas declarou que há informações de que nos dois dias que se seguiram ao primeiro confronto foram mortas centenas de pessoas e que as perseguições continuaram depois disso.
No início da semana, o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, referiu-se à seita, proibida em 2014, como uma ameaça à paz e à unidade nacional.
Segundo a Angop, “A luz do mundo”, também conhecida apenas por Kalupeteka, foi criada há mais de uma década e tem cerca de 3700 fiéis nas províncias de Huíla, Bié, Huambo, Benguela e Cuanza Sul. Os seus líderes dizem que o mundo acaba a 31 de Dezembro de 2015 e recomendam aos seguidores que vendam os bens e vão viver para as montanhas e florestas.
Em Angola, onde a maioria dos habitantes se declaram católicos, há 83 igrejas, todas cristãs, reconhecidas pelo Estado. Mas, segundo a Angop, o Instituto de Assuntos Religiosos calcula em 1200 o número de grupos religiosos não legalizados.