Espelho quebrado
A longa-metragem colectiva produzida pelo IndieLisboa é uma desilusão que não reflecte a verdadeira identidade do festival
Quatro realizadores recorrentes na programação do Indie tiveram “carta branca” para fazer uma curta-metragem, ambientada em e inspirada por Lisboa: a francesa Marie Losier e a chilena Dominga Sotomayor, que venceram a competição do festival respectivamente em 2011 e 2012, o canadiano Denis Côté e o português Gabriel Abrantes.
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Quatro realizadores recorrentes na programação do Indie tiveram “carta branca” para fazer uma curta-metragem, ambientada em e inspirada por Lisboa: a francesa Marie Losier e a chilena Dominga Sotomayor, que venceram a competição do festival respectivamente em 2011 e 2012, o canadiano Denis Côté e o português Gabriel Abrantes.
Há que dizer que a especificidade dos realizadores não se perdeu na encomenda – são filmes que, estética ou tematicamente, não destoam verdadeiramente das obras individuais de cada um. Mas a diferença entre as suas sensibilidades prova ser irreconciliável no espaço de uma longa, resumindo Aqui, em Lisboa a uma “colagem” aleatória de curtas autónomas que isoladamente também não são especialmente interessantes.
Excursões, a contribuição de Côté, é uma espécie de rally-paper subterrâneo ao sabor da solidão de dois guias turísticos e do som do RED Trio, mas o seu olhar sobre o quotidiano laboral parece acabar no exacto momento em que a dispersão da sua estrutura vai começar a ganhar forma. Formalmente, a mais conseguida é L'Oiseau de la nuit, onde Losier aplica a sua habitual estética super-8-underground a uma fantasmagoria não linear inspirada pelo travesti Fernando Santos que se parece esgotar na própria volúpia das suas imagens.
Do enorme ponto de interrogação que é Los Barcos, do qual se sai sem se perceber exactamente o que Sotomayor procurava, retém-se apenas a presença sóbria de João Canijo por uma vez actor. E sobre a inconsequência absurda chamada Freud und Friends, quanto menos se disser melhor – é Abrantes mais uma vez em roda livre, afogando algumas boas ideias de sátira numa abordagem de provocação trash paredes-meias com o boçal.
Se Aqui, em Lisboa queria ser um “espelho” do Indie, a verdade é que a imagem que mostra está longe de reflectir o que de melhor o festival tem e teve.