Mais de cinco mil já disseram não às metas curriculares do 1.º ciclo
Uma petição online considera que esta novidade introduzida por Crato é uma "atrocidade".
A petição online foi lançada pela mãe de uma aluna do 2.º ano de escolaridade que ao longo do presente ano lectivo se viu confrontada com o que considera ser “uma atrocidade cometida contra os direitos” das crianças. No 1.º ciclo têm entre 6 e 10 anos de idade.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A petição online foi lançada pela mãe de uma aluna do 2.º ano de escolaridade que ao longo do presente ano lectivo se viu confrontada com o que considera ser “uma atrocidade cometida contra os direitos” das crianças. No 1.º ciclo têm entre 6 e 10 anos de idade.
As metas curriculares de Português e Matemática, que entraram em vigor em 2012/2013, são uma das principais alterações introduzidas pelo actual ministro da Educação, Nuno Crato. Estas metas definem o que os alunos devem saber no final de cada ano de escolaridade, estipulando para o efeito objectivos gerais que se desmultiplicam numa série de descritores, onde se pormenoriza o que se espera que os professores tenham ensinado e os alunos aprendido. Para o 1.º ciclo, as metas de Português e Matemática definem um total de 177 objectivos e 703 descritores.
“Como mãe tenho seguido atentamente o percurso escolar da minha filha e foi com alguma surpresa que me apercebi do extenso programa do 2.º ano e das suas metas curriculares completamente desadequadas ao interesse das crianças”, escreve Vânia Azinheira, a promotora da petição, numa carta aberta onde explica as razões que a levaram a esta iniciativa. Constatou também que “o conteúdo programático ao invés de estar a ser leccionado a um ritmo adequado aos alunos, está a ser ‘debitado a alta velocidade’ para que se atinjam os objectivos programáticos e sem qualquer preocupação para com a apreensão e consolidação dos conhecimentos que devem ser adquiridos”.
As associações de professores de Português e Matemática já tinham alertado para este risco quando da entrada em vigor das metas curriculares e dos novos programas criados para as acolher. O de Matemática entrou em vigor em 2013/2014. O de Português esteve até 18 de Abril em consulta pública. Não se sabe ainda quando será homologado.
Nas metas de Português prescreve-se, por exemplo, que um aluno do 1.º ano deve “ler um texto com articulação e entoação razoavelmente correctas e uma velocidade de leitura de, no mínimo, 55 palavras por minuto”. No 2.º ano este patamar já é de “90 palavras por minuto”.
Nas de Matemática estipula-se, entre vários outros descritores, que no 1.º ano um aluno deve saber “utilizar correctamente os termos segmento de recta, extremos do segmento de recta e pontos do segmento de recta”. No 2.º ano já deve saber contar até mil e utilizar fracções “para referir cada uma das partes de um todo dividido respectivamente em duas, três, quatro, cinco, dez, cem e mil partes equivalentes”.
“Estamos a criar crianças que não têm tempo para brincar (…), crianças que ainda agora começaram e já se sentem desmotivadas”, alerta Vânia Azinheira no texto da petição online. Muitos dos mais de cinco mil subscritores são também pais de crianças do 1.º ciclo que acrescentam razões para justificar a alteração das metas curriculares. Há quem garanta, por exemplo, que “com estas metas o insucesso e desinteresse escolar são garantidos”. “Não podemos ter crianças frustradas porque não compreendem textos literários ou conceitos matemáticos desadequados à sua idade. Nem escolas transformadas em centros de treino para exames nacionais. Nem professores de mãos atadas por um programa irrealista. Aprender a gostar da escola é fundamental”, avisa-se noutro dos muitos comentários que acompanham a petição.